O Poder da Inovação

Por Luiz Serafim

Escritor e músico, com experiência de 30 anos como líder de marketing, inovação e diretor de Comunicação da 3M


 — Foto: Getty Images
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Ao entrar pela porta de novo ano, é comum carregarmos uma lista de resoluções para nosso próximo ciclo.

Há cerca de 4.000 anos, os babilônios teriam sido a primeira civilização a realizar festividades e estabelecer metas de ano novo que, naqueles tempos e região, se iniciava em março, no equinócio de primavera, para celebrar a renovação da vida.

Por milênios, viemos celebrando a virada de calendários, pedindo pela abundância da agricultura e boa vontade de divindades, mas sempre com a esperança dos recomeços e o comprometimento com certas resoluções.

Nossa sociedade transformou a lista de desejos e metas ao longo do tempo, fazendo do contexto de virada de temporada a oportunidade perfeita para balanços do período anterior e definição de novos objetivos, assim como fazemos em nossas organizações.

Se inovação são Pessoas, que tal refletir sobre o que cada um fez em 2023 para ser mais criativo e inovador? Melhor ainda, o que você fará em 2024 para potencializar sua inovação? Qual será sua lista de resoluções para inovar?

Voltando um ano, em 2023 aconteceram várias coisas importantes na minha vida que não foram visualizadas naquele 1º de janeiro. No entanto, ainda que não estivessem na lista formal de objetivos, minha curiosidade, capacidade de abertura ao novo, flexibilidade e busca de autodesenvolvimento estiveram “ligadas” e acabaram me levando para muitas realizações de inovação durante a jornada.

Eu não tinha a certeza de que terminaria minha carreira de 3 décadas na 3M quando os fogos de artifício iluminaram o céu há um ano. Mas claro que já considerava seriamente essa decisão. Mesmo sem ter escrito “sair da minha empresa este ano”, várias dimensões dentro de mim foram se configurando para clamar por mudança.

Ainda que não fosse um ato totalmente consciente, internamente eu já tinha permitido que meu barco flutuasse em direção a outros portos. Nem sempre esses movimentos são lineares e suaves. Depois é que tudo fica mais claro.

Também não escrevi em Post-it que queria “empreender em 2023”. Pelo contrário, passei a vida me julgando um intraempreendedor. Provavelmente, entre goles de espumante, há um ano, estaria inclinado a tentar posição similar em outra empresa global. O que de fato aconteceu foi que decidi acelerar minha carreira de mais de 2 décadas como palestrante, consultor e escritor, e, surpreendentemente, embarquei no projeto de empreender junto com a World Creativity Day.

De algum modo, me preparei para abraçar um cenário totalmente diferente, vivendo com orçamentos, estruturas, velocidades, processos e sonhos de outro universo. Isso tornou a temporada desafiadora, emocionante, plena de motivação e aprendizados.

Também aprendi muitas outras coisas sobre paternidade e sobre inclusão de pessoas com deficiência. Nem preciso repetir que isso também não estava na listinha. Não planejei que queria ser um pai melhor, nem que queria ter uma relação ainda mais positiva com meu filhote, ainda que isso seja desejo constante de todo pai.

Ser pai do Gabriel tem me ensinado demais. Acompanhei seu último ano escolar, fui seu fiel escudeiro nos treinos de bocha paralímpica, participei junto com ele dos campeonatos e aprendemos muito. Perdemos e vencemos, tivemos dias incríveis e outros, muito difíceis. Fortalecemos nossa gigantesca cumplicidade. Multiplicamos o amor, a honestidade e a compaixão entre nós.

Além disso, capinei em agrofloresta, compus meia dúzia de novas músicas, meditei em mosteiro, separei lixo em cooperativa, fiz meu jardim de temperos, experimentei comer insetos, discursei em cerimônia de casamento. Nada disso foi planejado no último réveillon.

Em paralelo, fui impactado por centenas de pessoas e conteúdos inspiradores. Nunca me conectei com tanta gente bacana e tantos projetos incríveis. A gente pode até fazer uma listinha de leitura, dos eventos de inovação, de viagens a fazer, de cafés a tomar. Mas há enorme chance de escutarmos mais do mesmo, ouvir as mesmas pessoas com surradas abordagens para nos acomodarmos a ressoar padrões daquela bolha.

Claro que é importante ler "best sellers", assistir à série que todo mundo viu, acompanhar a influenciadora com milhões de seguidores, ouvir o palestrante famoso pela quinta vez. Entretanto, cabe a nós garimpar perspectivas menos óbvias, vozes poderosas escondidas, práticas incomuns. Foi assim que aconteceu comigo neste ano, adotando indicações de amigos, sugestões de inteligências artificiais, efeitos de serendipidade, ações de minha própria curiosidade e procura ativa. A gente precisa estar preparado e aberto para aproveitar os acontecimentos “espontâneos” da vida.

Então, não vale nada a tal lista das resoluções de ano novo para inovar? Não ajuda se escrevermos o que podemos fazer para acelerar potenciais de criatividade e talentos de inovação? Claro que ajuda! A virada tem enorme simbolismo e oferece um convite para reflexão e planejamento. É um tremendo exercício positivo pensar em metas concretas para nosso desenvolvimento com poder para nos colocar em movimento.

Estabelecer objetivos pessoais é essencial para o crescimento humano, orienta nosso comportamento, atua para nos adaptarmos às situações e contribui fortemente para alcançarmos um estado de maior bem-estar ao longo da vida.

Tudo ótimo se comprometer a voltar para a academia, estudar chinês, curtir finalmente a viagem ao Jalapão, fazer aulas de clown, se matricular no MBA de IA ou ESG, se entregar a um retiro espiritual, correr sua primeira maratona ou tirar a poeira do violão. São atividades incríveis para a saúde integral, autoestima, criatividade, repertório, relações sociais, autoconfiança e tanto mais.

Entretanto, ainda mais importante do que redigir uma lista de objetivos “smart” para o novo ano, é criar as condições dentro de nós para nossa evolução gradual, menos cartesiana e mais profunda.

As melhores resoluções de ano novo consistem em ganhar consciência, ativar a disposição para a reinvenção, se engajar em processos de expansão, identificar forças e talentos, aprender a escutar, observar e colaborar ainda mais, ser mais humilde, entender as coisas que têm maior significado na sua vida nessa altura do campeonato.

Como lembra a boa música dos Titãs, entrar em novo ciclo também convida a medirmos se o “pulso ainda pulsa” no lugar em que estamos, nas missões que conduzimos, nas relações com as pessoas que nos cercam.

Como Inovação são Pessoas, desejo que a nova temporada seja abundante em situações que lhe proporcionem autoconhecimento, aprendizados, experiências, conexões, conquistas e até frustrações pedagógicas e fortalecedoras. Por que não?

Independentemente do que prometeu na sua listinha de resoluções, sempre é tempo de abraçar algumas resoluções menos tangíveis, porém mais transformadoras. Que tal gerar a intencionalidade de se comprometer com maior abertura para abandonar certezas, ter mais coragem para revisar perspectivas e aplicar mudanças, nutrir a flexibilidade para considerar outros pontos de vista e estimular a curiosidade para experimentar as novidades e oportunidades que surgem ao longo de todo o ano?

Com essas resoluções, você poderá tornar o novo ano um ciclo fértil de reinvenção e transformação pessoal, levando consequentemente esse poder para inovar junto com sua equipe, dentro das organizações, em qualquer parte do seu mundo.

Que venha o ano novo com muita criatividade, empreendedorismo e inovação!

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