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Por Silvia Albertini


A obra Quercus, com amazonita, de Raffaello Galiotto — Foto: Divulgação
A obra Quercus, com amazonita, de Raffaello Galiotto — Foto: Divulgação

Não é de hoje que o nome do italiano Raffaello Galiotto desponta como autor de um trabalho muito particular no campo do design. E na última Marmomac (maior feira internacional do setor de rochas naturais, realizada em setembro em Verona, Itália), o profissional foi a grande estrela do evento, ao apresentar uma série de esculturas criadas em colaboração com empresas líderes da área.

O designer italiano Raffaello Galiotto — Foto: Divulgação
O designer italiano Raffaello Galiotto — Foto: Divulgação

A mostra Herbarium Mirabile inspirava-se no conceito dos herbários, antigas coleções de plantas secas classificadas e descritas por suas virtudes medicinais. Do ponto de vista visual essa "biblioteca vegetal" apresenta conjuntos de espécies que se diferenciam pelas formas singulares. Cada variedade, disposta em cada página do herbário, seria a resposta formal criativa, e muitas vezes extravagante, da natureza para as necessidades de sobrevivência do gênero, segundo Galiotto.

O ponto de partida do designer foi a observação das estruturas dos corpos vivos: organizações geométricas simétricas e sucessões de espaços cheios e vazios de grande encanto. Galiotto projetou então as obras usando avançados softwares de modelagem paramétrica 3D, e usou máquinas de controle numérico de alta precisão para executá-las em pedras raras, renunciando ao tradicional acabamento manual. O resultado foi um jardim botânico lítico experimental composto por 17 esculturas de rochas coloridas vindas de diversas partes do mundo – algumas, inclusive, brasileiras –, capazes de abrir reflexões sobre o potencial das tecnologias no design de objetos. "Contamos uma história fantástica, que combina o material mais antigo, a pedra, com a mais avançada tecnologia paramétrica. Uma história entre o passado e o futuro, entre o fóssil e o alienígena. O fio condutor que mantém unidas essas posições antitéticas é a aparência inspirada na natureza", explica.

Esboços de Raffaello Galiotto para a realização da mostra Herbarium Mirabile — Foto: Divulgação
Esboços de Raffaello Galiotto para a realização da mostra Herbarium Mirabile — Foto: Divulgação

A fascinação do autor pelas formas naturais vem de longe, assim como sua aptidão para dar corpo à matéria. Na entrevista, ele explicou que desde criança sempre se de- dicou à escultura e ao desenho. "A terra do jardim era massa de modelar para mim. A madeira da lareira era material para fazer estatuetas", lembra. Os pais cuidaram de não obstruir as propensões criativas do pequeno artista, que la- pidou seus talentos com uma formação sólida. "Os estudos anatômicos que realizei na Academia de Belas Artes de Veneza educaram meu olhar sobre a estrutura das formas, ou seja, a resposta formal dos corpos no que diz respeito às suas funções." Ao mergulhar na história da arte, ele compreendeu a beleza, o poder da cor, o papel da luz e das sombras e a harmonia das proporções.

Raffaello Galiotto usa modelagem digital para criar esculturas com pedra — Foto: Divulgação
Raffaello Galiotto usa modelagem digital para criar esculturas com pedra — Foto: Divulgação

“Pertenço à geração que viveu a transição do analógico para o digital. É uma grande oportunidade para a renovação de todas as profissões e do nosso modo de vida”

Uma vez formado, Galiotto colaborou com diversas empresas do setor lítico presentes na região do Vêneto, e abriu o estúdio que leva seu nome em 1993. A experiência técnica acumulada trabalhando em oficinas e laboratórios ao longo dos anos rendeu-lhe conhecimentos preciosos sobre os processos de produção, parte integrante e fundamental do design do produto.

Raffaello Galiotto usa modelagem digital para criar esculturas com pedra — Foto: Divulgação
Raffaello Galiotto usa modelagem digital para criar esculturas com pedra — Foto: Divulgação

A renúncia ao tradicional acabamento manual em suas obras mais recentes e a opção pelo uso exclusivo de máquinas demonstra o caráter inovador da produção do designer, que, ao longo da carreira, experimentou diversos materiais e tecnologias. “Pertenço à geração que viveu a transição do analógico para o digital. Para além da hostilidade dos programas de software e das interfaces, o digital é uma grande oportunida- de para a renovação de todas as profissões e do nosso modo de vida", reflete ele, para quem mesmo um setor tradicionalmente caraterizado pela valorização do trabalho manual como o das rochas pode se beneficiar com as inovações digitais.

Arcolitico (2018), obra arquitetônica experimental de mármore, localizada na província de Vicenza, na Itália, realizada com a técnica de corte com fio diamantado numericamente controlado, diminuindo o desperdício de matéria-prima a quase zero — Foto: Divulgação
Arcolitico (2018), obra arquitetônica experimental de mármore, localizada na província de Vicenza, na Itália, realizada com a técnica de corte com fio diamantado numericamente controlado, diminuindo o desperdício de matéria-prima a quase zero — Foto: Divulgação

"A sobrevivência do artesanato depende da propensão dos operadores em acompanhar os tempos para dominar a tecnologia, e não sofrer com ela", afirma. De acordo com Galiotto, artesãos são inovadores, figuras que por definição utilizam o engenho e a habilidade não apenas nos artefatos que criam mas também nos métodos de trabalho, por meio do desenvolvimento de ferramentas, procedimentos e na escolha dos materiais que implementam a fim de melhorar os produtos face à tradição. "Os artesãos temem a perda de habilidades manuais que já foram reduzidas com o uso de ferramentas eletrificadas, pneumáticas e controladas digitalmente. Eu adoro trabalhar com as mãos, mas me pergunto se essa é a única coisa que distingue um artesão de outro trabalhador. Não seria, talvez, a capacidade de usar de forma inteligente e criativa novos dispositivos em métodos de produção artesanal?".

Raffaello Galiotto usa modelagem digital para criar esculturas com pedra — Foto: Divulgação
Raffaello Galiotto usa modelagem digital para criar esculturas com pedra — Foto: Divulgação

No momento, Galiotto está bastante ocupado aplicando sua visão sobre inovação e estudo das formas em frentes diversas: produtos de mármore, coleções artísticas com uso de tecnologia digital, mobiliários de área externa, objetos para casa e cozinha, além de equipamentos para facilitar a convivência de pequenos animais com o ser humano no ambiente doméstico. Quanto à inteligência artificial, tema que está na boca de todos, prefere manter a cautela. “Todas as profissões serão afetadas por essa inovação, ainda é cedo para dizer como e quanto. Ainda não conseguimos definir seus prováveis desenvolvimentos e implicações futuras."

*Matéria originalmente publicada na Casa Vogue de maio de 2023.

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