• Texto Mariana Mello | Fotos Kiko Ferrite/ Divulgação
  • Texto Mariana Mello | Fotos Kiko Ferrite/ Divulgação
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Boa noite | O bordado que leva este nome é feito de linho ou algodão  a partir de áreas desfiadas no pano (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação )

Boa noite | O bordado que leva este nome é feito de linho ou algodão a partir de áreas desfiadas no pano (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação )

Inspiração | A típica casa com platibanda aparece nos novos desenhos criados pelas bordadeiras (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação      )

Inspiração | A típica casa com platibanda aparece nos novos desenhos criados pelas bordadeiras (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação )

anos de copa | De algodão,  as peças trazem desenhos feitos a  partir de cenas do cotidiano (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação      )

anos de copa | De algodão, as peças trazem desenhos feitos a partir de cenas do cotidiano (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação )

Cortina | Repare no detalhe das janelas e portas bordadas: elas abrem    conforme a movimentação do tecido (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação)

Cortina | Repare no detalhe das janelas e portas bordadas: elas abrem conforme a movimentação do tecido (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação)

Boa noite é aquela florzinha de cinco pétalas, mais conhecida como maria-sem-vergonha. Boa noite pode ser também a técnica de bordado em que a trama do tecido é matematicamente desfiada antes de receber os motivos coloridos. A flor, encontramos em qualquer canteiro. O bordado autêntico, não. Um único local no país, a Ilha do Ferro, em Alagoas, especializou-se nessa modalidade e a reproduz de maneira fiel. Foi para lá que o designer têxtil Renato Imbroisi viajou seis vezes em um ano e meio com a missão de não deixar morrer a tradição das bordadeiras. Patrocinado pelo museu A Casa, que tem a direção de Renata Mellão, e pela estilista de sapatos Paula Ferber, o projeto envolveu a reforma da sede – um casebre de 50 m2 –, melhorias na sinalização local e, principalmente, aprimoramento do ponto e desenvolvimento de novos produtos. Vendidas na feira semanal de Pão de Açúcar, a cidade mais próxima da ilha, a 230 km de Maceió, as peças chegam a lojas de decoração da capital alagoana e do Recife.

Toalha de mesa | Com barrado geométrico colorido, a peça é produção das artesãs da Ilha do Ferro, em Alagoas (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação )

Toalha de mesa | Com barrado geométrico colorido, a peça é produção
das artesãs da Ilha do Ferro, em Alagoas (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação)

Antes da chegada de Renato, quadrados monocromáticos e flores boa noite eram os únicos motivos dos produtos. Até que o designer convidou as 22 artesãs e suas ajudantes para bordar novos desenhos, inspirados na cultura local, como a arquitetura das casas da ilha, com suas típicas platibandas, e os barcos dos pescadores. “Pedi a elas que observassem a paisagem, se inspirassem e fizessem os próprios traços”, conta. Embora tenham resistido no início, as integrantes da associação atingiram resultados surpreendentes. Agora, esses temas estão presentes em novos produtos, como jogos americanos, toalhas de mesa, cortinas e almofadas. Os barrados quadrados, antes só de um tom, agora podem ser coloridos.

Fachada | As linhas retas das  moradias da Ilha do Ferro favoreceram   a reprodução no trabalho artesanal (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação      )

Fachada | As linhas retas das moradias da Ilha do Ferro favoreceram a reprodução no trabalho artesanal (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação )

Almofada | O modelo monocromático tem motivos florais feitos a partir da técnica de boa noite (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação      )

Almofada | O modelo monocromático tem motivos florais feitos a partir da técnica de boa noite (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação )

Patchwork | Os temas geométricos ganharam versão mais atual nas almofadas com linhas coloridas (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação      )

Patchwork | Os temas geométricos ganharam versão mais atual nas almofadas com linhas coloridas (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação )

Cortina | Os barcos dos pescadores locais agora aparecem nos desenhos realizados pelas bordadeiras (Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação)

Cortina | Os barcos dos pescadores locais agora aparecem nos desenhos realizados pelas bordadeiras
Jogo americano | O linho traz diversos modelos do casario típico da ilha 
(Foto: Kiko Ferrite/ Divulgação)

Para incentivar o trabalho em equipe, em nome de fortalecer a associação, Renato sugeriu o desenvolvimento, pela primeira vez, de uma peça em tamanho grande, com bordados de todas as integrantes. O resultado foi uma colcha de casal de 2,40 x 2,60 m. Trazidas à cidade de São Paulo por Renata Mellão para a exposição Boa Noite, Ilha do Ferro, no museu A Casa (veja abaixo), as peças agora poderão ser vistas por novas marcas compradoras brasileiras e estrangeiras. “Nossa intervenção na comunidade mudou não apenas o bordado em si, mas a vida das pessoas”, explica Renata, referindo-se ao ganho financeiro e à retomada da autoestima das bordadeiras. Para Paula Ferber, que tem uma casa de veraneio na Ilha do Ferro e por isso tomou contato com esse tipo de artesanato, mais do que aumentar a qualidade de vida das habitantes, o projeto teve como objetivo preservar a cultura em sua essência. “É muito fácil trocar o trabalho manual por qualquer outra ocupação. Não queremos que isso aconteça”, diz.

Onde encontrar
Exposição Boa Noite, Ilha do Ferro
Museu A Casa – R. Cunha Gago, 807, Pinheiros, São Paulo. Tel. (11) 3814-9711; acasa.org.br
De 28/11 a 18/12 | Seg. a sex., das 10h às 19h, sáb., das 12h às 16h