Entre obras de nomes consagrados como Alfredo Volpi, Conceição dos Bugres e Francisco Brennand, despontavam no estande da Gomide&Co, na última SP-Arte Rotas Brasileiras, em setembro, itens de mobiliário que permeiam o imaginário dos amantes de design – ou o dos frequentadores do Sesc Pompeia. A mente não engana: eram reedições de desenhos de Lina Bo Bardi (1914-1992) feitas pela Marcenaria Baraúna.
Além dos móveis do restaurante do centro cultural e esportivo paulistano, o caixotinho idealizado para a área de convivência infantil e o banco da lareira, outras duas peças, de projetos da arquiteta ítalo-brasileira, entram no portfólio da empresa: a poltrona Sertaneja, pensada para o auditório do Museu de Arte Moderna da Bahia, e o banco desenhado originalmente para a Igreja do Espírito Santo do Cerrado, em Uberlândia, MG.
A ideia de reeditar essas peças partiu de um processo de reformulação da Marcenaria Baraúna, encabeçada por João Grinspum Ferraz, e da intenção de realçar e preservar o legado de Lina. O processo de criação das reedições durou mais de um ano e foi feito lado a lado com o Instituto Bardi que forneceu os croquis da arquiteta para auxiliar o desenvolvimento das peças.
“Esses móveis têm em comum o fato de terem sido imaginados por uma Lina madura, que começa a repensar o design a partir da experiência na Bahia, no início dos anos 1960, quando volta a fazer um mobiliário muito seco, essencial, puro, diferente das peças que ela criou quando chegou ao Brasil”, conta Marcelo Ferraz, arquiteto que trabalhou com Lina e um dos sócios da Baraúna.
Outras características marcantes do trabalho da Lina no desenho de móveis, destacadas tanto por João quanto por Marcelo, são a sofisticação dos acabamentos, o trabalho primoroso com a madeira e a execução desafiadora. Todas essas questões foram levadas muito a sério pela Marcenaria Baraúna, para que as peças fossem feitas à perfeição pelos experientes marceneiros da empresa.
Para além desse pensamento projetual, em que arquitetura e design nunca se dissociaram, as invenções de Lina sempre carregaram um caráter político, questionador.
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Para a Baraúna, rever esses desenhos e torná-los acessíveis às casas das pessoas hoje tem a ver com a sabedoria de olhar para as coisas geniais criadas no passado e entender que aquilo ainda é válido no nosso modo de vida atual. “Os móveis do Sesc foram feitos para serem duráveis. As mesas do restaurante estão lá há mais de 40 anos, e estão impecáveis. Nós vamos morrer e elas vão continuar lá.” É a chance de povoar a casa com peças que carregam história e serão capazes de perpetuar conhecimento por muitas gerações.
Produção: Lucas Freitas