Curiosidades sobre carros

Por Marcos Rozen

Em 11 de abril de 1969, a indústria automobilística brasileira celebrou oficialmente o marco de 2 milhões de veículos nacionais produzidos — nessa conta entravam carros, picapes, utilitários, caminhões e ônibus. Era um número e tanto, especialmente para um setor industrial relativamente jovem: tendo iniciado a produção local de veículos em 1956, o Brasil alcançou esse volume em cerca de 13 anos.

Para comemorar o feito, a Anfavea, associação nacional que até hoje representa as montadoras no país, decidiu fazer uma grande festa. Ideias na mesa, optou-se por organizar um desfile com absolutamente todos os veículos produzidos no Brasil naquele 1969, do menor automóvel ao maior caminhão. Todas as montadoras toparam a iniciativa.

A encrenca passou então a ser encontrar um lugar que pudesse não só receber um desfile com dezenas de veículos como também abrigar com conforto e segurança o público e autoridades — até o presidente da República foi convidado, além de alguns ministros de Estado.

Pensou-se em fechar uma avenida e construir uma arquibancada temporária; porém, como a festa havia sido agendada para um dia útil (uma sexta-feira), a prefeitura de São Paulo não gostou muito da proposta, que atrapalharia o trânsito. Como os custos também seriam elevados, essa possibilidade acabou sendo descartada.

Comemoração do marco aconteceu no dia 11 de abril de 1969 — Foto: Acervo Miau
Comemoração do marco aconteceu no dia 11 de abril de 1969 — Foto: Acervo Miau

A escolha, então, foi um tanto curiosa: o hipódromo do Jockey Club de São Paulo, no bairro Cidade Jardim, Zona Oeste da capital. Afinal, apesar de desenhado para receber corridas de cavalos, o local tinha em sua pista — mesmo não sendo de asfalto, e sim de piso arenoso — uma boa área para desfile. Melhor ainda era a área para acomodação do público: coberta (chuva ocasional em São Paulo, já naquela época, era coisa quase imprevisível) e com cadeiras.

O desfile atrasou porque o então presidente da República, Costa e Silva, aproveitou a vinda a São Paulo para participar de outros eventos. Chegou ao aeroporto de Congonhas no avião presidencial (um One-Eleven da BAC, British Aircraft Corporation, novinho) às 9h40. De lá, seguiu de helicóptero para São Sebastião, onde inaugurou um terminal marítimo da Petrobras.

A seguir, outra viagem de helicóptero, agora até Santo André, para participar da cerimônia de assentamento da pedra fundamental do Polo Petroquímico de Capuava. E só de lá Costa e Silva foi para o Jockey. Conclusão: chegou apenas às 15h30.

O desfile começou por volta das 16h e durou cerca de meia hora. Para “engordar” um pouco mais a parada, as montadoras não levaram apenas um carro de cada modelo nacional, mas sim uma unidade de cada versão produzida no Brasil.

Assim, o “páreo” foi concorrido: tomaram a pista do Jockey várias novidades de então, como Chevrolet Opala, Ford Corcel, Galaxie LTD e o VW 1600 (vulgo “Zé do Caixão” ou “Fusca quatro portas”), inclusive em uma versão mais espartana, para uso como táxi.

Também desfilaram pela “passarela” versões especiais como os Fuscas viatura de polícia (apelidados de “Joaninha”) e as Kombis luxo 6-portas e ambulância. Participaram ainda o Karmann-Ghia e modelos da Willys até então produzidos pela Ford, como Aero, Jeep, Rural e F-75, bem como várias picapes Ford e Chevrolet e um Galaxie 500.

Ou seja, praticamente todos os clássicos hoje disputados a tapa por qualquer colecionador de carro antigo estavam por lá. Roubaram a cena caminhões Mercedes-Benz LP e Scania L e LS, apelidados de “Jacaré”. Teve até fanfarra, do Grupo Escolar Baeta Neves, de São Bernardo do Campo.

O presidente da República não discursou, mas o ministro da Indústria e Comércio, Edmundo Soares, sim. Disse que, “ao atingir o bi-milionésimo veículo, a indústria prova que está em pleno florescimento e abre esperanças a cada cidadão que sonha com a hora de ter o seu carro”. Apesar do silêncio, o presidente Costa e Silva não saiu de mãos vazias: ganhou da Anfavea uma medalha de ouro alusiva ao marco.

Só faltou mesmo o locutor do Jockey, que narra as corridas dizendo o nome dos cavalos tão rápido que mal dá para entender e termina sempre com o bordão “e cruzam a faixa final”. Já imaginou?

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