Cheia de cores, casa de estilista em Joanesburgo é pura leveza (Foto: Elsa Young/Bureaux)

A morada fica ligeiramente elevada em relação à rua, pavimentado com tijolos: “As cores da fachada foram escolhidas para complementar e enfatizar os tons da vegetação”, explica a proprietária

Não é todo dia que alguém depara com uma pérola do modernismo em Joanesburgo, apesar de a África do Sul ter sido um dos primeiros polos da arquitetura moderna fora da Europa, em meados do século 20. Há exemplares famosos, claro, porém ainda restam joias escondidas. Imagine a felicidade da estilista Lezanne Viviers e de seu marido, Walter Anderson, quando descobriram uma delas no fim de uma ladeira estreita.

Cheia de cores, casa de estilista em Joanesburgo é pura leveza (Foto: Elsa Young/Bureaux)

No living, na parede turquesa, obras de Georgina Gratrix e Jody Paulsen e, sobre o aparador, luminária de mesa vintage (1969) de Luigi Massoni para a iGuzzini

"Apenas dois proprietários viveram aqui antes. Móveis e acessórios originais do projeto, erguido na década de 1960, se mantiveram intactos"

 
Cheia de cores, casa de estilista em Joanesburgo é pura leveza (Foto: Elsa Young/Bureaux)

O living tem estofado modular, mesa de centro vintage, da Kartell, e, sobre ela, cerâmicas da Artisafire, um estúdio local – ao fundo, o painel de madeira recebeu tela do artista Gresham Tapiwa Nyaude

Desde o recuo frontal tem-se uma bela vista da fachada, mas ela engana: a aparente casa térrea de linhas horizontais é, na verdade, só metade da história. Do outro lado, a construção desce como uma cascata pelo terreno rochoso e revela o pavimento inferior, onde enormes panos de vidro se abrem em direção ao verde. Foi neste local tão singular quanto apaixonante que o casal decidiu viver e instalar a nova grife de Lezanne, no final de 2018. “Definimos que os dois andares funcionariam separados, para não misturar vida profissional e pessoal. Isso me ajuda como equilíbrio”, analisa ela. Tática sábia e muito bem-vinda, especialmente diante da pandemia que pegou o mundo todo de surpresa e impôs, a quem pode, que evite sair.

Cheia de cores, casa de estilista em Joanesburgo é pura leveza (Foto: Elsa Young/Bureaux)

Detalhe do aparador na sala de jantar, onde azul, verde e amarelo se encontram sem gerar ruído – na parede, pintura de Marlene Hettie Steyn

"Após o meticuloso restauro da madeira, Lezanne acendeu os interiores com cores típicas do modernismo, especialmente as primárias"

 
Cheia de cores, casa de estilista em Joanesburgo é pura leveza (Foto: Elsa Young/Bureaux)

A sala de jantar foi montada com cadeiras e mesa dinamarquesas adquiridas em antiquário e, sobre o tampo, objetos da coleção da moradora

Lezanne conta que, ao longo do período mais rígido da quarentena estipulada na África do Sul, ela liberou os funcionários e trabalhou sozinha no estúdio. “Meus pensamentos variaram muito. O pânico cedeu lugar à gratidão pela possibilidade de passar tanto tempo aqui”, reflete. Segura entre as paredes que tingiu com tanto cuidado, ela celebra a luz incrível que inunda os cômodos. Reentrâncias da arquitetura protegem os ambientes do sol direto e as aberturas mantêm tudo fresco e arejado.

Cheia de cores, casa de estilista em Joanesburgo é pura leveza (Foto: Elsa Young/Bureaux)

Outro ângulo evidencia a área de almoço, na qual as paredes receberam tinta laranja-avermelhada e obras de artistas contemporâneos locais, como Lady Skollie (ao fundo) e Nico Krijno (em primeiro plano)

"O ritmo lento das últimas semanas me levou a repensar toda a minha vida. Nutrir as coisas boas tem sido meu principal foco"

Lezanne
Cheia de cores, casa de estilista em Joanesburgo é pura leveza (Foto: Elsa Young/Bureaux)

A moradora posa na cozinha original, único ambiente onde reinam as cores neutras

Não é à toa que Lezanne e Walter se deixaram arrebatar pela casa. Após algumas pesquisas, eles acharam os croquis do projeto, assinado pelo escritório Kock&Orsmond Architects. Mesmo sem informações adicionais, logo notaram que o design guardava todas as características do modernismo regional da década de 1960, com influências de arquitetos como Frank Lloyd Wright e até toques do Japão e do Brasil. Para onde quer que se olhe há texturas, materiais naturais e detalhes decorativos. Contrariando a corrente europeia, o que se vê é insinuante em vez de minimalista, mais extravagante do que impecável e, com certeza, muito mais adequado à subtropical África do Sul.

Cheia de cores, casa de estilista em Joanesburgo é pura leveza (Foto: Elsa Young/Bureaux)

Detalhe do pavimento inferior – envidraçado e com uma ampla varanda, este nível abriga a sede da Viviers, marca de moda criada por Lezanne

Somente dois proprietários viveram aqui antes. Assim, móveis e acessórios originais atravessaram as décadas – de armários a aparadores, prateleiras e painéis. Determinados a resguardar esse legado, Lezanne e o marido se contiveram na renovação. Após o minucioso restauro da madeira, porém, eles se permitiram acender os interiores com cores, e sem parcimônia. “Nada como um pouco de tinta!”, diz ela, que pinçou tons recorrentes da cartela modernista, como azul, amarelo, vermelho e verde.

Cheia de cores, casa de estilista em Joanesburgo é pura leveza (Foto: Elsa Young/Bureaux)

Tingido de tons mais sóbrios e fechados, o quarto principal manteve todos os móveis e acessórios originais da casa

O décor passeia por uma seleção de peças e obras de arte de estimação, a exemplo do estofado no living e dos televisores antigos, provenientes de antiquários. Mas também sobrou espaço para itens contemporâneos, criados por amigos. Escolhas cuidadosas, motivadas pela essência dos moradores. “O ritmo lento dos últimos tempos me levou a repensar toda a minha vida. Nutrir as coisas boas tem sido meu principal foco”, fala Lezanne. Sorte dela poder fazer isso em meio a uma atmosfera vibrante. “Em um nível espiritual, as cores possuem significado e proporcionam cura. Elas são a ferramenta mais emotiva e expressiva que conheço.”

Cheia de cores, casa de estilista em Joanesburgo é pura leveza (Foto: Elsa Young/Bureaux)

O living se abre para uma generosa varanda em balanço, diminuindo os limites entre interior e exterior à moda modernista clássica, num efeito possibilitado pelos painéisde vidro: ali, os olhos se perdem diante da privilegiada área verde de Joanesburgo