50 + vida e trabalho

Por Maria Tereza Gomes


Petronilha Silveira, 83, aderiu à ginástica para o cérebro — Foto: Arquivo pessoal
Petronilha Silveira, 83, aderiu à ginástica para o cérebro — Foto: Arquivo pessoal

Petronilha Silveira, conhecida como Nena, tem 83 anos. Quando o marido morreu, há onze anos, ela se mudou do Balneário Camboriú, Santa Catarina, para a capital paulista para ficar perto dos três filhos e netos. Com espírito independente e com boa saúde, passou a morar sozinha. Há alguns anos, porém, começou a perceber esquecimentos em coisas corriqueiras do dia a dia. Um deles era comum: quando ia preparar o almoço, com frequência deixava o refogado de cebola queimar. Logo Nena começou a temer estar com Alzheimer, doença que acometeu sua mãe. “Tenho medo de ter também”, me diz numa entrevista por telefone. Tudo começou a mudar há cerca de um ano, quando a filha, a empreendedora Elizabeth Peart, recomendou que começasse a frequentar o curso de ginástica para o cérebro conhecido como Método Supera.

“Descobri que meu problema era falta de foco: eu colocava a cebola no fogo e me distraía lavando a salada ou fazendo outras coisas na cozinha”, diz Nena. Os exercícios para desenvolver o foco é um das principais linhas do treinamento da empresa criada em 2006 em São José dos Campos, interior de São Paulo, que se autointitula “a primeira rede de escolas de ginástica para o cérebro da América Latina”. O desenvolvimento da memória também é parte das aulas de duas horas, com intervalo para o café, que Nena faz uma vez por semana numa das mais de 300 unidades franqueadas da rede. Uma das ferramentas usadas pelos professores é o ábaco, o antigo instrumento de cálculo utilizado para operações matemáticas básicas, como adição, subtração, multiplicação e divisão. “Precisa prestar atenção na conta para não errar,” diz Nena, que agora aprendeu a ficar de olho na cebola em vez de fazer duas coisas ao mesmo tempo.

Além do ábaco, Nena faz exercícios de Sudoku, o jogo de quebra-cabeça numérico, bastante popular em todo o mundo, que estimula o raciocínio lógico e a habilidade de resolver problemas. Jogos, leituras e lição de casa completam, digamos, a grade curricular. O que ela e seus onze colegas de turma entre 70 e 89 anos fazem é estimular as funções cognitivas, como memória, foco, raciocínio e criatividade. “Participar e investir em programas de estimulação cognitiva não apenas representa uma estratégia eficaz para prevenir os riscos da senilidade, mas também possibilita uma abordagem global e centrada na pessoa para promover o envelhecimento saudável e ativo, com autonomia e independência no decorrer dos anos de vida”, escrevem as gerontólogas Thais Bento Lima da Silva, diretora científica da Associação Brasileira de Gerontologia, e Laydiane Alves Costa, membro do Grupo de Estudos em Treino Cognitivo (GETEC), em artigo sobre o tema (ambas dão assessoria científica para o Supera).

É preciso dizer que o método Supera não foi criado para pessoas como eu, uma desmemoriada contumaz com idade avançada, e que deveria fazer como Nena e aderir aos exercícios para o cérebro. O Supera foi criado pelo engenheiro do ITA Antônio Carlos Guarini Perpétuo para resolver um problema do filho, que tinha dificuldades de concentração na escola. (A empresa foi procurada, mas não respondeu aos pedidos de entrevista). Atualmente, devido à demanda de todas as idades, as turmas são divididas por faixa etária, com alunos que seguem juntos pelo tempo que quiserem. Nena tem sido basicamente os mesmos colegas desde que começou: três homens e nove mulheres. “As aulas são divertidas, a gente conversa bastante, faz exercícios em grupos menores e ninguém corrige ou dá nota. A professora diz para olharmos os acertos”, diz. “Eu percebo que melhorei.”

*Maria Tereza Gomes é jornalista, mestre em administração de empresas pela FEA-USP, CEO da Jabuticaba Conteúdo e mediadora do podcast “Mulheres de 50”

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