Casas

Por Alberto Piernas Medina


 — Foto: Luis Diaz Diaz
— Foto: Luis Diaz Diaz

Desde que Steve Jobs criou a famosa empresa Apple numa pequena garagem em Los Altos, na Califórnia, o mundo começou a perceber o conceito destes espaços de forma diferente, mesmo sob um prisma certamente romântico. Décadas depois, os elevados custos de habitação, as crises econômicas e a obsessão em ganhar metragem quadrada em casa - especialmente depois da pandemia - transformaram a tendência de transformar uma garagem em casa numa tendência controversa, para dizer o mínimo. O arquiteto David Bataller conta os diferentes meandros deste boom que distorce o tecido social e, acima de tudo, pode pôr em perigo as nossas vidas.

Morar em garagem: é uma boa ideia?

Ninguém diria que esta casa aconchegante de 32 m² já foi uma triste garagem — Foto: Alice Mesguich
Ninguém diria que esta casa aconchegante de 32 m² já foi uma triste garagem — Foto: Alice Mesguich

Na escola aprendemos que a cidade nasce e cresce em torno do mercado, em torno do comércio. Pode ser perto de um porto, de um cruzamento ou de uma passagem de fronteira. De qualquer forma, a cidade se desenvolve onde ocorre a troca de bens e serviços e onde os negócios são realizados.

Durante séculos, os proprietários de oficinas, lojas e escritórios reservaram para as suas casas pequenos espaços nas parte de trás ou em cômodos superiores, acessados por pequenas escadas. A rua foi assim separada da vida familiar, obtendo-se maior conforto e privacidade. As cortinas desapareceram.

O tipo de construção mais popular do século XX incorpora casas divididas horizontalmente com instalações comerciais com acesso independente. O vínculo entre o proprietário do imóvel e a família que mora acima começa a se romper: surgem conflitos.

Garagem transformada em casa pelo Fala Atelier — Foto: Fernando Guerra
Garagem transformada em casa pelo Fala Atelier — Foto: Fernando Guerra

As décadas de desenvolvimento estão repletas de ruas com intensa vida comercial. Era difícil encontrar espaço livre no térreo para abrir quiosques, padarias, oficinas de automóveis, carpintarias, gráficas, lojas de ferragens, etc. Você mora e trabalha na cidade. Mas isso mudou nos últimos 30 anos.

"Na década de 90, os parques industriais e os centros comerciais começaram a absorver toda aquela atividade dos bairros pelos incômodos e conflitos que causavam aos vizinhos - basicamente ruídos e cheiros - enquanto começava a surgir o novo tipo de edifícios que os excluía: a urbanização com espaço público privado, o 'urbano' para amigos”, diz David à "AD Espanha".

O que fazer com pequenos espaços comerciais que se tornaram obsoletos?

Antiga garagem de 27 m² virou uma casa luminosa e acolhedora — Foto: Estúdio BCDF
Antiga garagem de 27 m² virou uma casa luminosa e acolhedora — Foto: Estúdio BCDF

Existem duas tendências claramente diferenciadas e opostas. Uma é aquela que considera que a atividade comercial de bairro é um fator de coesão social, ajuda as pessoas a conhecerem os seus vizinhos e dinamiza a participação na vida pública. "Para incentivar a permanência e o retorno destes usos urbanos, devemos tentar paralisar qualquer reconversão", acrescenta David, especialmente quando falamos da nova tendência de "reinventar" estas premissas no que está atualmente em alta demanda: a habitação.

"Converter pequenas instalações e garagens em habitações tem a enorme vantagem de dar aproveitamento ao que está fora de uso. E tem a desvantagem de aumentar a precariedade do parque habitacional da cidade: não creio que ninguém goste de viver numa casa cujo único acesso à luz e à ventilação é ao nível da rua, onde antes ficava a vitrine da loja de brinquedos ou a loja de calçados. Mesmo que a casa seja para uso tur��stico ou para arrendamento de curta duração, deve reunir condições de conforto e saúde que a grande maioria dos locais dificilmente consegue oferecer", diz David.

A solução para estes andares inferiores

A solução para estes andares inferiores e garagens não é simples e exige astúcia para encontrar pontos intermediários. A isto devemos acrescentar os problemas que traz em termos de ventilação, iluminação, privacidade ou isolamento, entre outros.

Antiga garagem transformada numa casa adicional ligada ao jardim — Foto: Ypsilon Fotografia Empresarial
Antiga garagem transformada numa casa adicional ligada ao jardim — Foto: Ypsilon Fotografia Empresarial

Atualmente, a conversão de garagem em habitação exige a consulta do Plano Geral de Urbanismo que corresponde ao município. Entre estes requisitos encontramos o número de andares do edifício ou a área construída máxima permitida. Se esta área for inferior a 38 m², a garagem só poderá ser convertida em estúdio, e não em casa.

Além disso, devemos levar em consideração a altura do teto – mínimo de 2,5m em 75% da superfície da casa e 2,20m nos 25% restantes. Por fim, a nova casa deve ter boa iluminação e ventilação, o que é complicado considerando a localização dessas instalações.

Talvez os novos tempos encorajem um individualismo que é a antítese do que realmente era uma loja ou garagem: um lugar onde você pode interagir com a sociedade em vez de se isolar, se proteger e até fugir dela. A triste notícia é que, muitas vezes, várias destas garagens são convertidas por ambição excessiva ou, em outros casos, por uma vida precária demais.

Matéria originalmente publicada na Architectural Digest Espanha.

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