Recentemente, você viu na Autoesporte testes de compactos elétricos. Mantendo a tradição, o Fiat 500e é o representante da vez, ocupando a, cada vez maior, parcela de lançamentos de veículos movidos a eletricidade. Ele vai concorrer exatamente com os representantes dos meses anteriores: Renault Zoe e Mini Cooper S E.
As armas são quase as mesmas: visual caprichado, foco no uso urbano e tecnologia. Mas cada fabricante usou seu tempero. No caso da Fiat, o condimento italiano tem sabor de passado. É isso mesmo. A aposta é no futuro, mas olhando para trás.
Mais exatamente na primeira geração do Fiat 500, de 1957. Foi esse carrinho que ajudou a Europa, sobretudo a Itália, a se mover após a Segunda Guerra Mundial. Agora, a nova geração do 500 quer fazer o mesmo, difundindo a mobilidade elétrica.
Só que no Brasil, isso ainda é para poucos. Primeiro porque apenas 10 lojas vão comercializar o modelo. Segundo, e, mais importante, é porque a única versão disponível, Icon, custa R$ 239.990. É o mesmo preço do Mini Cooper S E de entrada, e R$ 10 mil mais que um Renault Zoe mais completo.
Mas o pequeno Fiat é o menos potente desse trio. São 118 cv e 22,4 kgfm de torque. Ele também é o menor dos três. E olha que ele cresceu na comparação com a geração anterior, oferecida no Brasil apenas com motores a combustão.
De qualquer forma, seus 3,63 m de comprimento, e especialmente os 2,32 m de entre-eixos fazem dele confortável apenas para duas pessoas. Igualmente acanhado, o porta-malas leva apenas 185 litros. O suficiente para as bagagens de um casal em uma viagem de final de semana.
Só que essa viagem precisa ser planejada, afinal, as baterias de 42 kWh garantem autonomia de 320 km. Para gerenciar o alcance, há três modos de condução, ajustados por meio de um seletor no console central.
O Normal, como o próprio nome adianta, serve para situações cotidianas. Com ele, praticamente não há recuperação de energia em desacelerações, apenas nas frenagens, feitas da forma tradicional – no pedal da esquerda. Não é possível induzir a regeneração por meio de teclas ou posições na alavanca de câmbio, como fazem alguns concorrentes. Aliás, nem alavanca o 500e possui. As marchas são selecionadas em botões, posicionados também no console.
O modo seguinte, Range, aumenta um pouco a autonomia, principalmente porque a regeneração passa a ser bem mais presente, permitindo que o motorista dirija apenas com o pedal do acelerador a maior parte do tempo.
Por fim, há o modo Sherpa, em que o Fiat alcança sua autonomia máxima. Fiquei me perguntando de onde veio esse nome. Após uma rápida pesquisa, descobri a referência à tribo Sherpa, que vive no Tibete e é especializada em ajudar alpinistas a subir o Himalaia, ponto mais alto do mundo.
Imagino tenha sido escolhido porque o modo Sherpa leve o 500e mais longe – devagar e sempre. E limitando desempenho e algumas outras funções do veículo, como o ar-condicionado. Não que o Fiat 500e seja um velocista quando está no modo Normal.
A velocidade máxima é de 150 km/h, a mesma do Mini elétrico. De acordo com a fábrica, são 9 segundos para acelerar de 0 a 100 km/h, menos que um Polo 1.0 turbo ou um Renault Zoe.
As comparações com os compactos elétricos de Renault e Mini continuam. Ainda que o 500e tenha a mesma arquitetura de suspensão traseira do Zoe (eixo de torção), e mais simples do que a do Mini, a dirigibilidade está mais próxima desse segundo, graças ao perfil parecido, com carroceria mais baixa e próxima do solo.
O acerto também é voltado para uma tocada mais dinâmica, e, mesmo na cidade, com velocidades mais baixas, a agilidade para fazer ultrapassagens transmite uma sensação de ir mais rápido do que, de fato, está. Pena que a direção seja “anestesiada” e não transmita tão bem ao motorista o que acontece do lado de fora.
A lista de equipamentos vai pelo mesmo caminho dos rivais. O 500e é bem completo. Destacam-se faróis de LED, quadro de instrumentos digital, central multimídia de 10,25 polegadas com integração Android Auto e Apple CarPlay sem fio, acesso por chave presencial, controle de velocidade adaptativo, assistente de permanência no centro da faixa, frenagem automática de emergência, alerta de veículo no ponto cego e teto solar.
É impossível não falar do 500 sem mencionar o design. Afinal, essa é uma das silhuetas mais icônicas da indústria. A releitura moderna preserva os traços básicos do carrinho dos anos 50, mas avança com faróis divididos e um corpo mais “musculoso”.
Pela primeira vez, o nome 500 substitui o logotipo da Fiat na dianteira. A ausência da grade não é nova. No modelo dos anos 1950, ela era dispensável porque o motor era na traseira.
Trilha sonora
A cabine é moderna e elegante. As portas com acionamento eletrônico são dispensáveis, ao passo que o plástico do topo do painel poderia ser de melhor qualidade. De todo modo, o 500e esbanja charme até no “ronco” artificial, inspirado na trilha sonora que o italiano Nino Rota fez para o filme Amarcord, de 1973.
Se você achou que esse charme ainda não é suficiente, trago boas notícias. A Fiat tomou lições com o pessoal da Jeep, e adotou alguns “easter eggs”. Os tapetes do puxador das portas trazem o desenho de um 500 original e a inscrição “Made in Torino”, enquanto o orgulho das origens é mostrado na base do carregador por indução com o desenho da linha de visão da cidade sede da empresa.
O 500e transita muito bem dentro de seu subsegmento. Ele não é o mais barato, nem o de maior autonomia e muito menor o mais potente. Mas não desaponta em nenhuma dessas categorias. É mais elegante e estiloso do que o Renault Zoe. E mais prático do que o Mini Cooper S E. E isso deve ser suficiente para esgotar os lotes importados da Itália pela Fiat.
Outros 500
Essa não é a primeira vez que o 500 tem uma versão elétrica. Em 2012, a Fiat lançou no Salão de Los Angeles uma versão movida a eletricidade. Com autonomia de apenas 160 km, suas vendas foram restritas ao mercado norte-americano.
A Fiat até chegou a exibir o primeiro 500 elétrico no Salão do Automóvel de São Paulo, mas nunca cogitou vender o pequeno no Brasil.
Ficha técnica
Motor | Dianteiro, elétrico, transversal, assíncrono |
Potência | 118 cv |
Torque | 22,4 kgfm |
Bateria | 42 kWh |
Câmbio | Transmissão direta |
Direção | Elétrica |
Suspensão | Independente, McPherson (dianteira) e eixo de torção (traseira) |
Freios | Discos ventilados (dianteira) e tambores (traseira) |
Autonomia | 320 km (WLTP) |
Comprimento | 3,63 m |
Largura | 1,68 m |
Altura | 1,53 m |
Entre-eixos | 2,32 m |
Porta-malas | 185 litros |
Rodas e pneus | 195/55 R16 |
Peso | 1.352 kg |
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