Na companhia do pai, o sociólogo e cientista político Leôncio Martins Rodrigues, Luciana Martins visitou pela primeira vez o imóvel onde vive desde 2018, em uma rua tranquila do Alto de Pinheiros. “Ele não queria que eu morasse em uma casa, temendo pela minha segurança, mas, quando chegou aqui, mudou de ideia”, relembra.
A arquitetura contemporânea de 220 m², planejada pelo escritório CR2, foi determinante para que a designer fechasse o negócio. Dividido em três pavimentos, o projeto oferecia planta flexível. Assim, dois dos três dormitórios no terceiro piso deram lugar ao ateliê de arte de Luciana, voltado para o jardim do fundo do terreno. Outro ajuste fundamental foi alocar módulos de armário debaixo da escada do piso inferior, ampliando a área da cozinha e o espaço de armazenamento. É nessa parte da casa que ela costuma receber os amigos, que se alternam entre a mesa de jantar e o amplo sofá em formato de L.
Nos dias quentes, as venezianas são enfileiradas para integrar o interior com o exterior. “É uma delícia poder usufruir dessa área no verão, deixando o ar circular livremente”, diz. Bananeiras, palmeiras, bambus e jasmins-estrela são algumas das espécies que compõem o paisagismo do lugar, sempre elogiado pelos visitantes. “O paisagista Rodrigo Oliveira assina o projeto, mas eu continuo acrescentando outras plantas ao jardim, como bromélias, que reuni em um canteiro.”
O mobiliário de linhas precisas da Ovo, presente em todos os andares, faz parceria com bancos de madeira criados por artesãos da etnia Mehinako, no Alto Xingu. “Gerson e eu conhecemos Ontxa Mehinako na SP-Arte, em 2019. Nos tornamos amigos e acabamos adquirindo um conjunto de bancos indígenas”, conta Luciana.
A esses móveis juntam-se itens de família, como o espelho que pertenceu à mãe, Arakcy Martins Rodrigues, e as peças de cerâmica moldadas por ela. “Minha mãe me influenciou de várias maneiras. Foi professora de psicologia na USP, apaixonada por livros e poesia, era uma ótima ceramista, adorava plantas, cozinhava e fazia crochê, ela era infinita.” Objetos comprados em vários lugares do mundo também compõem a coleção da designer, mas são as obras coloridas espalhadas por diversas paredes que chamam a atenção. “Desde criança, gosto de cores”, diz a designer, que estreou em março sua primeira exposição coletiva, O Mais Profundo É a Pele, com curadoria de Jurandy Valença.
A veia artística se expande também para outras áreas. “Comecei a dançar aos 9 anos e recentemente retomei as aulas de violão. Música e dança sempre foram importantes para mim.” A intensa rotina de trabalho nem sempre favorece esses compromissos. A atividade física, porém, é praticada diariamente em uma academia improvisada nos fundos da casa.
Cozinhar é outra diversão, e Luciana está sempre atenta à alimentação saudável. “Moro sozinha, mas não me sinto só. Aqui é meu refúgio, onde leio, pinto, cozinho, recebo amigos, ouço música, cuido do jardim e de mim.” Feliz nessa morada, ela gostaria apenas de ter tido mais tempo para curti-la com o pai, que partiu em maio de 2021, deixando muita saudade e boas memórias.
*Matéria originalmente publicada na Casa Vogue de abril. Garanta a sua aqui