• Adri Coelho Silva (@vivaacoroa)
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Resort 2023 Trend Report (Foto: Getty Images)

Adri Coelho fala sobre etarismo e invisibilidade 50+ (Foto: Getty Images)

Já postei muitos textos e vídeos sobre a invisibilidade 50+, especialmente feminina, na publicidade. E voltei do 69o Festival Lions com a certeza de que tenho que falar mais e muito mais sobre o assunto. No maior encontro anual da indústria de publicidade e comunicação criativa, que acontece em Cannes, na França, o mundo presente e futuro é dos jovens, contrariando o bom senso e todas as projeções de estáticas populacionais mundiais – segundo a Nações Unidas, até 2050 a população mundial 60+ deve duplicar, e até 2100 triplicar. E os dados e projeções não são novidade, mas ventilados pela ciência desde 2008.

Enquanto as pesquisas falam de um mundo mais velho, as “mentes mais criativas do mundo” insistem no hit Forever Young, que aliás, fez parte da juventude de muitos dos leões que estavam por lá. Deve estar funcionando, eu presumo. As empresas devem estar comercialmente muito satisfeitas e confortáveis em ignorar não só um mercado consumidor crescente – como uma parcela populacional mundial em ascendência. Tanto é que Ted Sarandos, CoCEO do Netflix, homenageado com o Lion de Personalidade do Ano, afirmou que “Conhecer jovens” é o que mais o inspira. O que tem de errado nisso? Nada. Mas eu também assisto à Netflix. E você? Pois é.

Fiquei decepcionada com Ted e bastante impressionada com Naomi Campbell. A coroa estava em um dos painéis sobre inclusão e contava sobre seu trabalho na Fashion of Relief (ONG que fundou em 2005, pós-furacão Katrina, focada em lugares afetados por desastres). Hoje, Naomi faz a ponte entre grandes marcas de moda e estudantes de mercados emergentes. “Não é caridade. Não é ajuda. Não é para você se sentir confortável por estar ajudando. É geração de oportunidade real”, disse ela, firme. A verdade é sexy, não é? Quando vem acompanhada de conhecimento de causa, experiência e de uma quebra de paradigma... aí fica mesmo UAU.

Jovens quebram paradigmas. Coroas também – e cada vez mais. A superatriz Regina Hall é um exemplo, e estava no evento. Assisti uma palestra com ela  e fiquei com uma frase marcada em mim: "Focar nas possibilidades, não nas limitações." É isso o que tento fazer na vida. No entanto, se aplicar à máxima a esse texto, contaria sobre a campanha da ONG inglesa Relate e colocaria o ponto final. É que os 50+ não apareceram em nenhum outro case dos que eu vi no Festival. Em nenhum. A exceção é a campanha da ONG que mostra casais reais 50+ em cenas de intimidade e sensualidade para alertar sobre os riscos das doenças sexualmente transmissíveis. Sim, velhos transam. Jovens também. Estamos todos vivos, afinal. Mas não somos vistos…

Fato é que o etarismo em um festival de 69 anos é um meme pronto. Chega a ser constrangedor. Eu que não sou do “metiêr”, observei isso, mas tenho a impressão que a maioria dos insiders estão míopes para o tema, mas não todos. O @instayoupix fez um post afirmando e argumentando que “O futuro da publicidade não está no sul da França”. Dei like. E estou aqui pensando: será que os consumidores velhos estão nas mentes criativas jovens dos festivais da Vidcon? Será que Cannes envelheceu tão mal assim? Negar a própria velhice, eu posso afirmar com certeza, é uma roubada gigantesca… Se eu tivesse uma mente criativa, trataria de criar uma solução para desfazer esse ruído já. Como diria Cartola: “Ainda é cedo, amor”.