• Redação Galileu
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Cientistas já observaram animais não humanos se automedicando, mas é a primeira vez que chimpanzés não tratam apenas as suas próprias feridas, mas também as dos outros  (Foto: Reprodução/Tobias Deschner)

Cientistas já observaram animais não humanos se automedicando, mas é a primeira vez que chimpanzés não tratam apenas as suas próprias feridas, mas também as dos outros (Foto: Reprodução/Tobias Deschner)

Pela primeira vez, pesquisadores observaram chimpanzés aplicando insetos em suas feridas e nas de outros do bando. Em um estudo publicado nesta segunda-feira (7) no periódico Current Biology, os cientistas descrevem o comportamento e argumentam que se trata de uma evidência de que esses primatas têm a capacidade de comportamentos pró-sociais – como a empatia em humanos.

Em novembro de 2019, Alessandra Mascaro, voluntária do Projeto Chimpanzé Ozouga — que pesquisa e conserva a população de chimpanzés em Loango, no oeste do Gabão —, observou uma chimpanzé chamada Suzee inspecionando uma ferida no pé de seu filho adolescente, Sia. Depois, a mãe pegou um inseto no ar e o colocou na boca para aplicá-lo no machucado.

Pesquisadores do Ozouga estudavam esse grupo de chimpanzés no Parque Nacional de Loango havia sete anos. No entanto, nunca tinham testemunhado um comportamento como esse. Mascaro fez um vídeo da mãe e do filho (assista abaixo)e o mostrou para seus supervisores Tobias Deschner, primatologista do projeto, e Simone Pika, bióloga cognitiva da Universidade de Osnabrück, na Alemanha.

“No vídeo, você pode ver que Suzee está olhando para o pé de seu filho, como se pensasse: ‘O que eu poderia fazer?’, então ela olha pra cima, vê o inseto e o captura para seu filho”, explica Mascaro, em comunicado. A equipe começou, então, a monitorar os chimpanzés para esse tipo de comportamento e, nos 15 meses seguintes, documentou 76 casos do grupo aplicando insetos nas feridas uns dos outros.

Esta não foi a primeira vez em que animais não humanos foram observados se automedicando. Pesquisas já relataram que ursos, elefantes e abelhas também fazem isso. As novidades são a aplicação de insetos e o fato de que os chimpanzés não tratam apenas suas próprias feridas, mas também as dos outros.

Pika argumenta que o ato de aplicar um inseto no machucado alheio é um exemplo claro de comportamento pró-social – que atua no melhor interesse dos outros, e não apenas de si mesmo. “Isso é, para mim, de tirar o fôlego, porque muitas pessoas duvidam das habilidades pró-sociais em outros animais”, diz ela. “De repente, temos uma espécie em que realmente vemos indivíduos cuidando uns dos outros.”

A equipe de pesquisa não sabe exatamente quais insetos os chimpanzés estão usando ou quais são suas propriedades medicinais. “Os humanos usam muitas espécies de insetos como remédios contra doenças – há estudos mostrando que os insetos podem ter funções antibióticas, antivirais e anti-helmínticas”, explica Pika. Pesquisadores também teorizam que os insetos podem ter propriedades calmantes capazes de proporcionar alívio da dor.

A equipe do Ozouga agora pretende identificar os insetos que estão sendo usados ​​pelos chimpanzés e documentar quem está aplicando os bichinhos em quem. “Estudar grandes primatas em seus ambientes naturais é crucial para esclarecer nossa própria evolução cognitiva”, diz Deschner. “Precisamos ainda nos esforçar muito mais para estudá-los, protegê-los e também proteger seus habitats naturais.”