• Texto Marilena Dêgelo | Realização Nuria Uliana
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 (Foto: Lufe Gomes)

Deque: Rafael brinca com as filhas Carolina e Marina ao lado da piscina com borda infinita,revestida de pastilhas, da Pastille Revestimentos. Lanternas, da Regatta Casa. Futon e almofadas, da Futon Company   (Foto: Lufe Gomes)

A primeira impressão é de que o tempo parou na fazenda de 150 anos em Brodowski, interior de São Paulo. Mas logo se percebe que lá ele anda no ritmo certo. O gerador de energia eólica, no ponto mais alto da área de 350 hectares, é a promessa de bons ventos para abastecer o local. Poucos metros adiante, no meio de uma imensidão verde, tumbérgias quase camuflam uma pequena construção que mistura aço inox, pedras e vidro. Nela mora o casal Ana, 33 anos, e Rafael Borges, 42, com as três filhas, mais uma cachorra e uma família de gatos.

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 (Foto: Lufe Gomes)

Varanda: O morador descansa na rede olhando para o horizonte verde de sua fazenda. Embaixo, as pedras recolhidas no local emolduram a entrada para o porão, onde ficam a sauna e o quarto de hóspedes (Foto: Lufe Gomes)

Há dois anos, eles escolheram esse cenário para criar as meninas e iniciar nova história na fazenda – focada em produtos orgânicos de leite de búfala com a marca Gondwana –, que busca resgatar antigos valores sem abrir mão das altas tecnologias. De área útil, a casa tem 130 m2. Detalhe: as duas suítes são contêineres reaproveitados. Somente a cozinha e área de serviço possuem paredes de alvenaria de pedras colhidas na fazenda e de tijolos de demolição. No meio, o espaço, fechado nas laterais por painéis de vidro, reúne salas de estar e de jantar. “A gente sempre quis uma casa pequena”, diz Rafael, que é formado em zootecnia. “Não precisamos mais do que isso para ter qualidade de vida.”

 (Foto: Lufe Gomes)

Vão livre: De 30 pés, os contêineres, usados no porto de Santos e comprados no Mercado Livre, estão apoiados nas extremidades, formando, embaixo, o espaço para as crianças brincarem e para almoços com os amigos (Foto: Lufe Gomes)

 (Foto: Lufe Gomes)

Pátio: A cozinha e a lavanderia ficam em volume de alvenaria de tijolos de demolição e de pedras brutas, que dão para a área com piso de mosaico português. À esq., o banco de madeira serve de guarda-corpo (Foto: Lufe Gomes)

Isso é verdade considerando a paisagem que cerca a construção, atravessa a sala e pode ser vista de todos os cômodos por janelas em pontos estratégicos. Foram exatamente a possibilidade de olhar o tempo todo para o horizonte e a calma que ele transmite as razões que levaram a mudança da família para a casa. No início, o arquiteto Jorge Siemsen fez o projeto para ser a moradia do queijeiro do laticínio da fazenda. “Eu quis que a casa tivesse leveza e se encaixasse nas linhas horizontais da paisagem”, explica Jorge. “Com os contêineres apoiados somente nos extremos, se formou embaixo o vão livre que contrabalança com a parede de pedras e conversa com a transparência da sala.”

 (Foto: Lufe Gomes)

Marina carrega a lanterna, da Depósito Kariri. Da mesma loja, toalha de renda e panelas de barro sobre a mesa de refeições, atrás, no vão livre. No gramado dos fundos, futons, da Cinerama. À dir., a cachorra Beris protege-se do sol sob o banco de madeira (Foto: Lufe Gomes)


No final da obra, Rafael gostou tanto do resultado que convenceu Ana a viver ali. “Pensei que seria difícil porque, afinal, nossa primeira casa seria de contêineres. Mas ela encarou o desafio”, diz o morador. Desde que se casaram, em 2005, eles moravam na casa sede da fazenda, construída há 140 anos pelo bisavô de Rafael. Lá nasceram Joana, 6 anos, e Marina, 4. O casarão colonial de 800 m2 não é prático para quem tem crianças, segundo o morador: “Tudo era longe. Aqui damos dois passos e estamos no quarto das meninas.” Entre os dois contêineres – cada um dividido em quarto e banheiro –, foi criado corredor com piso de madeira e teto de vidro. Tudo fica apoiado em dois muros de pedras brutas. “Joana faz escalada nas pedras”, conta Ana, que, depois da mudança, teve Carolina, de 1 ano.

 (Foto: Lufe Gomes)

Fachada: A sala é fechada nas laterais por painéis de vidro deslizantes que deixam ver a paisagem ao redor. A cobertura tem vigas de madeira que eram da antiga tulha, onde se guardava os grãos de café na fazenda (Foto: Lufe Gomes)

Formada em ciências contábeis, ela “abraçou a causa do marido” desde que o conheceu, há 10 anos. Na época, ele iniciava a criação de búfalos e havia herdado a gleba da fazenda, onde emprega as técnicas de agricultura orgânica que aprendeu na Austrália. Ana ajuda o marido nas finanças. O escritório da Gondwana fica no prédio da ordenha, a 180 metros da casa. Com a internet, muitas vezes, ela trabalha na mesa de seu quarto e, assim, pode cuidar melhor das crianças. “É bom ter mais de uma filha quando se mora em local isolado. Aqui está sendo fácil criá-las porque elas ficam à vontade”, afirma.

 (Foto: Lufe Gomes)

Cozinha: Os caixilhos e os móveis foram feitos na antiga marcenaria da fazenda. Piso de ladrilhos, da Dalle Piagge. Colheres de pau, da Depósito Kariri. Sala de jantar: Joana faz os deveres da escola na mesa de jantar com tampo de jacarandá. As cadeiras são de bálsamo e mogno, com assento de couro de búfalo. As madeiras são de área de manejo da floresta local  (Foto: Lufe Gomes)

 (Foto: Lufe Gomes)

Living: Os fundos dos contêineres têm paredes falsas revestidas de pedras basalto ferrugem, da BrichStone. Acima da TV, obra do artista Rox Rezende. Tapete de lã, da Cinerama, e assoalho de cumaru. No corredor, teto de vidro. Abaixo, colares da tribo dos Banawás, no Peru (Foto: Lufe Gomes)

Uma das diversões das meninas é a piscina, feita na fachada voltada para o vale. “Estou ensinando elas a nadarem aqui. Antes se aprendia tudo em casa”, diz Rafael, cujo avô tinha na fazenda uma marcenaria, que ele restaurou para fazer os caixilhos e todos os móveis com madeiras de árvores caídas na fazenda. A exceção é o sofá que era de seu apartamento de solteiro.

 (Foto: Lufe Gomes)

(Foto: Lufe Gomes)

Para tornar a casa aconchegante, eles capricharam nos acabamentos. O assoalho de cumaru está nas áreas secas. E ladrilhos hidráulicos revestem a cozinha. Na sala, uma parede tem mosaico de pedras basalto e, a outra, pintura de tom intenso. Somente o quarto das meninas recebeu tinta branca. “O nosso ficou na cor do aço porque gostamos”, diz Ana. Para agradar as meninas, os espelhos das tomadas são pink. Em todos os cantos, peças de artesanato recordam as viagens de Rafael por tribos da Amazônia e pela África. “Mas não gosto de acumular muita coisa em casa”, diz o morador, que transformou o porão em quarto de hóspedes. Ali, eles sempre recebem missionários e universitários interessados na fazenda orgânica, ou simplesmente, em descansar na calma de lá.

 (Foto: Lufe Gomes)

Quarto das meninas: O teto e as paredes receberam tinta branca. As camas das filhas maiores ficam perto da porta-janela, de onde seve o prédio de ordenha. Cortina e roupa de cama, da Glad Baby. Suíte: As instalações elétricas estão em canos de aço aparentes. No contêiner, com sistema de ar-refrigerado, a porta fica em recorte nas chapas de inox,recheadas de polipropileno.Poltrona de candeia da fazenda  (Foto: Lufe Gomes)

 (Foto: Lufe Gomes)

Quarto do casal: Sem pintura, as paredes são da cor do aço. O fundo tem vidro fixo e, a lateral, janela com veneziana. Almofadas de tricô, peseira e cobertor de cashmere, da Mundo do Enxoval. Almofadas de lona, da Regatta Casa. Abaixo, Carolina (de cabeça baixa) e Marina pegam os gatinhos que nasceram no quintal (Foto: Lufe Gomes)

 (Foto: Lufe Gomes)

(Foto: Lufe Gomes)

 (Foto: Lufe Gomes)

Joana escala o muro de pedras, que apoia o contêiner, onde fica o quarto dela e das irmãs. A porta-janela e a veneziana são de madeira de árvore caída na fazenda, que tem projeto de reflorestamento Joana escala o muro de pedras, que apoia o contêiner, onde fica o quarto dela e das irmãs. A porta-janela e a veneziana são de madeira de árvore caída na fazenda, que tem projeto de reflorestamento (Foto: Lufe Gomes)

Simplicidade e equilíbrio
“Vivemos da maneira mais simples possível. A casa tem as medidas certas para o início de família. O fato de ter tudo perto e das duas suítes serem bem próximas facilita com as meninas, que estão na fase de pegar no colo, levar à noite ao banheiro. O conceito é de ser sustentável em tudo. Colocar as mãos na terra, comer os produtos daqui, colhidos na horta e no pomar. É bom ver as crianças livres indo buscar leite no curral e escalando as pedras das paredes. Construímos a casa descobrindo aos poucos o que precisava ser feito: os acabamentos, os móveis. O contêiner foi escolhido pela funcionalidade. Não precisa de telhado porque a cobertura é feita para tomar chuva e faz um barulho agradável. Em nosso quarto, abrimos a janela na altura que dá para ver a paisagem da cama. Por último, fizemos a piscina para as crianças aprenderem a nadar e o terceiro quarto, embaixo, para receber as visitas. Desde o começo não queríamos que a casa interferisse muito na paisagem. O gostoso dela é ser aberta, com a natureza entrando aqui dentro.” Rafael.

 (Foto: Lufe Gomes)

Fachada: As tumbérgias cobrem parcialmente a casa e ajudam no isolante térmico, necessário na região que costuma ser muito quente no verão. Os contêineres foram pintados com tinta na cor laranja, igual a das colhedeiras de cana, da Mercedes-Benz, de 1979 (Foto: Lufe Gomes)