• Rafael Belém | Foto André Klotz | Arte Heitor Ferreira
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Maurício Arruda é um dos arquitetos mais populares do Brasil. Seja pelo quadro Lar Doce Lar, exibido pelo Caldeirão do Huck, na TV Globo, ou as centenas de reformas apresentadas ao longo de cinco anos do programa Decora, do GNT, é difícil imaginar alguém que não tenha sido impactado por seu trabalho nas últimas décadas. 

Uma conversa sobre orgulho LGBTI+ com Maurício Arruda (Foto: André Klotz | Arte: Heitor Ferreira)

Uma conversa sobre orgulho LGBTI+ com Maurício Arruda

Antes mesmo de surgir na TV, o londrinense, hoje diretor criativo do escritório Todos Arquitetura, já despontava entre as figuras do design e da arquitetura nacional por seu apelo irrevente, sustentável e criativo. Para além do campo profissional, ele é também um homem gay que vive livremente sua identidade – e sabe como ninguém expressá-la de forma inspiradora e liberta dentro e fora das pranchetas. 

Em entrevista exclusiva à Casa Vogue, Maurício Arruda resgata memórias do passado, fala sobre futuro e celebra ser quem é. "O Mês do Orgulho LGBTI+ é um momento para repensarmos nosso papel como cidadão. Momento de deixar para trás os preconceitos, ouvir a comunidade e orgulhar-se daqueles que vieram antes de mim", diz. "Para eu poder estar aqui hoje e dizer que sou um homem gay, muitos precisaram ter coragem de lutar por isso e até hoje perdem suas vidas". Confira a íntegra do bate-papo:

Qual a sua primeira memória LGBTI+?
Aprender inglês ouvindo Pet Shop Boys.

O que foi mais difícil para você: se assumir para si, para a família ou para o público?
Para a família.

Como foi contar para os pais?
Foi bem complicado. Meu pai já tinha falecido, mas pra minha mãe foi um processo lento de aceitação até tudo ficar bem.

Como foi a sua infância? E adolescência?
A infância foi muito tranquila, mas na adolescência tive muitos conflitos e, infelizmente, não tinha com quem dividir minhas angústias.

Já passou por alguma dificuldade na carreira por ser gay?
Nunca.

Como a vivência LGBTI+ aparece no seu trabalho?
Gosto de contar histórias e transformar casas de pessoas da comunidade. Representatividade muda tudo.

Já perdeu algum cliente por ser gay?
Não, os clientes que não me contrataram por ser gay é que perderem um projeto lindo.

O que pensa quando dizem que arquitetura é ‘coisa de gay’?
É isso mesmo, é coisa de gay, coisa de hétero, coisa de bi, coisa de trans...

Você se preocupa em proporcionar oportunidades para profissionais LGBTI+ no seu escritório? Que tipo de iniciativa toca ou gostaria de tocar?
Muito, mas temos olhado para todas as minorias.

Já sofreu ataques homofóbicos?
Felizmente não, e sou grato pelos que abriram portas antes de mim.

Qual sua concepção de família?
Muito amor e algumas tretas hahaha

Pensa em casar? Ter filhos? Se sim, por qual método?
Sim, estou noivo há dois anos. Quero ter filhos, provavelmente por adoção.

Uma conversa sobre orgulho LGBTI+ com Maurício Arruda (Foto: Reprodução/Instagram)

Maurício Arruda e o noivo Tiago Astolphi

Como você imagina a velhice enquanto homem LGBTI+?
Perto de amigos e de uma família que eu construí.

Quais artistas LGBTI+ você admira?
Ah, muitos! Liniker, Pabllo Vittar, Jonathan Van Ness, Elton John, Sam Smith, Ney Matogrosso, Lulu Santos...

Personagem LGBTI+ favorito?
Cazuza.

Uma personalidade LGBTI+ que mais te representa? Por quê?
Todos adolescentes gays que sofrem bullying. Essa foi uma fase bem difícil pra mim e admiro aqueles que resistem a ela.

O que não te representa?
Qualquer tipo de exclusão.

Um conselho para um homofóbico?
Corra atrás.

Um conselho para quem está no processo de autoaceitação?
Você é único, mas não está sozinho.

Uma mensagem de esperança?
"Você é forte. Só está cansado." (Felipe Morozini)

Faria algo de diferente na sua trajetória até aqui?
Teria contado para as minhas avós que sou gay antes delas partirem.

Qual a importância de celebrar o orgulho LGBTI+?
Muitas pessoas perderam suas vidas lutando pelos nossos direitos.

Do que você mais se orgulha? Do que não?
Da minha comunidade. Do número de travestis assassinados no Brasil.

Uma frase que não aguenta mais ouvir?
"Eu tolero os homossexuais."