![Fernando Campana — Foto: Deco Cury](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/l_BpbbYJb7_Yt-YWjV1JWFR2FhY=/0x0:620x930/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2022/8/v/dyRzRnTSqJL633oxkhSw/fernando-campana.jpg)
Fernando Campana, um dos mais proeminentes designers brasileiros, morreu nesta quarta-feira (16), em São Paulo. A informação foi divulgada em nota pelo perfil oficial do Estúdio Campana nas redes sociais. A causa da morte não foi anunciada.
O gosto pelo teatro levou Fernando Campana, paulista de Brotas, nascido em 1961, ao curso de Arquitetura e Urbanismo na Faculdade de Belas Artes de São Paulo, com o objetivo de trabalhar com cenografia. Formou-se em 1984, mas, por volta da mesma época, iniciou a longeva parceria com o irmão Humberto. Juntos, conceberam uma série de cadeiras de metal, que deu origem à sua primeira coleção, chamada Desconfortáveis.
A mostra chamou a atenção da revista italiana Domus, que publicou uma matéria elogiando a originalidade e a irreverência dos dois. Foram convidados, então, para desenvolver peças para a grife Edra, também italiana. Mais tarde, no final da década de 1990, uma exposição no MoMA, o Museu de Arte Moderna de Nova York, ajudaria a despertar ainda mais interesse por seu trabalho. E o sucesso da dupla não parou por aí: também ganhou mostras individuais na Europa e, com o passar dos anos, peças dos irmãos Campana passaram a figurar em acervos permanentes importantes, como o do centro Georges Pompidou, na capital francesa, o do Design Museum, em Londres, e o do Museu de Arte Contemporânea de Tóquio.
A quatro mãos, e movidos pelo inconformismo, construíram uma carreira sólida, destacando-se em movelaria, mas desenvolvendo projetos também em escultura, joalheria, cenografia, design de interiores e paisagismo. Em todas as áreas, deixaram sua marca com propostas arrojadas, uso criativo de materiais ordinários – como plástico, borracha e papelão – e valorização de técnicas manuais tradicionais. Nem mesmo quando a dupla assinou trabalhos para o universo do luxo o apelo dos elementos populares e acessíveis – cujo potencial para o design até então passava despercebido – saiu de cena. Se fazia sentido conceber uma poltrona com restos de madeira colados, brincos de ouro e brilhantes também poderiam ostentar porções de fibra natural.
Esse repertório peculiar foi um dos fatores responsáveis por tornar o Estúdio Campana, ou Campana Brothers, a marca de design brasileira mais famosa do globo – ao ponto de a poltrona Banquete ser arrematada por mais de 50 mil euros na exclusiva casa de leilões Sotheby’s. Reconhecidos em todo o mundo e também no Brasil por sua “estética da gambiarra”, como descreveu o artista visual Vik Muniz, os irmãos disseminaram sua interpretação particular da identidade nacional, e assim tornaram-se figuras midiáticas e populares, capazes de alcançar um público mais amplo que o restrito a especialistas e profissionais do segmento.
Em 2009, fundaram o Instituto Campana, que, além de preservar seu legado, busca promover a inclusão social por meio de programas educativos em arte. Entre 2020 e 2021, a exposição Irmãos Campana – 35 Revoluções, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro, celebrou sua trajetória com peças inéditas e, pela primeira vez, obras assinadas individualmente por Fernando e Humberto.
Mais recentemente, nostálgicos e sensibilizados pela importância da origem em uma pequena cidade do interior paulista – quando foram apresentados a diferentes técnicas de artesanato, bordado, carpintaria e serralheria, entre outras –, Fernando e Humberto passaram a planejar uma nova maneira de retribuir à comunidade de sua terra natal. A ideia é destinar um sítio recebido por eles de herança para a construção de um novo centro cultural em Brotas, SP, dedicado a celebrar suas tradições vernaculares. Além da vasta área reservada à preservação ambiental, imaginam erguer mais de 10 pavilhões na propriedade, onde funcionará o museu a céu aberto, um jardim e uma escola.
Principais obras
Cadeira Hate (1989)
![— Foto: Andreas Heiniger](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/-FbSouZQuZWzkw1B4fLXpbT8ryw=/0x0:600x900/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2022/O/B/whwetGRjaItlCKjrchtA/humberto-campana.jpg)
Item da exposição Desconfortáveis, cujas peças refletiam o impacto sentido pela dupla com o fim da ditadura militar no Brasil e a vontade de explorar a imperfeição no design.
Poltrona Favela (1991)
![— Foto: Estúdio Campana/Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/C8X7Q0uqqi566zbTUO74uneIrFo=/0x0:620x466/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2022/h/X/5AwYRjTw2L1CXNZE3LTg/humberto-campana-2.jpg)
Inspirada na comunidade da Rocinha, no Rio de Janeiro, celebra a assimetria, a imperfeição. É toda construída com pedaços de madeira reaproveitada, colados em arranjo casual, o que torna cada peça ligeiramente diferente das demais.
Cadeira Vermelha (1993)
![— Foto: Divulgação](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/PSQ3IfDxWAFIm-AGoFguCy1iiJw=/0x0:620x620/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2022/W/G/73831mRBmbBHYdWnNndg/humberto-campana-3.jpg)
A síntese da sinergia entre eles: Humberto sugeriu o uso de cordas (são 500 metros) como matéria-prima, Fernando bolou a estrutura. A peça marcou também o início da parceria com a Edra: os irmãos, inclusive, tiveram de gravar um vídeo para ensinar os italianos como construí-la.
Poltrona Banquete (2002)
![— Foto: Estúdio Campana/Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/6E4nKcDBHnHNoRoXnCmfbvpiwHU=/0x0:620x466/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2022/z/h/436BBDSpSv2XpQDAyRlA/humberto-campana-4.jpg)
Elementos populares são reinterpretados em uma das peças mais conhecidas dos irmãos. Aqui, os animais de pelúcia saem do contexto infantil e passam a fazer referência à cadeia alimentar — daí o banquete.
Campanas at the Garden (2007)
![— Foto: Estúdio Campana/Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/wTI-VEdyV0Zjq8HioVg-V2GMX-w=/0x0:620x466/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2022/R/r/45RXb8SdG4BEYKKBBAEA/humberto-campana-5.jpg)
A mostra realizada no Victoria and Albert Museum, em Londres, reuniu instalações de bambu e bancos Victoria Regia.
Café Campana (2011)
![— Foto: Estúdio Campana/Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/rJn1utB4n-4teDkVfDuBuyMCw3Q=/0x0:620x466/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2022/c/v/lsx53kQfqilrdeMmUb5g/humberto-campana-6.jpg)
Localizada no Museu D'Orsay, em Paris, a cafeteria teve seu interior redecorado por Fernando e Humberto, que buscaram inspiração no art nouveau e no romance Vinte Mil Léguas Submarinas, de Júlio Verne.
Bulbo (2012)
![— Foto: Estúdio Campana/Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/1gZX7EoD32333blU3kL4gCX6KV8=/0x0:620x466/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2022/G/5/t6CvgfRLChEnxXUBAaEQ/humberto-campana-8.jpg)
Faz parte da coleção Louis Vuitton Objets Nomades, em que a marca fashion convidou designers para desenvolver objetos em parceria com seus artesãos, num exercício criativo sobre a ideia de viajar.
Banco Dois Irmãos (2019)
![— Foto: FirmaCasa/Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/VIMOjWZe3PAytV1c5ydTAWWDP0c=/0x0:620x466/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2022/k/w/DB0afFTkyefjlpi6BU4w/humberto-campana-7.jpg)
Como o nome sugere, o móvel, que reúne duas cadeiras envoltas por uma estrutura de arame e vime, comemora os 35 anos do Estúdio Campana. Vencedor do Prêmio Casa Vogue Design 2020 na categoria Design de Coleção.
Candy Sculpture Ring Chandelier (2015)
![— Foto: Estúdio Campana/Reprodução](https://cdn.statically.io/img/s2-casavogue.glbimg.com/98Fba8dm9wAlJUauTekwnqf0AyA=/0x0:620x620/984x0/smart/filters:strip_icc()/i.s3.glbimg.com/v1/AUTH_d72fd4bf0af74c0c89d27a5a226dbbf8/internal_photos/bs/2022/7/A/PbNffwQrCJLwB4O7NCdA/humberto-campana-1o.jpg)
Resultado da parceria da Campana Brothers com a tradicional marca de vidro soprado tcheca Lasvit, o pendente da coleção Candy é inspirado numa memória de infância: os doces vendidos nas feiras livres de Brotas, SP.
Fernando Campana no Casa Vogue Experience
![A base criativa dos Irmãos Campana | Casa Vogue Experience A base criativa dos Irmãos Campana | Casa Vogue Experience](https://cdn.statically.io/img/s01.video.glbimg.com/x240/6237936.jpg)
A base criativa dos Irmãos Campana | Casa Vogue Experience
Em palestra durante o Casa Vogue Experience 2017, Fernando contou o que inspira as peças assinadas por ele e pelo irmão, confira trecho no vídeo acima e a matéria completa aqui.