Inovação aberta

Por Maria Carolina Abe


Henry Chesbrough, autor do termo "Inovação Aberta" — Foto: Divulgação/Berkeley
Henry Chesbrough, autor do termo "Inovação Aberta" — Foto: Divulgação/Berkeley

Se sua empresa não consegue dar conta de todos os desafios e busca ajuda fora de casa, hoje isso é chamado de “inovação aberta”. O responsável por isso é o economista Henry Chesbrough, que cunhou o termo em seu livro "Inovação Aberta: Como Criar e Lucrar com Tecnologia".

Diz a resenha: “No ambiente rico em informações de hoje, as empresas não podem mais se dar ao luxo de depender exclusivamente de suas próprias ideias para avançar em seus negócios, nem podem restringir suas inovações a um único caminho para o mercado”. E, acredite, isto foi lá em 2003.

O que esperar da inovação aberta 20 anos depois, com o aumento exponencial de informações disponíveis e o recente avanço da inteligência artificial generativa? Em entrevista a Época NEGÓCIOS, Chesbrough, que atua como diretor educacional do Garwood Center para Inovação Corporativa, da Universidade de Berkeley, afirma que a IA ajudará os líderes a identificar mais conhecimentos úteis, mas não é uma panaceia, um remédio para todas as dores do mundo corporativo. “Muitos aspectos humanos e organizacionais da inovação ainda devem ser navegados”, diz ele.

Formado em economia em Yale, com MBA em Stanford e PhD em Berkeley, Chesbrough foi professor adjunto na Harvard Business School e atuou como gerente de produtos e vice-presidente de marketing na Quantum Corporation, uma fabricante de dispositivos e sistemas de armazenamento de dados.

Confira a seguir os principais trechos da entrevista.

Época NEGÓCIOS - Nos últimos meses, a Inteligência Artificial dominou todas as conversas no mundo corporativo. Como você vê a IA impactando o campo da inovação aberta? Existem maneiras específicas como a IA pode aprimorar os processos de inovação?

Henry Chesbrough - A inovação aberta trata de encontrar, conectar, absorver e entregar novos conhecimentos, de fora para dentro da própria organização, e igualmente de dentro da organização para o mundo exterior. A IA ajudará todos a identificar conhecimentos mais úteis, e também pode ajudar as pessoas com conhecimentos úteis a se conectar com outros que precisem desse conhecimento. Mas a IA não é uma panaceia. Esse conhecimento deve ser testado, demonstrado e comprovado em uma aplicação específica. E, em seguida, deve ser escalado para alcançar uma vantagem competitiva. Esses aspectos da inovação também podem ser auxiliados pela IA, mas muitos aspectos humanos e organizacionais da inovação ainda devem ser navegados, mesmo em um mundo de IA generativa.

Como você se interessou inicialmente pelo conceito de inovação aberta, e o que o inspirou a começar a pesquisar e escrever sobre isso?

Costumava trabalhar como gerente na indústria de hardware e passei quase dez anos em uma empresa de discos rígidos, a Quantum. Costumávamos competir com a IBM, que tinha tecnologia e pesquisa muito mais avançadas, uma marca muito mais forte, uma fabricação mais extensa e uma organização de vendas e marketing de classe mundial. No entanto, estávamos ganhando participação de mercado e contratando alguns de seus melhores funcionários, uma estratégia que ganhou a minha atenção. Mais tarde, estudei o caso da Xerox Corporation e seu Palo Alto Research Center (PARC). A Xerox era como a IBM, com pesquisa e tecnologia de classe mundial, vendas e marketing, uma marca global etc. No entanto, ela também estava enfrentando dificuldades. Quando vi esse padrão de empresas fortes lutando para competir com startups, comecei a conceber a inovação aberta.

Quais foram as principais mudanças desde que cunhou o termo Inovação Aberta em 2003?

O foco dos primeiros anos da inovação aberta estava principalmente na colaboração entre duas organizações. Embora isso continue, hoje o campo se expandiu para incluir plataformas e ecossistemas, nos quais dezenas ou até centenas de organizações competem, colaboram e inovam.

Existem desenvolvimentos recentes no campo da inovação aberta que você acha particularmente empolgantes ou notáveis?

Neste ano, o Prêmio Nobel de Química foi concedido a cientistas pioneiros no processo de produção de vacinas de mRNA. Uma dessas cientistas, Katalin Kariko, foi rebaixada por sua universidade porque não estava recebendo muitos recursos. Isso se relaciona a um conceito de inovação aberta chamado de Falso Negativo, no qual um projeto de inovação é considerado ruim devido à falta de adequação ao modelo de negócios da organização, em vez de seu mérito técnico real.

Há vários exemplos de Falso Negativo. Imagine um composto abandonado no desenvolvimento de medicamentos, mas que pode ter grande valor em uma indicação diferente da sua origem, abrindo caminhos na descoberta de medicamentos. Outro exemplo: muitas organizações detêm patentes e as mantêm na prateleira, porque não sustentam o modelo de negócios atual. Essas patentes não utilizadas também podem desencadear novas inovações, se for permitido que elas sejam utilizadas em outros modelos de negócios, ou em outras organizações.

Na sua opinião, quais são os principais impulsionadores por trás da adoção de práticas de inovação aberta por diferentes setores?

O modelo anterior de inovação interna e verticalmente integrada é caro, arriscado e frequentemente não produz resultados. A inovação aberta não garante o sucesso, mas utiliza e compartilha muito mais conhecimento no processo de inovação. Isso pode ajudar a reduzir custos, gerenciar riscos e permitir mais tentativas dentro do mesmo orçamento.

Na sua opinião, quais são os maiores desafios que as empresas enfrentam ao tentar adotar práticas de inovação aberta?

Alguns dos maiores desafios incluem a gestão dos fluxos de conhecimento dentro da organização, entre os silos internos. Pessoas em um grupo ou departamento não compartilham facilmente conhecimento com pessoas em outros grupos ou departamentos, mas essa partilha é essencial para que a inovação aberta funcione eficazmente.

Existem indústrias ou tipos de organizações em que você acredita que a inovação aberta é particularmente adequada? Ou, por outro lado, menos eficaz?

Aconselho as empresas a observarem sua indústria. Onde estão sendo formadas novas startups? Onde as universidades estão desenvolvendo novas tecnologias? Quais empresas estão atraindo jovens? Esses são sinais de mudança, e buscar o que está por trás desses sinais de mudança pode apontar para onde a inovação aberta será mais adequada.

Quais tendências de inovação aberta você prevê para o futuro?

Estamos vendo mais uso de IA na pesquisa em inovação aberta e também uma expansão significativa de software de código aberto na inovação. Acredito que essas tendências convergirão e veremos muitos algoritmos de IA generativa de código aberto em breve.

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