• Juliana Duarte
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bebe (Foto: Tara Moore / Getty Images)

Dentro do útero, o bebê não entra em contato com vírus e bactérias. Portanto, seu organismo desconhece esses agentes. Entretanto, quando ele vem ao mundo, abandonando o abrigo uterino, fica à mercê desses micro-organismos. É por isso que problemas como otitedor de garganta e outros quadros infecciosos afetam as crianças. Na tentativa de se fortalecer e equilibrar, a imunidade também pode reagir de forma exagerada a fatores aparentemente inofensivos – do pólen das flores a alimentos. O resultado é uma alergia daquelas, cuja manifestação normalmente ocorre no sistema respiratório ou na pele.

Para superar essa fase sem tanto transtorno, o segredo é ter muita paciência e adotar certos hábitos. O parto normal é a primeira contribuição que você pode dar à saúde do seu filho, pois o contato dele com as bactérias do canal vaginal ajuda a desenvolver resistência. Amamentar também é fundamental. Por meio do leite, a mãe transfere substâncias que atuam como anticorpos no organismo da criança. É por esse motivo que o aleitamento deve ser exclusivo até os 6 meses e complementar até os 2 anos, segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS).

O terceiro passo é caprichar na introdução alimentar, incluindo frutas, hortaliças, carnes e leguminosas no cardápio infantil, a partir do segundo semestre de vida. Assim, você garante energia, vitaminas e minerais. Por fim, ensinar seu filho a lavar bem as mãos – especialmente ao chegar da rua, depois de brincar ou de usar o banheiro, e antes das refeições – ajuda a mantê-lo livre de vírus e bactérias. Mesmo com tanto cuidado, é possível que um problema ou outro surja de vez em quando, especialmente quando seu filho frequentar a escola e entrar em contato com outras crianças. CRESCER levantou, com a Sociedade de Pediatria de São Paulo, as doenças mais comuns nos primeiros anos e agrupou-as em sete blocos. Veja como contorná-las.

ALERGIAS

Bebê (Foto: Tara Moore / Getty Images)

Três por cento das crianças sofrem com quadros alérgicos, segundo a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP). Os de origem alimentar são normalmente provocados por alguma proteína, conservante ou corante, causando dores abdominais, coceira, erupções na pele e até dificuldade respiratória. Leite de vaca, clara de ovo, soja, trigo e peixe encabeçam a lista dos ingredientes causadores desses episódios. A alergia ao primeiro é a mais comum na infância e pode apresentar sangue nas fezes como sintoma adicional. O tratamento consiste em retirar da dieta o alimento. Em fase de amamentação, pode ser necessário excluir o item da alimentação materna, já que ele pode passar para o bebê por meio do leite.

Quando se trata de alergia respiratória, ela pode se manifestar tanto como rinite, caracterizada por coriza, espirros e congestão nasal, quanto em forma de asma, quando acomete os brônquios, ocasionando dificuldade respiratória, chiado no peito e tosse, entre outras complicações. Os agentes promotores dessas crises variam de uma criança para outra, mas, entre os principais, estão os ácaros, presentes em roupas e cobertores, o pólen das flores, a poeira e os pelos de animais. A estratégia de prevenção também consiste em manter a criança longe do gatilho. Por isso, deixe o ambiente sempre limpo e arejado, evitando bichos de pelúcia e outros objetos que possam acumular poeira no quarto do seu filho. Um especialista irá orientar o tratamento com remédios, sejam para os momentos de crise, sejam para uso contínuo. Picadas de inseto também têm potencial de desencadear alergia, com coceira e vermelhidão, que duram até dez dias. O pediatra pode prescrever um tratamento com anti-histamínicos.

INFECÇÃO NO OUVIDO

A chamada otite média surge quando há acúmulo de secreção no canal auditivo, devido a gripes e resfriados, ou do próprio leite, que pode escoar ao amamentar com o bebê na horizontal, tornando o ambiente propício à proliferação de bactérias. Em geral, o problema se manifesta pelo menos uma vez até os 5 anos e pode exigir tratamento com antibióticos. No caso dos bebês, é fundamental ficar atento a sinais como choro intenso e febre. Existe ainda um quadro mais brando, a otite externa, que geralmente ocorre por excesso de umidade. Secar bem os ouvidos com uma toalha, após o contato com água, é a melhor forma de diminuir a ocorrência – o uso de cotonetes é contraindicado, porque eles empurram a cera para os tímpanos e diminuem a proteção do conduto auditivo.

INFECÇÃO NA GARGANTA

Falta de apetite e febre alta, em geral, caracterizam as infecções de faringe e amídalas, causadas por vírus ou bactérias. O tipo viral ocorre com maior frequência até os 2 anos e é comum haver três episódios por ano – o contágio se dá por contato com saliva infectada e outras secreções. A dor incomoda por três dias e o tratamento, com analgésicos e antitérmicos, visa o alívio dos sintomas até que a doença regrida espontaneamente. Já as bactérias desencadeiam um quadro intenso, comum entre 3 e 6 anos, que requer uso de antibióticos. Mas atenção: é preciso seguir à risca a duração, os intervalos e as doses do remédio, caso contrário, os micro-organismos podem se tornar resistentes. Episódios muito recorrentes podem exigir uma cirurgia de extração das amídalas.

CONTAMINAÇÕES

Vírus, bactérias ou parasitas, presentes em água ou alimentos contaminados, podem invadir o organismo e provocar vômito, flatulência, diarreia e dores abdominais. Embora pareça algo corriqueiro, a diarreia está entre as principais causas de morte infantil no Brasil, em decorrência da desnutrição e da desidratação, resultantes dos quadros mais graves. Fundamental em todos os casos, o tratamento inclui a ingestão de 50 a 100 mililitros de soro caseiro por dia (para um litro de água, adicione 3,5 gramas de sal e 20 g de açúcar) e um cardápio rico em alimentos de fácil digestão, como legumes, verduras e frutas. O leite materno ajuda na recuperação.

CATAPORA, CAXUMBA...

... rubéola, sarampo... Causadas por vírus, essas doenças são transmitidas por meio da saliva e levam de 5 a 14 dias para entrar em remissão espontânea. O tratamento consiste no alívio dos sintomas, com analgésicos e antitérmicos, e na prevenção de complicações – como a pneumonia, no caso do sarampo. Todas são passíveis de prevenção com a mesma vacina, chamada de tetra viral, aplicada em dose única, aos 15 meses de vida. Cada problema tem suas particularidades, mas sintomas como febre, prostração, manchas no corpo, tosse, coriza e falta de apetite devem ser relatados o quanto antes ao pediatra. Se houver contágio, restrinja o contato com outras crianças para prevenir a transmissão. Nesse caso, ofereça ao seu filho bastante água, hortaliças e frutas para aumentar sua resistência. O repouso também é essencial. Outro alerta é que a mãe pode transmitir rubéola ao bebê no primeiro trimestre de gestação. Por isso, mulheres que pretendem engravidar devem fazer exames para detectar se são imunes ao problema. Se não, precisam tomar vacina.

REFLUXO

O refluxo, frequente no primeiro ano de vida, não está relacionado à imaturidade do sistema imunológico, mas do digestivo. Ele ocorre quando o alimento chega ao estômago e volta para o esôfago. Nos primeiros meses, o fato de a criança ingerir apenas líquidos intensifica esse retorno. A boa notícia é que o problema tende a diminuir à medida que ingredientes sólidos forem incluídos no cardápio. Uma dica para amenizar o desconforto é amamentar em posição vertical e não exagerar na quantidade de leite. Colocar o bebê para arrotar em pé no colo, por cerca de 20 minutos, também facilita a digestão. Quadros severos podem exigir o uso de medicamentos.

GRIPE E RESFRIADO

Apesar de parecidos, gripe e resfriado têm características diferentes e são causados por vírus distintos. Nos dois casos, a principal forma de contágio é a saliva, eliminada durante tosses e espirros. O resfriado costuma ser mais brando, com coriza e irritação das mucosas. Já o pacote da gripe inclui febre, dor muscular e cansaço. Nas duas situações, o tratamento serve para aliviar os sintomas, uma vez que o problema regride automaticamente. Manter a hidratação, com chás, água e sucos, acelera a recuperação. Para prevenir os quadros gripais, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) recomenda a vacinação a partir dos 6 meses. A bronquiolite, uma infecção nos bronquíolos, também é comum em bebês prematuros e crianças de até 2 anos. Causada principalmente pelo vírus sincicial respiratório (VSR), promove febre, dificuldades para respirar, tosse e chiados no peito. Em casos graves, requer internação hospitalar. A forma de contágio é a mesma da gripe. Por isso, evite levar a criança a locais com aglomeração de pessoas ou outros bebês doentes. De acordo com a SBP, prematuros devem receber aplicações mensais de palivizumabe, um remédio à base de anticorpos, que evita a infecção pelo VSR, especialmente perigosa para essas crianças.