A Botânica

Por Gabriela Nora

Gabriela Nora é cenógrafa botânica, diretora de arte e fundadora da Galeria Botânica


Echeverias e lanças compõem o lustre da Naturayo, na criação de Rodrigo Carneiro.  — Foto: João Barboza
Echeverias e lanças compõem o lustre da Naturayo, na criação de Rodrigo Carneiro. — Foto: João Barboza

Holambra mostrou a potência das flores e plantas ornamentais no 30º Encontro Nacional de Floristas, Atacadistas e Empresas de Acessórios (Enflor) e na 30ª Garden Fair - Feira de Tecnologia em Floricultura e Paisagismo, evento realizado de 16 a 18 de julho, no Parque da Expoflora. A cadeia produtiva, que responde por 9% da comercialização do setor, retrata os hábitos que floresceram nos últimos tempos nas moradas.

Um arco-íris floral, instalado na  rua das flores por Paulo Perissoto e Tanus Saab, exibe a diversidade de espécies e cores vibrantes. Um mostruário poético pra sentar, tomar um chá  e apreciar.  — Foto: João Barboza
Um arco-íris floral, instalado na rua das flores por Paulo Perissoto e Tanus Saab, exibe a diversidade de espécies e cores vibrantes. Um mostruário poético pra sentar, tomar um chá e apreciar. — Foto: João Barboza

Estive por lá para conhecer de perto os trabalhos e conhecer as novidades lançadas pela indústria floral. Entre elas, por exemplo, as recentes pesquisas genéticas e investimentos, como para a adaptação de espécies às condições climáticas, tensionadas pelo processo de urbanização das cidades. Dito isso, trago boas notícias para os apaixonados pelo universo.

Raquel Franzinni do Clube Conexão Florista, comanda uma plataforma que promove diálogos entre os profissionais do setor e envolve os protagonistas do mercado. Floristas, produtores, e grandes mestres do ramo — Foto: João Barboza
Raquel Franzinni do Clube Conexão Florista, comanda uma plataforma que promove diálogos entre os profissionais do setor e envolve os protagonistas do mercado. Floristas, produtores, e grandes mestres do ramo — Foto: João Barboza

A começar pela Magna Flora, da cooperativa Veilling Holambra. Os produtores apresentaram o Ficus audrey aos mais de 17 mil visitantes que passaram pelo evento. Primo da delicada Ficus lyrata, porém mais resistente, a espécie não é tão exigente nos cuidados diários. Com folhas largas e nervuradas, a forma escultural é tão exuberante quanto a sua parente mais conhecida.

Ficus Audrey — Foto: Divulgação
Ficus Audrey — Foto: Divulgação

Outra espécie tradicional, o Cróton queen, conhecido como a "planta da vovó", surgiu com muita cor e personalidade na versão da Magna Flora. As folhas cheias de pintinhas, manchinhas estreitas e compridas - levemente torcidas - lembram cachos em tons variados de verde, amarelo, vermelho e laranja. Elas podem ser cultivadas no jardim e também em vasos dentro de casa, desde que recebam boa quantidade de luz solar durante um período do dia.

Cróton Queen — Foto: João Barboza
Cróton Queen — Foto: João Barboza

Outra revolução genética é a Pink Prince, mais rosa do que nunca através do melhoramento genético. O resultado foi conquistado após uma pesquisa, feita por mais de dois anos pelos produtores Acosta Plantas da cooperativa Veiling Holambra.

Pink Prince — Foto: João Barboza
Pink Prince — Foto: João Barboza

Já as criações artísticas não poderiam faltar na lógica da cooperação, de onde brotam práticas de ordem participativa e colaborativa. O evento abriu espaço para a conjunção dos atores do setor - produtores, indústria e artistas florais - em sinergia com modos de fazer por meio de muitas mãos.

A instalação assinada pelo designer floral Harley Vix retratou a potência emocional e estética em uma ambientação leve, fluida, inspiradora e extremamente envolvente. O artista quis mexer com as emoções dos visitantes e, ao mesmo tempo, despertar a curiosidade do processo feito de maneira totalmente artesanal com efeito impactante.

A botânica expressa através de uma escultura orgânica em tecidos leves e naturais. Formas sinuosas fazem analogia às montanhas de Minas Gerais, onde vive o arquiteto e designer floral Harley Vix — Foto: João Barboza
A botânica expressa através de uma escultura orgânica em tecidos leves e naturais. Formas sinuosas fazem analogia às montanhas de Minas Gerais, onde vive o arquiteto e designer floral Harley Vix — Foto: João Barboza

Há várias mensagens nas produções exibidas no evento. Os bastidores do mercado demonstram a maturidade dos artistas e empresas, além das inovações e apostas em pesquisas genéticas para facilitar a vida das flores e plantas nas cidades. A beleza natural, por sua vez, é reforçada como elemento de percepção do sensível e do bem-estar, seja em espaços permanentes ou transitórios.

O design floral no Brasil alcança altura e afunda suas raízes, estabelecendo relações rizomáticas que transformam perspectivas e o dia a dia privado.

A coluna A Botânica tem colaboração da jornalista Lu de Moraes (ACASAA)

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