Negócios

Por Jonathan Pereira (@jonathanpereira_82)


Notando a falta de referências em blocos 3D para arquitetos e decoradores desenvolverem seus projetos, os então estudantes de arquitetura Mariana Macedo e Marcelo Martins basearam seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) na criação de uma plataforma que resolvesse essa lacuna. A dupla se uniu ao economista Matheus Melo para criar o Casoca, site que, em quatro anos, transformou-se numa referência na área.

Como um TCC de arquitetura virou um negócio atraente e lucrativo — Foto: Energepic.com/Pexels
Como um TCC de arquitetura virou um negócio atraente e lucrativo — Foto: Energepic.com/Pexels

Com números que impressionam - 170 mil inscritos, 28 milhões de visualizações de página e 2,7 milhões de acessos em 2022, sendo considerado o terceiro site mais relevante para mobiliário na internet no Brasil, - o Casoca pretende dar um passo ainda maior em 2023, ampliando a atuação para a América Latina.

Em entrevista exclusiva à Casa Vogue, Mariana e Matheus falam detalhadamente sobre a plataforma, os desafios e oportunidades que encontraram para a implantação e os planos para crescer ainda mais. Confira:

O economista Matheus Melo e a arquiteta Mariana Macedo, dois dos sócios no Casoca — Foto: Divulgação
O economista Matheus Melo e a arquiteta Mariana Macedo, dois dos sócios no Casoca — Foto: Divulgação

Casa Vogue: Como surgiu a ideia do projeto?
Mariana:
Eu fiz o curso de arquitetura mais ou menos até a metade na UFMG. No Ciências Sem Fronteiras fiquei em Nova York, na Parsons (School of Design), que é a maior faculdade de design dos Estados Unidos, e lá abriu muito a minha cabeça para o mundo dos negócios e para design de produtos. Quando voltei e cheguei no TCC, tinha essa visão de que eu queria ir além de um projeto convencional. Eu me inscrevi em um programa no núcleo de empreendedorismo da USP e então fui orientada também por eles. Vi que muitos designers que tinham acabado de criar produtos tinham dificuldade de colocá-los em algum lugar para o mercado conhecer. Ao mesmo tempo, enquanto eu estava trabalhando em um escritório de arquitetura, também via o problema dos arquitetos de encontrarem peças de design para usar nos projetos, já que nem sempre o que estava sendo representado no 3D do escritório era com produtos reais. Fiz mais de 100 entrevistas com arquitetos, designers, lojistas, fabricantes e vi essa falta de comunicação entre os dois lados: o arquiteto tinha dificuldade de encontrar e representar um produto, enquanto o fabricante ou designer não conseguia mostrar o produto com facilidade para os profissionais encontrarem e utilizarem. Fui me direcionando para encontrar uma solução para isso e desenhando essa plataforma, um ambiente online onde essa comunicação seria facilitada, um portal onde as marcas e os designers das lojas conseguissem exibir esses catálogos de forma prática, sempre trazendo arquivos 3D. Isso foi a chave para o nosso crescimento tão rápido.

CV: Por quê?
Mariana: As marcas nem sempre entendiam ou tinham conhecimento do processo de o arquiteto usar arquivo 3D para produzir um render, um projeto realista de um ambiente, e o arquiteto também sentia que não tinha muito contato com as marcas para contar isso para elas. Sempre tinha aquela questão de ir até a loja, conhecer o showroom, participar de algum evento para conhecer os lançamentos. Mas, de fato, quem estava projetando ali dentro do escritório nem sempre estava disponível para ir no evento, conhecer os produtos, então tinha muito essa falta de comunicação. Com essas duas orientações, fui criando. Conheci o Matheus, que tinha um site de venda de produtos online e conversamos sobre ter arquivos 3D para os profissionais que estão na plataforma utilizarem em seus projetos.
Matheus: A ideia que eu tinha já chamava Casoca, mas estava no início, era digitalizar as lojas físicas justamente porque o arquiteto e o cliente não conseguiam ter acesso a um catálogo online. A Mari chegou e falou: 'ninguém vai comprar. Isso não vai funcionar como e-commerce. O arquiteto efetivamente vai levar o cliente para dentro de uma loja, mas ele vai passar o dia inteiro no site, descobrindo o que tem dentro das lojas'. Faltava um detalhe: para ele usar esse produto no projeto, precisava do bloco 3D para fazer a concepção. Aí, ela ofereceu essa ideia de fazer bloco 3D e colocar os produtos. Vimos que as coisas estavam fazendo sentido: tinham muitos arquitetos acessando o site, mas realmente não tinha o tal do bloco 3D. Foi o ponto zero para fazer uma plataforma para arquitetos. A gente formatou essa ideia e falou: 'vamos em frente'.

Site transformou-se em ferramenta de pesquisa para arquitetos — Foto: Divulgação
Site transformou-se em ferramenta de pesquisa para arquitetos — Foto: Divulgação

CV: E o que fizeram a partir daí?
Matheus:
No primeiro ano a gente não tinha investidor, nada. Basicamente ligávamos para as indústrias, falando: ‘olha, vocês têm blocos 3D?', Elas respondiam: ‘Mas o que é bloco 3D? O meu lojista já pediu, eu não entendo muito bem'. A gente explicava: ‘É um arquivo desenhado dentro do SketchUp para o arquiteto. Para um projeto, sempre vai precisar disso’. Começamos a educar as indústrias, de que elas precisavam fornecer aquilo que os lojistas ofereciam para os arquitetos. Essa ideia foi colando de verdade. Conseguimos um volume até alto de projetos ali.
Mariana: A gente fez um trabalho de educar o mercado neste primeiro ano, mostrando a importância disso, dizendo: ‘olha, todos os dias, os arquitetos precisam representar ali em 3D o que eles estão pensando para mostrar para o cliente, que se encanta com a imagem'.

CV: Como o projeto expandiu?
Mariana: No 'boca a boca', os arquitetos foram descobrindo e contando para o outro. Nosso crescimento inicial é muito orgânico e exponencial. Esse ponto de eu e o Marcelo sermos arquitetos e de o Mateus ser familiarizado com o assunto foi fundamental tanto para explicar para as marcas a importância e o processo de projetos, quanto como funciona o trabalho dentro de um escritório. Deixamos muito claro que somos uma comunidade, que entendemos o problema que eles tinham e estávamos ali para para resolver isso de alguma forma.
Matheus: Hoje tem mais de 32 mil estudantes de arquitetura dentro da plataforma. Descobrimos que os professores das faculdades de arquitetura estão falando sobre o Casoca.

Os arquitetos Marcelo Martins e Mariana Macedo desenvolveram o Casoca no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da UFMG — Foto: Divulgação
Os arquitetos Marcelo Martins e Mariana Macedo desenvolveram o Casoca no Trabalho de Conclusão de Curso (TCC) da UFMG — Foto: Divulgação

CV: Quais quesitos fizeram o Casoca tornar-se referência?
Mariana:
Tivemos um foco muito direcionado. O bloco 3D parece simples, mas faz toda a diferença, tanto para o processo do arquiteto quanto para a marca. Temos um catálogo com todos os produtos com o arquivo 3D, as informações, as medidas, a foto do produto, nosso padrão de qualidade é muito alto. A gente verifica todas as informações, faz essa curadoria para o arquiteto, e isso ajuda muito ele a economizar tempo. Esse é o nosso maior valor para o profissional: ele conseguir fazer um projeto mais rápido e mais assertivo para o cliente.
Matheus: No Casoca colocamos a regra de só cadastrar um produto se ele ainda estiver em linha no mercado brasileiro. Toda vez que a marca tira o produto de linha, a gente desabilita o produto. Com esse detalhe, os arquitetos foram sacando que, em qualquer site, não dá para saber o que está no mercado, e no Casoca tem o catálogo atual da marca, isso faz total diferença. Se deixar um produto antigo e o arquiteto colocar no projeto, o cliente implica que quer igual, mas já não tem. Além disso, em todas as nossas equipes, como a de marketing e a de vendas, tem arquitetos, e tudo é muito feito com a cabeça do usuário. Pode surgir algum outro site bonitão, mas a navegabilidade aqui é melhor, porque quem está pensando na navegabilidade é arquiteto.

CV: Com isso, que mudanças vocês notaram?
Matheus:
Tirou um pouco do vício de só olhar para o arquiteto mais velho, que já está consolidado no mercado. Toda loja, toda marca, toda a indústria sempre focava naquele arquiteto, que é o dono do escritório. A gente mostrou que quem está colocando o produto no dia a dia para dentro do projeto não é o dono do escritório, é o estagiário dele, o arquiteto júnior, uma equipe de uns cinco arquitetos bem mais jovens que estão o dia inteiro mexendo com catálogo e têm esse poder. Depois vem o dono, que diz se gostou, se troca ou não. Mas se ele tiver gostado, vai o que o estagiário escolheu mesmo. O cliente vai ver uma imagem com aquilo que acaba sendo sendo escolhido para o projeto. A nossa visão foi muito de conseguir levar o dia a dia do que que acontecia dentro do escritório para dentro de uma ferramenta. E as marcas foram vendo que isso funcionava.

CV: O que mais desenvolveram nesse período?
Matheus:
Fomos criando outros pontos para levar o conteúdo de uma marca para o profissional. A gente abriu, por exemplo, a Universidade Casoca, que é um canal de conteúdo. Depois teve a fase do podcast, levando histórias de sucesso de arquitetos. Deu muito certo, o podcast entrou em 28º lugar no Spotify, os arquitetos ouviam, dentro do carro ou enquanto projetavam, a história de como outro colega chegou ao sucesso. Criamos alguns canais e linhas de comunicação que não eram agressivas para o profissional, por mais que tivessem algum nível de publicidade. Sempre optamos pelo usuário, o arquiteto.

Arquitetos encontram informações sobre os produtos na plataforma — Foto: Divulgação
Arquitetos encontram informações sobre os produtos na plataforma — Foto: Divulgação

CV: Quais são os números do Casoca hoje?
Matheus: A newsletter, que até hoje é assinada pela Mari e feita por uma equipe interna de redação, cai na caixa de entrada de 137 mil profissionais inscritos. Temos 170 mil usuários cadastrados, entre arquitetos, designer de interiores, estudantes de arquitetura e algumas profissões correlacionadas que acessam também, como engenharia e construtores. A gente bateu esse mês (de março) mais de 3 milhões de visualizações de página e estamos no ranking do Google como terceiro site mais ranqueado pelo similar web para mobiliário. Temos mais de cinco sessões por mês em usuários recorrentes: é um site que o usuário acessa mais de uma vez na semana, uma ferramenta de trabalho mesmo. A maioria tem ele salvo na barra de favoritos, consultando quando vai pensar no projeto ou para ver detalhes. Até hoje 90% do nosso tráfego é orgânico.

CV: E as estratégias comerciais?
Matheus: O Casoca é uma ferramenta de assinatura para as marcas, elas pagam para exibir catálogos e ter acesso a informações de relatórios, podem comprar mídia também. Então a gente tem produtos de banners, aparição em newsletter, em páginas de lançamento, de inserção no podcast, inserção na universidade... Mapeamos dados desde o início, mas sem dar contato de arquiteto para as indústrias. Rodamos pesquisa sobre um setor específico e conseguimos dar para as marcas um termômetro de como está o mercado, como ela está posicionada, os produtos mais utilizados em cada estado, em cada cidade, quantos arquitetos estavam utilizando... Quando a marca lançava um catálogo novo, ela punha lá e via exatamente qual produto que subia no ranking, como um teste de mercado mesmo. Isso foi superimportante, porque esse é um mercado que não tem dados.

CV: Que feedback receberam dos profissionais da área?
Mariana: Arquitetos nos disseram que estavam desanimados com arquitetura porque não sabiam o que fazer, que tem pouca inovação, e que abrimos um novo mundo na arquitetura. Até então só os arquitetos famosos eram convidados para as eventos, o arquiteto que estava dentro do escritório não tinha muito conhecimento, muito acesso aos novos produtos, às novidades do mercado. Fico muito feliz de proporcionar isso para os que estão no nosso time hoje, de trabalhar com arquitetura, com inovação, com tecnologia e tentar mudar um pouquinho o mercado, a forma como as coisas funcionavam.

CV: Quais os planos para esse ano?
Matheus:
Primeiro queríamos ser o maior no Brasil, uma referência no país. Hoje a gente sabe que dois em cada 3 profissionais usam o Casoca como ferramenta. Estamos com planos de internacionalizar a plataforma, investigando qual o melhor lugar para a gente. Conversando com as indústrias do setor, descobrimos que na América Latina os produtos brasileiros, que nós já temos cadastrados, já estão. Então é fazer a seleção dos produtos que chegam até cada país para liberar o acesso lá.

Mais recente Próxima Novo hub brasileiro liga startups de construção e habitação a empresas
Mais do Casa Vogue

O distrito criativo tem arquitetura de interiores com influências brasileiras e da estética das casas espalhadas por grandes cidades em todo o mundo, como Berlim, Roma, Barcelona e Nova York

Por dentro da recém-inaugurada Soho House São Paulo, na Cidade Matarazzo

A marca holandesa Hunter Douglas, especialista no segmento de cortinas, persianas e coberturas, aposta na tecnologia para transformar a relação entre os espaços

Esta peça é o segredo para promover bem-estar e ampliar a conexão com o exterior em ambientes internos

O doce leva leite condensado, milho e canela! Veja tudo o que você precisa para não errar

Aprenda uma receita de canjica rápida e deliciosa

De acordo com a arquiteta Carolina Munhoz, integração estética, ergonomia, iluminação, organização e privacidade são os cinco pontos chave para construir um ambiente perfeito

Home office na sala: dicas e ideias para equilibrar o espaço de trabalho e relaxamento

Com edifícios antigos e paisagens pitorescas, estas cidades encantam com seus ares de épocas passadas

7 cidades lindas que parecem congeladas no tempo

Com pouco mais de 100 m², a residência possui três quartos, dois banheiros, garagem e quintal de 300 m²

Casa à venda nos EUA gera polêmica: quem comprar só poderá se mudar depois de 30 anos

A residência em Alphaville, em São Paulo, foi repaginada pelo escritório Fantato Nitoli Arquitetura

Reforma deixa casa de 500 m² mais iluminada e arejada

Nem casa, nem trabalho: o conceito de terceiro lugar tem como premissa espaços públicos onde é possível estabelecer vínculos e encontrar conforto para a mente e o coração

Terceiro lugar: 5 criativos revelam locais em São Paulo onde a conexão afetiva prevalece

Aquecedor, ninho de berço e mais – veja produtos a partir de R$48,98

8 itens para deixar o quarto do bebê quentinho no inverno

A Mega Tirolesa terá 3,4 km de extensão e ficará na cidade de Socorro, com início do trajeto localizado no Pico da Cascavel

São Paulo terá a maior tirolesa do mundo