• CRISTINA DANTAS | ESTILO ADRIANA FRATTINI | FOTOS RUY TEIXEIRA
Atualizado em
Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

Na parte de trás da casa, a varanda se volta para a mata e para a cachoeira – cadeira Adirondack e almofadas da Arteiro e, no banco, manta da Ceyla Lacerda (Foto: Ruy Teixeira)

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

Na sala de jantar com mesa e cadeiras desenhadas por João Carrascosa e luminária da Louis Poulsen, na Acervo Brutto – no teto, uma característica desta moradia: as vigas de dormentes com espaçamento curto entre si (Foto: Ruy Teixeira)

O retiro em Secretário, na região serrana do Rio Janeiro, foi erguido pelo jornalista e roteirista João Carrascosa, que há cerca de sete anos preferiu contar histórias não mais em texto, mas, sim, por meio da arquitetura. Feito para a família – a mulher, Gabi Figueiredo, “incansável companheira”, como ele diz, e as duas filhas de sete anos do casal –, o refúgio começou da observação do lote.

Os dois se puseram a contemplar a natureza, os ventos, a posição do Sol, a temperatura. Um dia, em sua jornada de reconhecimento, depararam com uma cachoeira. Então João compreendeu como posicionaria a residência, e da pequena cabana, sua ideia inicial, partiu para algo maior, sem que isso implicasse a derrubada de árvores e a presença de equipamentos pesados a remexer o lugar. A estrutura cresceu silenciosa: até a tora de 6 m da cumeeira subiu coma força humana, numa empreitada que contou com os construtores Alcinei Cordeiro e Sonia Infante.

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

Sobre o gaveteiro vintage da Arteiro, dispõe-se uma reunião de peças caras aos moradores: gamelas, vasos indígenas, itens modernos, natureza-morta (séc. 19) de autoria desconhecida e madeiras antigas que restaram de obras (Foto: Ruy Teixeira)

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

Na varanda de um dos chalés vizinhos à casa de palafitas, cadeira Adirondack e almofadas marroquinas, tudo da Arteiro, e troncos trabalhados por um artesão local e luminária da Lá em Casa (Foto: Ruy Teixeira)

“Meu trabalho tem essa proposta mais orgânica, artesanal”, enfatiza o autor. Uma cozinha maior surgiu depois de concluída a planta original, esquematizada em papel. Ela foi “grudada do lado de fora”, nas palavras dele, lembrando que “a casa é cheia de puxadinhos”. À armação sobre palafitas somaram-se dois chalés e uma sauna. E aí reside a graça desta moradia que muda de acordo com desejos e demandas dos proprietários. Os conceitos vêm da arquitetura vernacular, e, por isso, os projetos de campo e de praia que ele vem concebendo têm a marca regional, não se parecem em nada com ambientes urbanos.

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

Na altura da copa das árvores fica a sala de estar, com sofá em L contornando as janelas – almofadas e banquinho com assento peludo da Arteiro, cadeiras de vime dos anos 1950 herdadas, mesa de centro esculpida em um tronco de árvore e pendente Mirror Ball (à dir.), de Tom Dixon (Foto: Ruy Teixeira)

Neste caso, a estética remete à origem da maior parte da madeira: um celeiro demolido no Rio Grande do Sul. O luxo aparece no conforto para o corpo e para os olhos: lençóis de boa procedência, peças de antiquário (especialmente de Portugal), luminárias que são ora de palha, ora assinadas por um designer contemporâneo. Isso sem falar na fantasia (o roteirista não saiu totalmente de cena): uma banheira que habita o jardim, um terraço voltado para a cachoeira, o teto de vidro sobre a cozinha e um dos chalés... As tábuas de demolição ficam quase sempre à vista, e, se não são tão bonitas, a tinta preta as recobre, tornando o conjunto ainda mais interessante.

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

Detalhe da pia da cozinha, moldada com cimento queimado preto (Foto: Ruy Teixeira)

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

O fogão a lenha, construído junto à sala, ajuda a aquecê-la – encostada nele, mesinha antiga de fazenda encontrada no Antiquário Casarão, em Tiradentes, MG, de onde também vieram os potes indígenas, no Nobre Decadência Antiquário, e bancos de tronco feitos por Carrascosa (Foto: Ruy Teixeira)

Esse tipo rústico de habitação, destinado a “pessoas acostumadas a uma vida luxuosa”, entrega o passado de Carrascosa, cujo primeiro trabalho foi na Casa Vogue, no final dos anos 1980, onde se tornou diretor de redação e se viu, aos 20 e poucos anos, entabulando conversas com Oscar Niemeyer, Paulo Mendes da Rocha e Ruy Ohtake. Se o seu arcabouço veio dessa aprendizagem modernista, hoje predomina o encantamento pelo enxaimel, estilo trazido pelos imigrantes alemães fixados no sul do país – e que pode ter surgido na Idade Média ou ainda antes.

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

A cozinha com vista panorâmica, um dos “puxadinhos” que o morador acrescentou na lateral da casa, com teto de vidro e vigas de dormentes – telas de junco filtram o sol, e banquetas da Hábito complementam o balcão (Foto: Ruy Teixeira)

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

Na sala de TV do bloco principal, a luminária industrial vintage se destaca acima do futon revestido com tecido reciclado trazido de Portugal, enquanto a bancada lateral exibe telas indígenas na Arte Canoa – sob a TV, coleção de chocalhos indígenas e cestos de carnaúba na Feira na Rosenbaum (Foto: Ruy Teixeira)

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

No banheiro de um dos chalés, a abertura (à esq.) leva ao boxe, onde o teto é de vidro – paredes e bancada de cimento queimado branco, pia esculpida na pedra e cesto de carnaúba na Feira na Rosenbaum (Foto: Ruy Teixeira)

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

Quarto com almofadas da Arteiro e manta da Ceyla Lacerda (Foto: Ruy Teixeira)

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

A fachada principal do refúgio não deixa dúvidas sobre a semelhança com um celeiro (Foto: Ruy Teixeira)

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

Mesa e bancos da Trapiche Carioca recebem moradores e visitantes com o cojunto de ágata da Lá em Casa e cafeteira de cerâmica da Il Casalingo – ao fundo, vê-se o “puxadinho” da cozinha (Foto: Ruy Teixeira)

Sobre palafitas, casa é construída sem auxílio de máquinas e preservando toda a natureza ao seu redor (Foto: Ruy Teixeira)

Um dos luxos do projeto: a banheira externa aquecida (Foto: Ruy Teixeira)

O método, que se vale de um esqueleto de vigas de madeira em várias posições e depois recheado com material local, é uma opção viável em várias partes do planeta. Até mesmo em Secretário, numa casa de palafita que mescla com muita inventividade artesanato rural e indígena a itens herdados, enquanto temos pés bem assentados no chão. Um chão que nunca sentiu o peso da máquina.