Cocriando o Futuro

Por Marco Stefanini

Marco Stefanini é fundador e CEO Global do Grupo Stefanini, referência em soluções digitais


 — Foto: Getty Images
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Com a chegada de um novo ano, vem também a retrospectiva do que ganhou os holofotes ao longo dos 365 dias e quais as principais previsões para 2024. Sem dúvida, a inteligência artificial generativa liderou as discussões corporativas e pessoais em 2023 e tende a ser a grande estrela no próximo ano, porém de uma forma diferente. De aprendizados, testes e implementações – com ou sem outras tecnologias de IA –, as versões generativas estarão em constante evolução e deverão mostrar resultados práticos em diferentes setores da economia. O retorno sobre o investimento e a geração de novas oportunidades com a IA estarão no foco da maioria dos CEOs.

Seja na medicina, na indústria, no setor financeiro, no marketing, na área de beleza ou em qualquer outro setor, a IA transforma a maneira como fazemos negócios, tomamos decisões e nos relacionamos com o mundo. À medida que a presença da inteligência artificial se intensifica, torna-se cada vez mais imperativo preparar profissionais para atuar nesse cenário.

E, para que essa transformação aconteça no sentido de que mais pessoas possam usar a IA como uma aliada em suas atividades, a educação também deve mudar para que os alunos, desde cedo, aprendam com as novas tecnologias e passem a incorporá-las ao longo de sua vida acadêmica e profissional. Se hoje o questionamento maior é se nosso trabalho será substituído pela IA, arrisco a dizer que não. O que vai acontecer, dependendo da função, é que as pessoas perderão espaço para outras que sabem usar bem a inteligência artificial.

A educação deve se adaptar para abranger essas possibilidades e integrá-las de forma positiva em toda a jornada acadêmica. A mudança beneficia não apenas os alunos, mas também os professores, que podem delegar atividades repetitivas para sistemas alimentados com IA liberando tempo para se aprimorarem em suas áreas de interesse e desenvolverem conteúdos personalizados. Essa abordagem estimula a criatividade, fomenta a formação de novos talentos e representa um novo paradigma educacional em sinergia com as demandas do mercado de trabalho do futuro.

A formação de mais profissionais em STEM (Ciência, Tecnologia, Engenharia e Matemática) é crucial para que o Brasil possa se tornar mais competitivo e assumir um novo patamar em pesquisa e desenvolvimento, especialmente considerando o potencial impacto da inteligência artificial e outras tecnologias emergentes. Os dados do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) e do Sistema de Avaliação do Ensino Básico (Saeb) destacam a necessidade urgente de melhorar a qualidade do ensino em matemática e ciências, áreas fundamentais para o desenvolvimento de competências em STEM.

Os resultados médios do Pisa de 2022 mostram que menos de 50% dos alunos atingiram o nível mínimo de aprendizado em matemática e ciências. Realizado antes da pandemia, o levantamento do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) indica que 95% dos estudantes que concluem o ensino público no Brasil não possuem o conhecimento esperado em matemática. Apenas 5% deles conseguiram, por exemplo, no 3º ano do ensino médio, resolver problemas usando probabilidade ou o Teorema de Pitágoras.

Para as instituições de ensino, reavaliar os currículos e programas de formação é essencial para garantir que os estudantes estejam preparados para atuar no cenário impulsionado pela inteligência artificial. Integrar a IA de forma transversal em cursos universitários e de negócios é um passo importante para avançarmos em um cenário cada vez mais dinâmico e digital. Isso proporcionará aos alunos a oportunidade de adquirir habilidades (soft skills) em análise de dados e tomada de decisões com base neles, aprendizado de máquina e ética em inteligência artificial. Dessa forma, estarão mais bem preparados para atuar em ambientes onde a IA avança e ganha maturidade.

Além disso, as empresas desempenham um papel fundamental na preparação da força de trabalho para a era da inteligência artificial. Investir na capacitação dos funcionários em IA e incentivar a aprendizagem contínua – lifelong learning – são essenciais para garantir que as equipes estejam preparadas para enfrentar os desafios e aproveitar as oportunidades oferecidas por essa tecnologia em constante evolução.

As parcerias entre iniciativa privada, meio acadêmico e governo também podem ajudar a acelerar o desenvolvimento e a disseminação do conhecimento em IA. Essa colaboração pode levar a avanços significativos em áreas como saúde, mobilidade, energia e segurança, impactando positivamente a sociedade como um todo.

Uma força de trabalho preparada para atuar com inteligência artificial e outras tecnologias emergentes não apenas fortalecerá a competitividade do Brasil, mas também contribuirá para a inovação e o progresso em várias áreas. Portanto, incentivar a formação em STEM e integrar a inteligência artificial na educação e no ambiente corporativo devem ser encaradas como prioridades para o país, a fim de preparar a próxima geração de profissionais para os desafios e oportunidades do futuro.

*Marco Stefanini é fundador e CEO Global do Grupo Stefanini, referência em soluções digitais.

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