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Por Marcelo Queiroz*


 — Foto: Agência Brasil
— Foto: Agência Brasil

De “é débito ou crédito?” para “é por aproximação?” e, em breve, “é em Real Digital?”. Anotem isso, ainda vamos acompanhar essa transformação nos próximos anos. Para todos que se surpreenderam com a praticidade do Pix há pouco mais de dois anos, a promessa de uma nova moeda soa como uma ótima oportunidade de avançarmos para um novo nível de transformação digital no varejo, na medida em que unimos forças com novas tecnologias e temos acesso a serviços financeiros de forma mais fácil e acessível. No entanto, isso ainda é a ponta do iceberg -- o que nos faz refletir: o que o varejo pode esperar do Real Digital?

Antes de mais nada, é preciso destacar que o Banco Central do Brasil está dando um passo importante ao explorar o potencial da tecnologia para oferecer uma forma segura e eficiente de digitalização financeira. Do ponto de vista de mercado, está claro que investir em uma nova moeda digital pode trazer diversos benefícios, tanto para varejistas como para consumidores. Aqui falo principalmente sobre a capacidade de gerar maior agilidade em transações complexas, como, por exemplo, compra e venda de carros e apartamentos, já que a confirmação será em poucos segundos, trazendo para os lojistas mais eficiência e rapidez, além de, claro, mais segurança, visto que a estrutura digital da moeda está sendo projetada para prevenir fraudes e ataques cibernéticos.

Nesse cenário, você pode se perguntar o que difere a nova moeda do Pix, e a resposta é simples: enquanto o Pix foi criado para ser um sistema de transferência instantânea, somado com outros meios de pagamento tradicionais, o Real Digital é uma moeda virtual que permite transações programáveis e mais inteligentes, que deve coexistir com o dinheiro físico e o próprio Pix, sendo ainda mais transparente nas transações.

Já a título de comparação, diferentemente do que muitos pensam, o Real Digital também não deve ser entendido como uma criptomoeda, mas, sim, como uma moeda segura e regulada, pelo Banco Central, de pagamento digital, o que significa que ele não tem as mesmas características de investimento nem apresenta o mesmo risco de volatilidade que as criptomoedas, ou seja, valerá sempre o mesmo que o real físico.

Por fim, há também um benefício do ponto de vista global. Aqui quero chamar a atenção sobre a possibilidade de uso do Real Digital em qualquer lugar do mundo sem a necessidade de conversão ou pagamento de taxas de câmbio, o que inclui transações fora do Brasil, geralmente burocráticas e cheias de documentação. Essa internacionalização é essencial para a integração econômica global e deve gerar oportunidades para empresas brasileiras fora do país. Além disso, com a efetivação da moeda, não será mais necessário produzir, transportar e armazenar dinheiro físico, o que pode gerar economias significativas tanto para o governo quanto para os bancos, já que a produção e circulação de moedas e cédulas custam muito dinheiro.

Vale ressaltar que todos esses novos modelos de negócios possíveis a partir da expansão do Real Digital abrem espaço para o surgimento de novos golpes e fraudes, ainda desconhecidos. Por estar envolvido em parte importante dos testes envolvendo a moeda, sei que a utilização da tecnologia blockchain contribui para a prevenção de fraudes e ataques cibernéticos em transações financeiras, o que não exclui o fato de que a implementação da moeda precisa ser realizada com cautela e transparência, em todas as suas fases. E isso parte, também, da nossa responsabilidade trabalhando em conjunto com as instituições financeiras e o Banco Central para garantir mais segurança e integridade das transações, com soluções que aumentem a confiança na digitalização financeira no Brasil.

O Real Digital será uma ótima oportunidade para as empresas inovarem e se destacarem no mercado, ao mesmo tempo que pode representar um desafio para aquelas que não estiverem preparadas. Acredito que a tecnologia distribuída e a digitalização da economia são tendências importantes que irão mudar a forma como as pessoas realizam transações financeiras em todo o mundo, e estamos ansiosos para desempenhar um papel fundamental neste processo ao lado de companhias tão inovadoras.

*Marcelo Queiroz é head de Novos Negócios da ClearSale

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