Móveis

Por Camila Santos (@cami_asantos)


Em junho, comemora-se mundialmente o mês do Orgulho LGBTQIAP+, em homenagem à histórica Revolta de Stonewall, em um bar em Nova York, no ano de 1969. Diante da rebelião contra a opressão policial que assolava o público do lugar à época, o acontecimento tornou-se um marco significativo das lutas dessas minorias por respeito e direitos.

Ao longo dos anos, as discussões sobre gênero, orientação sexual e representatividade ganharam corpo e foram levadas a lugares de tomada de decisão, como o Congresso Nacional, e outras instituições mundo afora, garantindo conquistas importantes, como o casamento homoafetivo, que se tornou uma realidade quando o Supremo Tribunal Federal (STF) reconheceu a união estável entre casais do mesmo sexo como entidade familiar, em 2011. Porém, ainda há um longo caminho a ser percorrido em busca de uma sociedade igualitária, livre de preconceitos e da opressão.

Ressaltar a diversidade de identidades e experiências é também atributo para um bom desenho, com história e alma. Por isso, Casa Vogue reúne a seguir peças assinadas por designers LGBTs, criativos que estão deixando sua própria marca no mundo e construindo bases para um novo futuro do design, mais plural e representativo. Confira:

13 peças desenhadas por designers LGBTs — Foto: Ricardo Jair da Silva
13 peças desenhadas por designers LGBTs — Foto: Ricardo Jair da Silva

Nascido em Brasília, Pedro Ávila desenvolveu o seu trabalho de design através de um olhar voltado para o caráter escultural dos objetos. Iniciou seus primeiros trabalhos autorais em 2016 quando fundou o Estúdio Orth junto a Sebastien Xavier e João Vicente de Castro. Desde então, desenvolveu projetos para empresas como YouTube, Vitacon e Ambev.

Em 2020, foi mencionado na revista Forbes entre os destaques dos profissionais do ano na categoria Under 30 (com menos de 30 anos). No final de 2021, deu início ao seu trabalho individual através de estudos escultóricos dos materiais, explorando as principais técnicas de modelagem como cerâmica, entalhe em madeira, modelagem 3D, fundição de metais, usinagem em pedra e moldes de fibras.

De acordo com o profissional, ele busca, sempre que possível, trabalhar com colaboradores dentro de um recorte de diversidade, possibilitando uma troca de experiências que crie mais oportunidades de inserção no mercado. “Muitas vezes faço o que posso para indicá-los para outros trabalhos posteriores a esta etapa”, comenta.

Na série Pilares, que conta com mesas de centro (foto) e laterais, os desenhos retratam uma visão contemporânea e minimalista do que seria a atualização das colunas dóricas na Grécia Antiga. O diâmetro exagerado dos pés contrasta com a finura do tampo, como se fosse uma lâmina repousando sobre uma base superdimensionada. Seu desenvolvimento tem como propósito o máximo aproveitamento das chapas residuais do mercado de mármores e quartzitos. O projeto foi elaborado em parceria com a Solto Design.

13 peças desenhadas por designers LGBTs — Foto: Divulgação
13 peças desenhadas por designers LGBTs — Foto: Divulgação

Para o casal formado pelo brasileiro Victor Xavier e o dinamarquês Soeren Hallberg, que capitaneia o Assimply Studio, é primordial atuar com pessoas de minorias sociais no processo de produção de peças. “Fazemos isso tentando compensar o gap social que infelizmente ainda existe no Brasil (e no mundo) e dar oportunidade de emprego a pessoas que estariam em desvantagem no mercado de trabalho tradicional”, contam.

A dupla criou o escritório no ano de 2021 e destaca as origens diversas de cada um como um dos fatores que influenciam as criações. Ao usar técnicas tradicionais de fabricação do terrazzo em conjunto com a incorporação de elementos menos tradicionais, o estúdio experimental cria artigos únicos, com detalhes que não se repetem.

Essas características podem ser visualizadas no vaso Mono (foto), que faz parte da coleção Monoformo, apresentada na última edição da MADE. Composta por cristais de vidro oriundos dos descartes de uma fábrica em Minas Gerais, a linha possui ainda mesas e outros objetos de decoração, que fazem referências às linhas curvas desenhadas pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907 - 2012) e às pinturas do artista plástico e paisagista Burle Marx (1909 - 1994).

13 peças desenhadas por designers LGBTs — Foto: Bruno Geraldi
13 peças desenhadas por designers LGBTs — Foto: Bruno Geraldi

Lançamento do semestre, os itens da série Gaspar foram desenhados com base em formas circulares, criando um visual limpo, contemporâneo e estilizado. A poltrona, em particular, com seu encosto arqueado, proporciona uma sensação acolhedora e confortável, semelhante a um abraço. Já a cadeira pode ser empilhada, facilitando seu armazenamento, limpeza e transporte. Além das peças na imagem acima, a linha ainda possui uma banqueta.

A respeito da área de design, de modo geral, Bruno afirma que enxerga um cenário repleto de oportunidades e, que, para que o setor seja mais plural, é importante desmistificá-lo e aproximá-lo das pessoas, superando as barreiras de acesso e custo.

“Valorizar a diversidade de perspectivas e promover a inclusão de designers de diferentes origens e culturas é essencial. Além disso, é necessário investir em educação e capacitação, buscando soluções inovadoras e sustentáveis. Acredito que, com criatividade, os brasileiros encontrarão caminhos para disseminar as criações brasileiras pelo mundo”, pontua.

13 peças desenhadas por designers LGBTs — Foto: Divulgação
13 peças desenhadas por designers LGBTs — Foto: Divulgação

A atuação da arquiteta e designer Karol Suguikawa retrata, entre outros aspectos - como o design italiano dos anos 1970 e o neoconcretismo brasileiro -, a discussão de gênero a partir de uma ótica legítima: sua condição de mulher trans, assunto sobre o qual ela já conversou com a Casa Vogue em uma entrevista aprofundada. Atualmente, a criativa possui linhas distintas de projetos feitos em diversos materiais como madeira, mármore, vidro e metal. Versátil, seu portfólio inclui peças que vão de mobiliário à iluminação, tapeçaria e acessórios.

De acordo com a profissional, a mesa de centro Cunha, que você confere na imagem acima, pode transitar por ambientes mais intimistas e aconchegantes ou espaços amplos com diferentes funções. Composta por dois blocos sólidos que se encaixam por meio das formas de uma cunha - ferramenta de madeira ou metal muito utilizada na marcenaria - que faz com que uma parte dependa da outra para formar um móvel estável e único.

13 peças desenhadas por designers LGBTQIAP+ — Foto: Raul Fonseca
13 peças desenhadas por designers LGBTQIAP+ — Foto: Raul Fonseca

"Diversidade é uma questão ligada à liberdade de expressão, se sentir livre e capaz de propor novas visões de mundo”, afirma Giácomo Tomazzi ao ser questionado sobre como a pluralidade é abordada em seu processo de criação. Ele acrescenta que, para que o design seja cada dia mais diverso, é necessário entender cada vez mais a essência dos indivíduos. “Falo daquele lugar que é comum a todos e que não se categoriza ou segrega, considerando suas necessidades físicas, emocionais e psíquicas. Fazer design será cada vez mais importante para entender as relações humanas”, diz.

Integrantes da coleção Meraki, palavra de origem grega que significa "que se deixa um pedaço de si mesmo, uma parte da sua alma em tudo o que se faz", as mesas Juca (acima) contam com estrutura em aço inox polido e assento de palhinha indiana. Além desses itens, que homenageiam o empalhador Seu Juca, a linha conta com o banco Luzia, que mistura o inox à palha de seda.

De modo geral, as composições mesclam conceitos antagônicos como quente e frio, liso e áspero, tecnológico e artesanal. “São peças de caráter cultural, que evocam pureza estética e são compostas por elementos geométricos bem definidos com aplicação de materiais de naturezas opostas”.

A linha Beira apresenta elementos em mármore, enquanto a linha Arco explora a combinação entre madeira e metal — Foto: Divulgação
A linha Beira apresenta elementos em mármore, enquanto a linha Arco explora a combinação entre madeira e metal — Foto: Divulgação

Criado há quatro anos, o escritório de design mineiro já coleciona momentos marcantes em sua trajetória, a exemplo da participação na feira MADE (Mercado.Arte.Design) e no Fuorisalone, na Semana de Design de Milão. “Nosso trabalho continuou, galgando cada passo, criando um catálogo consistente e lutando para estar em lugares cada vez melhores para mostrar isso ao mundo. Saímos do zero com leveza, paciência e muito planejamento. Soubemos respeitar processos, os nossos e os do mercado, e a cada reconhecimento, fosse ele uma venda, uma matéria, um novo contato, comemoramos muito”, ressalta Marllon Morais, que comanda o escritório ao lado de Rodrigo Queiroz.

Acerca da importância da diversidade em suas criações, a dupla enfatiza que, pelo fato de pertencer à comunidade LGBTQIAP+, seu trabalho já é executado de modo a valorizar a representatividade. “Somos respeitados por nossa atuação e isso basta, deveria ser assim com todos. Ver essa aceitação do mercado, nos dá a certeza que não fomos e não seremos discriminados e que quem vai chegar, também terá essa segurança”, analisam.

13 peças desenhadas por designers LGBTQIAP+ — Foto: Divulgação
13 peças desenhadas por designers LGBTQIAP+ — Foto: Divulgação

Para o designer, ceramista e curador Pedro Galaso, o design o futuro do design tende a ser mais mais inclusivo e pessoal. “Digo inclusivo não só na etimologia da palavra como acessibilidade e representatividade, mas com peças que tenham funcionalidade adequada, peças perenes, peças que resolvam problemas. E, quando digo pessoal, trata-se de as pessoas buscarem mais móveis pensados exclusivamente para elas”, afirma.

Responsável pela curadoria da a Emporium Brazil Design Gallery, nos Estados Unidos, Pedro relata que, ao receber o convite, sua maior preocupação foi formar um time diverso em todos os sentidos. “Com essa experiência eu aprendi que os bons nem sempre são os que estão em evidência, os bons estão, em sua grande maioria, escondidos e sem visibilidade e meu papel como curador nessa nova jornada, além de apoiar o bom design, é poder dar luz a todos que precisam e esse feito eu tenho como um grande feito profissional”, declara.

Em sua primeira experiência desenhando luminárias, Pedro elaborou o modelo Dany, em homenagem a sua irmã. O artigo conta com dois volumes, foi desenvolvido em alumínio com pintura eletrostática e está disponível em dez cores.

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