Testes

Por Julio Cabral


Ford Ka Freestyle 1.0 se soma ao 1.5, mas não tem opção de câmbio automático (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte
Ford Ka Freestyle 1.0 se soma ao 1.5, mas não tem opção de câmbio automático (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte

Faltava pouco para o Ka cobrir 100% da sua faixa de mercado, apenas um câmbio automático e a versão Freestyle. Os aventureiros representam uma boa parcela das vendas e nenhum fabricante quer abrir mão dessa forcinha. Se o Freestyle 1.5 (confira o teste) responde por 10% do total, o novo motor 1.0 vai encorpar esse número para tentar tirar a vice-liderança do HB20 entre os hatches compactos. As entregas começam em junho.

O Ka aventureiro parte de R$ 56.690 (o 1.5 manual parte de R$ 64.090), próximo dos R$ 58.990 pedidos pelo Fiat Argo Trekking 1.3. A despeito de o Ford ter motor menor, a diferença talvez seja justificada pelo fato de o Freestyle 1.0 oferecer controle de estabilidade e de tração com hill holder (segura o freio automaticamente em subidas e descidas), itens de segurança não presentes no rival.

Modelo 1.0 tem as mesmas alterações mecânicas do 1.5 (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte
Modelo 1.0 tem as mesmas alterações mecânicas do 1.5 (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte


O Ka Freestyle 1.0 segue as alterações feitas no modelo 1.5: suspensão elevada e controle de estabilidade com função anticapotagem em razão do centro de gravidade alto — acentuado pela possibilidade de levar até 50 kg no rack do teto.

Os pneus Pirelli Cinturato P1 185/60 R15 foram mantidos e prejudicam um pouco a agilidade — são necessários 14,7 segundos no zero a 100 km/h —, mas compensam na boa estabilidade.  

O grande senão é que o Argo Trekking tem motor bem mais forte. O Fiat conta com o conhecido 1.3 Firefly, um quatro cilindros de 109/101 cv e 14,2/13,7 kgfm de torque a 3.500 rpm. Bem mais que os 85/80 cv e 10,7/10,2 kgfm de torque do Ka.

Na pista, o rival da marca italiana foi de zero a 100 km/h en 12,2 segundos. Além de cumprir a mesma meta em 2,5 s a menos, o concorrente ainda agrada nas retomadas. Foram 10,8 s para recuperar de 60 a 100 km/h, prova que exige 14,3 s do Ka Freestyle. 

Do Ka Freestyle 1.5 também vem o conjunto de freios mais forte, com discos maiores na dianteira. O resultado de frenagem na pista agradou: foram apenas 25 metros para estancar vindo a 80 km/h, contra 25,6 m do modelo mais potente - a diferença de peso entre eles é mínima (cinco quilos). 

O consumo médio de 9,9 km/l (etanol) poderia ser um pouco melhor. São 8,5 km/l na cidade e 11,3 km/l na estrada, números que não chegam a encantar entre os 1.0 aspirados.

Cabine do Freestyle 1.0 tem acabamento marrom como no 1.5 (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte
Cabine do Freestyle 1.0 tem acabamento marrom como no 1.5 (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte

Nem sempre as versões aventureiras conseguem manter o bom equilíbrio dinâmico das convencionais. Porém, a Ford fez um bom trabalho. A despeito de ter 18,8 centímetros de altura (só 1,2 cm a menos que o EcoSport), o pessoal da engenharia aplicou algumas mudanças para compensar isso. À frente, a barra estabilizadora é 2,3 cm mais espessa e o eixo de torção traseiro é 30% mais rígido. Até as bitolas (distância entre as rodas) ficaram três centímetros mais largas. 

Resultado: o Ka continua a ser bom de dirigir. O objetivo de superar as trilhas urbanas foi atingido: os amortecedores dianteiros com stop hidráulico (que impede batidas secas da suspensão) ajudam a encarar lombadas, buracos e valetas com destreza. O para-choque escapa ileso ao passar pelas mesmas provações. O único senão é o ruído advindo do tampão do porta-malas, que fica apenas encaixado — sem pinos de fixação.

O desempenho no dia a dia é decente. O bom torque do 1.0 permite engatar uma terceira em situações que alguns 1.0 pediriam uma redução para a segunda marcha. Falando nela, a caixa MX65 da Getrag substituí com louvor a antiga transmissão. Os engates são curtinhos e contam com sincronização dupla na primeira, segunda e terceira, uma suavidade que facilita as trocas e, de quebra, evita aquelas vergonhosas arranhadas.

Ka Freestyle 1.0 tem amortecedores com stop hidráulico na frente (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte
Ka Freestyle 1.0 tem amortecedores com stop hidráulico na frente (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte

Na hora de se atirar nas curvas da vida, o Ford também segura a inclinação da carroceria. A direção é bem calibrada: as manobras são levinhas e a tocada em alta é precisa. O volante deve ajuste de profundidade (há apenas de altura), mas tem pega bem definida para as mãos e comando para som.   

Por sua vez, o espaço é bom para até quatro adultos. O teto em arco ajuda a acomodar as cabeças com alguma folga e permite uma posição elevada para os ocupantes, uma maneira de compensar um pouco o entre-eixos de apenas 2,49 metros.

Ademais, o Ka Freestyle 1.0 repete os pontos positivos do mais forte como a central Sync 3 de 6,5 polegadas. Embora não seja tão grande quanto a utilizada pelo EcoSport, a telinha é um diferencial em termos de design e intuitividade, além de ser compatível com Apple CarPlay e Android Auto.

O acabamento também tem a mesma tonalidade marrom, sem superfícies macias ao toque. Mas o que dá o arremate "premium" é o conjunto de bancos com revestimento misto de tecido e uma imitação de couro. Falando em itens de série, há também ar-condicionado, direção elétrica, trio elétrico, volante e banco do motorista ajustáveis em altura e sensor de estacionamento traseiro (com indicação gráfica).

Central multimídia Sync3 é o ponto alto da cabine do Ka (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte
Central multimídia Sync3 é o ponto alto da cabine do Ka (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte

Mas a nova versão também replica o que há de negativo, caso do porta-malas pequeno (216 litros na medição da Autoesporte) e sem botão de abertura externo ou interno, o que pode ser feito apenas pela chave — ainda bem que há banco bipartido. Afora isso, pena que o modelo não tem os airbags laterais e do tipo cortina presentes no Ka Freestyle 1.5, isso ajudaria o Freestyle 1.0 a se afastar mais do Argo Trekking 1.3, que não conta também com os airbags, contudo tem espaço maior e pneus mistos. 

Teste

Aceleração
0 - 100 km/h: 14,7 s
0 - 400 m: 19,6 s
0 - 1.000 m: 36,0 s
Vel. a 1.000 m: 145,2 km/h
Vel. real a 100 km/h: 98 km/h

Retomada
40 - 80 km/h (3ª): 9 s
60 - 100 km/h (4ª): 14,3 s
80 - 120 km/h (5ª): 23,6 s

Frenagem
100 - 0 km/h: 39,7 m
80 - 0 km/h: 25 m
60 - 0 km/h: 23,6 m

Consumo
Urbano: 8,5 km/l
Rodoviário: 11,3 km/l
Média: 9,9 km/l
Aut. em estrada: 583,1 km

Ficha técnica

Motor
Dianteiro, transversal, 3 cil. em linha, 1.0, 12V, comando duplo, injeção multiponto, flex

Potência
85/80 cv a 6.500 rpm

Torque
10,7/10,2 kgfm a 4.500/3.500 rpm

Câmbio
Manual de 5 marchas; tração dianteira

Direção
Elétrica

Suspensão
Indep. McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.)

Freios
Discos ventilados (diant.) e tambores (tras.)

Pneus
185/60 R15

Dimensões
Compr.: 3,95 m
Largura: 1,91 m (1,69 m sem espelhos)
Altura: 1,56 m
Entre-eixos: 2,49 m

Tanque
51,6 litros

Porta-malas
216 litros (Autoesporte)

Peso
1.081 kg

Central multimídia
6,5 pol., sensível ao toque; Android Auto e CarPlay

Garantia
3 anos

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