GWM Haval H6 e BYD Song Plus são carros oriundos de um país que vende por mês o que o Brasil leva um ano para conseguir. Dos mais de 2 milhões de veículos vendidos na China em outubro, 22.1% são eletrificados de alguma forma (híbridos, elétricos ou movidos a hidrogênio).
Era de se imaginar que o Brasil se tornaria o novo alvo das marcas orientais. Tanto BYD quanto GWM adquiriram fábricas no país, em Camaçari (BA) e Iracemápolis (SP), respectivamente, com a promessa de investir em eletrificação. Daí que surgem Haval H6 e o Song Plus.
Até lá, as chinesas terão de lidar com a retomada da cobrança de impostos de importação para carros híbridos e elétricos — pauta que foi defendida no governo com o apoio das maiores fabricantes do país.
Conheça os SUVs
Os SUVs híbridos são concorrentes, mas encabeçam um movimento de resistência. O Song Plus parte de R$ 229.800 e se destaca como o modelo mais em conta do segmento. Já o Haval custa R$ 269.000, mas ainda mantém um valor competitivo na comparação com outros utilitários plug-in.
O BYD tem bons recursos de tecnologia embarcada, enquanto o GWM dispõe de um conjunto elétrico mais robusto. Comecemos pelas similaridades e diferenças.
Ambos os SUVs são equipados com motores 1.5. O Haval tem turbocompressor e injeção direta de combustível, sendo capaz de desenvolver 171 cv de potência e 29 kgfm de torque sem intervenção da eletricidade.
O Song é aspirado e tem um sistema de injeção multiponto mais rudimentar do que o rival. Ainda assim entrega 110 cv de potência e 13,8 kgfm sem a ajuda do motor elétrico. Aqui já é possível entender por que o Haval custa mais.
A conta também favorece o GWM quando a eletricidade entra em ação. O Haval tem um conjunto de baterias de 34 kWh e dois motores elétricos (um em cada eixo). Dessa forma, potência e torque combinados saltam para impressionantes 393 cv e 77,7 kgfm. Pisando fundo, este SUV chinês é um verdadeiro brucutu.
Com 8,3 kWh, a bateria do Song Plus é modesta, característica que justifica o fato deste ser o híbrido plug-in mais barato do país. Ela fornece energia a um único motor elétrico dianteiro que faz os números combinados saltarem para 235 cv e 40,8 kgfm.
O Haval tem transmissão automatizada com duas marchas atreladas ao motor a combustão (uma para baixas e médias velocidades, outra para altas). O SUV costuma priorizar o modo elétrico na cidade por conta da excelente autonomia de 113 km proporcionada pelas baterias. Ao menos para mim, este alcance era suficiente para ir duas vezes ao trabalho e voltar sem gastar uma só gota de combustível — e ainda sobrou! E olha que dependendo do pé do motorista esta autonomia pode chegar perto dos 200 km.
Quem vê o seu estilo sem grande personalidade não imagina que o Haval esconda tanto vigor. Pisando fundo, o SUV acelera de 0 a 100 km/h em 4,9 segundos — isso considerando o seu corpanzil de 2.040 kg.
Mas há um problema. Tanto o acerto de suspensão quanto os freios parecem incompatíveis com o Haval. É preciso apertar o pedal com bastante força para conter seus quase 400 cv.
Já o Song Plus proporciona uma experiência mais neutra ao volante. Não sobra e nem falta potência — tampouco há um punch instantâneo ao pisar no acelerador. Vale lembrar que este BYD tem motor aspirado, claro. Segundo a marca, o SUV chinês chega a 100 km/h em 8,5 segundos.
Nota-se que o acerto dinâmico do BYD é mais voltado ao conforto. A rolagem da carroceria é notória em curvas rápidas, mas a suspensão faz um bom trabalho ao filtrar as irregularidades do solo. Neste ponto, o Song é melhor do que o Haval, que transmite os fortes impactos à cabine.
A ergonomia do Song também me agrada mais que o Haval. O formato do banco dianteiro garante pontos de apoio que mitigam o cansaço do motorista. Vale destacar também a boa empunhadura do volante.
Em termos de dirigibilidade, a diferença de quase R$ 40 mil entre os SUVs se justifica. Você não encontrará algo parecido por este preço em outra marca tradicional. Talvez o mais próximo disso seja o Jeep Compass 4xe, mas aí a conversa escala para R$ 338.400. Pesado…
Equipamentos e espaço interno
Aos que compram SUVs pelo tamanho, o Song é um pouco maior. São 4,70 m de comprimento, 1,89 m de largura, 1,68 m de altura e 2,76 m de distância entre-eixos. O túnel central plano garante bastante espaço para os três ocupantes do banco traseiro, ainda que viajar sentado no meio seja desconfortável.
O Haval tem 4,68 m de comprimento, 1,88 m de largura, 1,72 m de altura e 2,73 m de distância entre-eixos. O túnel central não é totalmente plano, mas este não é o maior problema para os ocupantes traseiros. Quem vai sentado no meio terá dificuldades por causa da saída de ar-condicionado projetada contra os passageiros. Assim, o espaço é inevitavelmente comprometido. Capacidade do porta-malas é outro ponto favorável ao BYD: o Song dispõe de 574 litros, enquanto o Haval tem 560 l.
Pacote de equipamentos é outro tópico que justifica o preço. O Haval tem indicadores de fadiga, sistema de frenagem automática em manobras, chamada de assistência de emergência, assistente de estacionamento semiautônomo, ajuste de lombar, head-up display e controle do veículo por aplicativo. Você não encontrará nenhum destes equipamentos no Song Plus (ao menos na linha 2024).
O Song traz equipamentos legais aqui e ali. Entre eles, destaco o assistente de farol alto, limitador de velocidade, retrovisores externos com aquecimento, banco do motorista com aquecimento, banco traseiro reclinável e até capô sustentável por mola a gás. Novamente, estes itens não estão disponíveis no Haval.
Em termos de design, o painel do Song me agrada mais por ter um estilo ocidental. Seu console é um pouco mais baixo, além de ter uma central multimídia bem legal que pode até girar ao toque de um botão. Já o estilo do Haval me lembra outros SUVs chineses como Ford Territory e Tiggo 8. Coloque isso na conta das linhas horizontais.
Ambos são bem montados e se destacam pelos materiais de qualidade. Há várias partes emborrachadas ou com acabamentos diferenciados que trazem um ar mais sofisticado.
Os SUVs a serem batidos
Creio que a diferença de R$ 40 mil justifique a superioridade de um e a inferioridade do outro. Ambos entregam experiências convincentes de acordo com suas limitações e são excelentes apostas para quem sempre sonhou em ter um carro híbrido plug-in.
Atualmente, há uma diferença de 15% nos preços do Haval e do Song Plus. Se a BYD manter este patamar, o bom posicionamento estará garantido. Por outro lado, se os futuros reajustes aproximarem os valores dos SUVs, será difícil não recomendar a compra do Haval. Os próximos meses serão cruciais, ainda mais com o retorno das taxas de importação.
Haval e Song ficarão mais caros?
Híbridos e elétricos ficarão mais caros no Brasil a partir do ano que vem. A decisão vai contra os planos de descarbonização do próprio governo brasileiro, além de interferir no desenvolvimento da categoria.
Hoje, a China é protagonista na indústria, mas nem sempre foi assim. Nosso colunista Luiz Guerrero lembrou que a própria BYD tinha apenas um cantinho no pomposo Salão de Genebra em 2008. Passaram-se 15 anos, e a marca chinesa emplacou 1,2 milhão de veículos eletrificados no mundo em apenas seis meses.
Retomar a taxação de híbridos e elétricos num momento em que as vendas não são significativas (atualmente 2% do mercado) soa retrógrado. A categoria ficará ainda mais cara e inacessível no momento em que precisa vencer a resistência do público. Vale lembrar: não há invasão chinesa, pois o mercado brasileiro não tem dono.
Talvez este seja o melhor momento para comprar um destes SUVs. O governo vai retomar a taxação de forma progressiva a partir de 1° de janeiro de 2024.
Ficha técnica
BYD Song Plus | GWM Haval H6 PHEV | |
Motor | 1.5, dianteiro, aspirado | 1.5, dianteiro, turbo |
Motor elétrico | 179 cv | 256 cv |
Potência combinada | 235 cv | 393 cv |
Torque combinado | 40,8 kgfm | 77,7 kgfm |
Câmbio | CVT, sem marchas simuladas | Automatizado, 2 marchas |
Suspensão | McPherson (diant.), multilink (tras). | McPherson (diant.), multilink (tras). |
Freios | Discos ventilados (diant. e tras.) | Discos ventilados (diant. e tras.) |
Direção | Elétrica | Elétrica |
Comprimento | 4,70 m | 4,68 m |
Largura | 1,89 m | 1,88 m |
Altura | 1,68 m | 1,72 m |
Distância entre-eixos | 2,76 m | 2,73 m |
Porta-malas | 574 litros | 560 litros |
Autonomia elétrica | 28 km | 113 km |
Cesta de peças | R$ 16.034 | R$ 18.162 |
Seguro | ||
Revisões | R$ 3.330 (até 3 anos ou 36 mil km) | R$ 3.060 (até 3 anos ou 36 mil km) |
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