Arte

Por Rafael Belém (@rafaelrodbelem) — de Água Preta, PE


Museu a céu aberto em Pernambuco ganha obra permanente de Alfredo Jaar — Foto: Andréa Rêgo Barros/Divulgação
Museu a céu aberto em Pernambuco ganha obra permanente de Alfredo Jaar — Foto: Andréa Rêgo Barros/Divulgação

Foi na Zona da Mata de Pernambuco que o artista chileno Alfredo Jaar encontrou o melhor lar para uma de suas obras-protesto. A instalação Claro-Escuro (2015), que traz a frase do filósofo italiano Antonio Gramsci num letreiro neón verde, é a mais nova atração da Usina de Arte, museu a céu aberto instalado nas dependências da antiga Usina Santa Terezina, no município de Água Preta, a 150 km de Recife. O local, que chegou a abrigar a maior destilaria de álcool do Brasil na década de 1950, agora se consolida no circuito de arte brasileiro com a novidade internacional em seu acervo.

Instalada nas ruínas do edifício, a frase "O velho mundo está morrendo, o novo tarda a nascer. Nesse claro-escuro, surgem os monstros" ilumina as redondezas com palavras que ecoam dentro e fora da comunidade que ali vive. Criada sob o contexto do fascismo, a sentença de Gramsci — agora eternizada na fachada da usina — foi a forma encontrada pelo artista para pensar a desigualdade e as consequências desastrosas dos regimes antidemocráticos a partir de sua influência e genialidade. "Vivemos tempos muito obscuros. Há monstros por toda a parte, na América Latina e em todo o mundo. Governos ditatoriais e fascistas insistem em nos rodear. A cultura brasileira, sob o governo de Jair Bolsonaro, foi profundamente atacada. Acredito que esse cenário já está mudando, mas é preciso lembrar que os monstros estão sempre à espreita", afirma Jaar em entrevista à Casa Vogue.

O artista Alfredo Jaar — Foto: Andréa Rêgo Barros/Divulgação
O artista Alfredo Jaar — Foto: Andréa Rêgo Barros/Divulgação

Mundialmente conhecido por suas criações que desafiam a percepção e incentivam a reflexão, o artista condensou, ao longo dos 18 metros da instalação, diferentes interpretações possíveis. "Só concordei em instalar esta obra aqui quando verifiquei que ela se encaixava perfeitamente no edifício. No momento, o espaço está exatamente no claro-escuro entre seu antigo uso como grande produtor do álcool e do açúcar ao seu novo uso como espaço de arte contemporânea. Este período de transição (claro-escuro) é o espelho perfeito da transição que o Nordeste do Brasil vive após a crise de 1998. Nesse sentido, o meu trabalho e a Usina de Arte estão na vanguarda do novo cenário político e cultural nordestino", explica.

A instalação 'Claro-Escuro' (2015) possui 18 metros de comprimento — Foto: Andréa Rêgo Barros/Divulgação
A instalação 'Claro-Escuro' (2015) possui 18 metros de comprimento — Foto: Andréa Rêgo Barros/Divulgação
No letreiro néon, lê-se a frase "O velho mundo está morrendo, o novo tarda a nascer. Nesse claro-escuro, surgem os monstros", do filósofo italiano Antonio Gramsci — Foto: Andréa Rêgo Barros/Divulgação
No letreiro néon, lê-se a frase "O velho mundo está morrendo, o novo tarda a nascer. Nesse claro-escuro, surgem os monstros", do filósofo italiano Antonio Gramsci — Foto: Andréa Rêgo Barros/Divulgação

O choque entre o apogeu e a decadência da indústria açucareira na região se dá com a reinvenção do espaço, cuja história vem sendo reescrita desde 2015 pelo casal de empresários Ricardo e Bruna Pessoa de Queiroz. "Claro-Escuro tem tudo a ver com o que estamos construindo aqui. As camadas da história do Nordeste, suas lutas e triunfos, suas injustiças e resiliências, ganham novo foco sob a luz da obra de Jaar", complementa a presidente da Usina de Arte. "Convidamos os visitantes a explorar as conexões entre o passado e o presente."

Vista panorâmica da Usina de Arte, em Pernambuco — Foto: Andréa Rêgo Barros/Divulgação
Vista panorâmica da Usina de Arte, em Pernambuco — Foto: Andréa Rêgo Barros/Divulgação

A instituição, que em 2022 recrutou o francês Marc Pottier para conduzir a curadoria, abriga ainda mais de 40 obras grandiosas de artistas contemporâneos, muitas das quais estabelecem diálogos francos e conexões com discussões políticas e sociais. "São exemplos Tempo, Templo (2018), em que Bené Fonteles investiga a escravidão e a herança afro-indígena brasileira, passando por Um Campo da Fome (2022), em que Matheus Rocha Pitta abre um ângulo da imigração agrária do Nordeste, colocando a fome como um projeto político e cultural, Paulo Bruscky em Brasil 2017 (2017) com seu olhar afiado sobre o elitismo, entre outros exemplos que podem ser conferidos no Parque Artístico-Botânico da Usina de Arte", pontua o curador.

*O jornalista viajou a convite da Usina de Arte

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