Lula avalizou propina de R$ 300 mi da Odebrecht ao PT, diz Palocci
Trecho do depoimento de Palocci a Sergio Moro
Trecho do depoimento de Palocci a Sergio Moro
O ex-ministro Antonio Palocci disse nesta quarta-feira (6) ao juiz Sergio Moro que o ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva avalizou um "pacto de sangue" no qual a Odebrecht se comprometeu a pagar R$ 300 milh�es em propinas ao PT entre o final do governo Lula e os primeiros anos do governo Dilma, segundo seus advogados.
O ex-ministro disse que o acordo foi fechado numa conversa entre Em�lio Odebrecht e Lula. O empreiteiro estava preocupado que a rela��o da empresa com a presidente Dilma Rousseff n�o fosse t�o fluida como no governo Lula.
O empres�rio prop�s a Lula um "pacto de sangue" para manter o protagonismo da Odebrecht n�o s� nos contratos da Petrobras, mas em todo o governo. O acordo previa a reforma do s�tio de Atibaia, a compra do terreno da nova sede do Instituto Lula e R$ 300 milh�es de vantagens indevidas � disposi��o de Lula e do PT.
Lula chamou Palocci para que o ex-ministro decidisse como eles receberiam aquele dinheiro. O ex-ministro menciona o exemplo de R$ 4 milh�es entregues no Instituto Lula. As informa��es da entrega est�o descritas na Planilha Italiano B. O dinheiro saiu do setor de opera��es estruturadas da Odebrecht. A forma de entrega, segundo Palocci, foi combinada por Branislav Kontic, seu ex-assessor.
O ex-ministro foi ouvido na a��o em que Lula � acusado de ter recebido, da Odebrecht, um terreno de R$ 12,4 milh�es destinado a ser a nova sede do Instituto Lula (neg�cio que acabou n�o se concretizando) e um apartamento de R$ 540 mil em S�o Bernardo do Campo (SP), vizinho ao que o petista mora com a fam�lia.
Palocci confirmou a acusa��o feita pelo Minist�rio P�blico Federal, que diz que a compra disfar�ava propina ao ex-presidente e admitiu que mediou este arranjo. Disse que fez tudo com o aval de Lula. A compra do terreno onde seria constru�da a nova sede do Instituto Lula foi feita via a empresa DAG, usada como laranja na compra.
O neg�cio foi operacionalizado por Roberto Teixeira, advogado e compadre de Lula, e o pecuarista Jos� Carlos Bumlai, amigo do petista. Palocci disse que ele e Lula eram informados de tudo sobre o neg�cio.
Segundo o depoimento de Palocci, ele e Marcelo Odebrecht ficaram preocupados achando que as autoridades poderiam desconfiar da opera��o. De acordo com os advogados, o ex-ministro afirma ter tentado dissuadir a Odebrecht de comprar o terreno, mas, diante da insist�ncia de Lula, foi preciso um jantar na casa do ex-presidente, em S�o Bernardo do Campo, para que o ex-ministro os dissuadisse da ideia.
Segundo Bretas, o ex-ministro convenceu os demais de que "era uma opera��o escandalosa e poderia expor demais essa situa��o [o arranjo entre PT e Odebrecht]".
O ex-ministro tamb�m disse a Moro que ele e Lula cometeram atos para obstruir a Lava Jato. Moro, no entanto, disse que esse ponto seria abordado em outra oportunidade.
OUTRO LADO
O ex-ministro da Fazenda Antonio Palocci negocia dela��o premiada com a for�a-tarefa da Lava Jato. O acordo ainda n�o foi fechado, mas caminha bem, segundo a defesa do petista. O advogado Tracy Reinaldet diz seu cliente "demonstrou no depoimento a postura de colaborador perante �s autoridades", diz.
A defesa do ex-presidente Luiz In�cio Lula da Silva afirmou que o depoimento de Antonio Palocci, ex-ministro de seu governo, � contradit�rio, carece de provas e almeja um acordo de dela��o premiada com a Opera��o Lava Jato.
Os advogados sustentam que as acusa��es de Palocci est�o em desacordo com as informa��es fornecidas por "testemunhas, r�us, delatores da Odebrecht e com as provas apresentadas". Essa mesma tese foi defendida pela assessoria de imprensa do Instituto Lula, em nota divulgada na noite desta sexta (6).
Ambos defendem que as acusa��es contra Lula s�o "falsas" e "sem provas". "Preso e sob press�o, Palocci negocia com o MP acordo de dela��o que exige que se justifiquem acusa��es falsas e sem provas contra Lula. Como L�o Pinheiro [ex-presidente da OAS] e Delc�dio [do Amaral, ex-senador], Palocci repete papel de validar, sem provas, as acusa��es do MP para obter redu��o de pena", disse o advogado do ex-presidente, Cristiano Zanin Martins.
A defesa de Branislav Kontic disse que n�o teve ci�ncia, ainda, da �ntegra dessas declara��es, alegou que a doa��o de R$ 4 milh�es ao Instituto Lula pela Odebrecht foi oficial e est� devidamente contabilizada. "Isso � de conhecimento p�blico. Portanto, nenhuma ilegalidade ocorreu nesse caso. A prova � documental."
INSTITUTO LULA
A anota��o "pr�dio IL [Instituto Lula]", alvo principal do processo em que Palocci foi ouvido nesta quarta-feira, � uma das rubricas da planilha Italiano. Em dela��o, Marcelo Odebrecht confessou que usou R$ 12,42 milh�es para comprar um terreno em S�o Paulo que se destinaria a uma nova sede do Instituto Lula.
A mudan�a, segundo a den�ncia, nunca ocorreu devido a problemas burocr�ticos, mas o terreno chegou a ser comprado pela DAG Construtora, uma empresa que teria servido como "laranja" no neg�cio. Na manh� desta quarta (6), o dono da DAG, Dermeval Gusm�o, confessou ter pago R$ 7,1 milh�es pelo terreno e disse ter ficado sabendo, indiretamente, do interesse de Lula no terreno.
DELA��O
Palocci foi condenado no dia 26 de junho a mais de 12 anos de pris�o. Moro concluiu que o ex-ministro ordenou o repasse de US$ 10,2 milh�es da Odebrecht ao marqueteiro Jo�o Santana por meio de dep�sitos no exterior.
O pagamento consta na planilha "Italiano", que controlou, segundo a megadela��o dos executivos, desembolsos de R$ 133 milh�es (dentro um saldo total de R$ 200 milh�es) que a empreiteira fez de 2008 a 2014 para atender a pedidos do PT. O montante, segundo a Odebrecht, era parte de um acordo feito entre Marcelo Odebrecht e Palocci, do qual o ex-ministro nega a "paternidade" at� hoje.
Quando dep�s neste processo, em maio, Palocci negou as acusa��es, mas insinuou o desejo de fazer dela��o, se dizendo "� disposi��o" da Justi�a para dar "fatos com nomes, endere�os, opera��es realizadas e coisas que v�o ser certamente do interesse da Lava Jato". Na ocasi�o, o ex-ministro disse ter omitido alguns nomes "por sensibilidade da informa��o".
Poucos dias depois do depoimento, o advogado Jos� Batochio, que defendia Palocci e � abertamente contra as dela��es, deixou o cliente, e o petista passou a negociar um acordo com o MPF (Minist�rio P�blico Federal) por meio de outros defensores.
Ao condenar Palocci, Moro n�o gostou da postura do ex-ministro, afirmando que as indiretas sobre dela��o "soaram como uma amea�a" a investigados para que o ajudassem a ser solto. O ex-ministro foi preso h� quase um ano, em 26 de setembro de 2016, na 35� fase da Lava Jato.
CONTROV�RSIA
A Odebrecht sustenta que o dinheiro foi abatido de um montante de propina de R$ 40 milh�es que ficou reservado para uso de Lula ao final do mandato dele, em 2011. Na �ltima segunda-feira, Marcelo Odebrecht disse a Moro que Lula sabia da origem suja do dinheiro.
O empreiteiro alega ter pedido ao pai dele, Em�lio Odebrecht, que alertasse Lula para o baixo valor em doa��es oficiais que o PT receberia da construtora em 2010. Isso porque ela j� vinha bancando demandas do partido desde 2008 com base no acordo entre Marcelo e Palocci, que previa o repasse de R$ 200 milh�es ao longo dos anos seguintes.
Na sequ�ncia, Marcelo diz ter sido abordado por Palocci, que foi tirar satisfa��es sobre aquela conversa. Com isso, o empreiteiro concluiu que seu pai, Em�lio, fez o alerta a Lula, que por sua vez comentou o tema com Palocci; logo, Lula sabia de tudo.
A defesa do ex-presidente, no entanto, chamou a aten��o nos autos do processo para uma contradi��o entre Marcelo e Em�lio Odebrecht. Enquanto o filho sustenta que a informa��o chegou a Lula, Em�lio disse, em depoimento neste processo, que nunca falou com Lula sobre isso.
Marcos Bezerra/Futura Press/Folhapress | ||
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O ex-ministro Antonio Palocci deixa a sede da PF em S�o Paulo, em 2016 |
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