• Por Lara Muniz
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Para celebrar o Dia Internacional da Mulher, celebrado anualmente em 8 de março, Casa e Jardim convidou cinco artistas plásticas brasileiras para uma autorreflexão sobre seus trabalhos. Confira: 

1. Julia Kater 

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Atrás da artista Julia Kater, a obra Não Eu (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

De origem franco-brasileira, a artista voltou seu olhar para a fotografia na adolescência, durante um período escolar em Paris. “Por influência de uma prima, passei a usar as imagens como um registro da experiência de morar longe do Brasil. Quando voltei para cá, levei essa vivência adiante e acabei me formando na área”, conta.

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Julia em seu ateliê na Vila Mariana, em São Paulo, onde produz as séries à venda na Sim Galeria (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Ao participar de um grupo de estudos artísticos, Julia decidiu explorar possibilidades e se integrar à cena. Começou em coletivas, ganhou individuais e conquistou público com sua linguagem delicada e particular. O recorte se tornou a narrativa que mais a interessa. “As relações com as mulheres ao meu redor nutrem muito do meu trabalho. É bonito ver essa tomada de espaço que acontece atualmente. Há um número crescente de mulheres nas instituições e em posições de curadoria. Diariamente alcançamos presença mais efetiva”, comemora. 

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Estudos sobre papel algodão da artista Julia Kater (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

2. Celina Portella

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Celina está em seu ateliê em Pinheiros, em São Paulo, onde vive há um ano e meio. Ali faz suas experimentações (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

A estética das imagens antigas foi o estopim para que a carioca esticasse seu corpo para além da dança e mergulhasse numa outra forma de expressão. “Tinha atração por coisas antigas, pelo visual das câmeras Super 8. A relação do real com o virtual foi o que me levou a criar os Vídeo-Objetos, como eu chamo algumas das minhas produções”, conta. 

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Essa visão de como ocupar o espaço com o corpo — quase sempre o dela mesma — pauta sua produção atual. “Eu falo da presença da mulher o tempo todo, e, talvez por isso ser algo tão natural para mim, às vezes parece meio inconsciente”, afirma. Para Celina, a arte sempre reflete um movimento social — vem daí a vontade de se mostrar livre. “Arte é expressão. Há um longo caminho a se construir ainda, mas a mulher não está mais aprisionada”, avalia.

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Fogo terá exposição a partir do fim do mês na Zipper Galeria (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

3. Fernanda Figueiredo

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Fernanda posa com a tela Brasílias’ subway tiles (2017), em mostra na Galeria Kogan Amaro (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Pular da faculdade de Arquitetura para a de Artes Plásticas foi o caminho certo para esta paulista de Limeira que vive em Berlim há cinco anos. “Desde cedo eu queria lidar com arte. Era só uma questão de ajuste”, brinca, trazendo na voz a felicidade de quem descobriu sua vocação para a vida. 

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Fernanda seu ateliê em Berlim, fotografada pelo marido, o cineasta Eduardo Mattos (Foto: Eduardo Mattos) 

Seu trabalho solo com pintura, carregado de influências da arte concreta brasileira, já ganhou reconhecimento — e prêmios — na Europa. “Sempre fui fascinada pelos concretistas. Não por acaso, é a escola com mais mulheres na arte brasileira”, revela. 

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Obras da série The visit of Max Bill, de Fernanda Figueiredo (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Para Fernanda, o momento da produção artística está mais feminino. E feminista. “Hoje é nítido que a presença da mulher é mais respeitada. Ganhamos uma voz mais forte, mas ainda temos muito o que conquistar. Estamos numa carreira que exige resiliência”, afirma.

4. Sônia Menna Barreto

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

A artista está no ateliê em sua casa em Alphaville, São Paulo (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)


Ao dar os primeiros passos nas artes, ainda na década de 1980, a paulistana ouviu de um professor que ela deveria assinar suas obras usando apenas o sobrenome. “Aí não saberiam se o autor era homem ou mulher”, recorda. A dica ficou de lado e hoje a artista de múltiplas técnicas tem até museu com seu nome em Bebedouro (SP). “O protagonismo masculino era incontestável. Hoje as pessoas estão mais atentas à presença feminina. Ganhamos igualdade pela qualidade”, afirma. 

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Série O Colecionador, de Sônia Menna Barreto (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Para quem nunca imaginou que teria os pincéis como ferramenta profissional, ela conta que se esmera não só na produção, mas também como empresária de si mesma. “Acho importante se movimentar na arte, seguir um fluxo mais contemporâneo, participar de feiras. Os colecionadores e o público mudam. Quem deseja ter longevidade precisa acompanhar esse passo”, diz.

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Sônia posa junto à gravura Maria Bonita, da coleção Realeza (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

5. Carla Chaim

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

A artista plástica Carla Chaim (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Austera, minimalista e monocromática. Essas palavras muitas vezes aparecem em textos que falam da obra de Carla Chaim. Em sua rotina como artista, a materialização das peças a partir do trabalho do corpo ganha destaque. “Gosto de criar a partir do espaço que me é dado. A planta do lugar pode ser um ponto de partida; o taco que está no piso; tudo é material de uso”, declara. 

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Imagens registram seu processo de trabalho,como a que equilibra cubos de grafite nas costas (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Para cada novo trabalho, ela inventa novas regras. Na série Primeiro Campo, baseada em origamis, uma obra nova surgia a cada marca dobrada e desdobrada no papel, que depois ganhava cor. Em outra série, o processo de desbastar um cubo de grafite por uma hora virava poética.

Mulheres de expressão (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Carla está em seu ateliê em Pinheiros, em São Paulo (Foto: Mayra Azzi / Editora Globo)

Formada em Artes Plásticas e História da Arte, Carla coleciona referências e fãs por onde passa. Veio dela, por exemplo, a corrente de admiração que indicou outras participantes para essa reportagem. “Mulheres artistas maravilhosas merecem visibilidade”, defende.