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Canadá: Surpresa, só no cardápio (Foto: Ilustração Mauricio Pierro)

(Ilustração Mauricio Pierro)

O que vem à mente quando você pensa no Canadá? Para mim, são os anfitriões que eu gostaria que me recebessem no país. No topo da lista, o poeta e músico Leonard Cohen. Na sua falta, uma tarde na casa da Alanis Morissette cairia bem. Ou ainda um drinque relax no quintal de JimCarrey – o Justin Bieber a gente deixa reservado para as leitoras teen.

Celebs canadenses à parte, o país remete mesmo é ao frio e ao seu, no melhor dos bons sentidos, duplo caráter: francês e britânico. Os dois povos, junto aos aborígenes, fundaram o país. Isso significa que os canadenses são rígidos na pontualidade e mestres na cozinha? Não  necessariamente. O país engloba imigrantes de todo o mundo, entre eles alemães, italianos, ucranianos, poloneses, chineses, caribenhos, portugueses e escandinavos. Isso significa que a refeição numa casa canadense é, muitas vezes, uma caixinha de surpresas!

Antes, porém, saiba que eles gostam de receber, mas não tanto quanto nós, como explica Ambra Dickle, segunda-secretária de Assuntos Políticos da Embaixada do Canadá no Brasil. “Somos mais individualistas”, diz ela. Receber em casa sema providencial ajuda doméstica é trabalhoso; no inverno, fica mais difícil, inclusive sair de casa. A estação, portanto, é determinante: no verão, as visitas são mais frequentes e, quando há quintal ou jardim, é para onde os convivas são levados. Aparecer na casa do amigo de surpresa? “De maneira alguma”, diz a estudante brasileiraMarina Prado Nogueira, que há seis anos vive no país. Os canadenses avisam até quando vão à casa da mãe! E possuem uma prática esperta de receber: o “potluck”, algo como “sorte na panela”, em que cada um leva um prato. O resultado é uma mesa que parece uma feira gastronômica internacional, com receitas de variadas cozinhas.

Aliás, compartilha-se o trabalho também após a refeição, retirando os pratos da mesa e, conforme o grau de intimidade, ajudando a lavar a louça. “O que me incomoda”, diz Marina, rindo, “é que você sempre acaba com a meia molhada”. Por que a moça estaria descalça à beira da pia? É que todo visitante, ao entrar na casa alheia, tira os sapatos, a menos que o anfitrião diga não ser necessário.A prática era com uma penas no inverno, quando se deixavam as botas do lado de fora, mas hoje o costume vale para o ano todo.

Não seguir essa regra é uma das três maiores gafes. As outras duas são “dar o cano” e chegar atrasado. “Aqui, quando recebem um convite, vocês dizem sim ou talvez, porque é mal-educado dizer não. Lá, mal-educado é dizer sim e não comparecer”, alerta Ambra. Sobre pontualidade, o canadense é peculiar: não chega na hora exata combinada, mas pontualmente de 15 a 30 minutos após o horário marcado.

Bell Kranz é jornalista e especializada em comportamento contemporâneo e qualidade de vida. Assina o blog caseare.net.