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    Flip

    Festa acerta em curadoria diversa, mas peca em debates sem entrosamento

    MAUR�CIO MEIRELES
    ENVIADO ESPECIAL A PARATY

    31/07/2017 01h28

    Bruno Santos/Folhapress
    Igreja da Matriz durante a mesa Livro de Cabeceira, no domingo (30), �ltimo dia da 15� Flip
    Igreja da Matriz durante a mesa Livro de Cabeceira, no domingo (30), �ltimo dia da 15� Flip

    A proposta da Flip (Festa Liter�ria Internacional de Paraty) de fazer neste ano uma festa com convidados menos conhecidos n�o deu certo –e isso n�o tem a ver com qualidade liter�ria ou intelectual dos autores.

    � preciso registrar o trabalho de pesquisa da curadoria para buscar uma programa��o fora do eixo. Sempre que festivais liter�rios s�o criticados pela pouca representatividade, eles costumam se esquivar dizendo serem apenas um reflexo do cat�logo das editoras.

    A Flip mostrou, assim, que � poss�vel desligar o piloto autom�tico. Estas eram as qualidades dadas a priori. Mas, passada a festa, v�-se que, na pr�tica, problemas atrapalharam a evolu��o do projeto proposto inicialmente.

    O evento –que tem l� sua dimens�o de espet�culo– sofreu com falta de entrosamento ou incompatibilidade de perfis entre debatedores em parte das mesas. Media��es ruins em debates importantes tamb�m contribu�ram.

    O encontro entre Marlon James e Paul Beatty no s�bado ilustra as fragilidades. Os dois lan�aram no pa�s romances elogiad�ssimos, que renderam a ambos o Man Booker Prize.

    Mas, enquanto James tratou de forma perspicaz as quest�es liter�rias trazidas � tona, Beatty n�o desenvolveu suas ideias, iniciando grande parte de suas respostas com um "eu n�o sei", quando n�o seguia um racioc�nio tortuoso.

    O encontro entre Deborah Levy e William Finnegan, bem como o de Carlos Nader e Diamela Eltit, eram apostas certas, mas tamb�m n�o decolaram. Houve media��es marcadas por perguntas gen�ricas (em uma mesa, autores foram questionados sobre o que era verdade em seus livros).

    Os momentos em que a Flip revela toda a sua dimens�o de espet�culo –criticada, mas essencial para seu sucesso como projeto tur�stico e comercial– tamb�m foram poucos.

    "Essa cr�tica de n�o haver mesa de destaque tem a ver com termos trazido autores que n�o se enquadram no padr�o do mercado, mais desconhecidos", diz Joselia Aguiar, curadora da Flip. "Com o autor mais conhecido voc� entra em outro n�vel de intera��o."

    Em 2017, a escala��o da Flip trouxe um recorde de mulheres. Elas eram 23, ante 22 homens. Os negros representavam 30%. A literatura de l�ngua inglesa, sempre estrela da festa, desta vez estava bem menos presente.

    Entre os convidados, al�m de Beatty e James, os �nicos a escrever no idioma eram Finnegan e Levy.

    P�BLICO E DESTAQUES

    O p�blico pagante parece n�o ter se empolgado com a programa��o. Na igreja, onde os ingressos custavam R$ 55, era comum ver lugares vazios entre as 450 cadeiras e sa�da de pessoas no meio do debate. J� na tenda do tel�o, com 700 lugares, ocorria o contr�rio –cheia, com p�blico vibrante. A Flip diz que passaram 20 mil pessoas pela festa liter�ria neste ano –em 2016, foram 23 mil.

    As redes de ativismo negro se mobilizaram para comparecer � "Flip da diversidade". Na mesa da escritora Concei��o Evaristo, a plateia era mais negra do que em qualquer outro debate.

    Houve grandes momentos na festa. A come�ar pela abertura, com aula dramatizada de Lilia Moritz Schwarcz e L�zaro Ramos sobre Lima Barreto. A novidade substituiu a tradicional confer�ncia sobre o autor homenageado.

    O encontro entre Noemi Jaffe e Scholastique Mukasonga comoveu o p�blico.

    Outro momento a ser lembrado � a interven��o da professora aposentada Diva Guimar�es na mesa com L�zaro Ramos e Joana Gorj�o Henriques. Ela levou ator e p�blico �s l�grimas ao contar como enfrentou o racismo e virou uma celebridade instant�nea.

    Em nota dissonante, o escritor carioca Anderson Fran�a precisou cancelar sua participa��o na programa��o paralela ap�s receber uma amea�a de morte –ele havia denunciado mensagens de �dio.

    IGREJA

    A igreja funcionou como espa�o para os debates principais e deixou vivo o movimento na pra�a da Matriz –mas o aperto, a visibilidade e a ac�stica do templo foram problem�ticos. O formato de anfiteatro da tenda, n�o montada neste ano, ajudava quem estava nas fileiras do fundo.

    A Flip optou por usar o templo cat�lico por falta de verba. O or�amento da festa vem diminuindo R$ 1 milh�o a cada ano, desde 2014, e desta vez foi de R$ 5,8 milh�es –50% de patroc�nio via Lei Rouanet.

    Do total, R$ 3,7 milh�es s�o despesas do evento em si, e os demais s�o custos fixos da Casa Azul, organiza��o que produz o evento.

    N�MEROS DA FESTA - A verba e o p�blico da Flip, em R$ milh�es

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    O QUE FOI BEM NA FLIP

    • O depoimento de dona Diva sobre racismo
    • A abertura do evento, misturando textos de Lima Barreto e p�lulas biogr�ficas sobre ele
    • As mesas que trataram da obra do autor homenageado
    • O encontro com a escritora mineira Concei��o Evaristo
    • A media��o de Anabela Mota Ribeiro para o debate entre Noemi Jaffe e Scholastique Mukasonga
    • Apesar dos problemas de ac�stica da igreja, as performances po�ticas do Fruto Estranho, sess�o que estreou neste ano
    • A abertura da programa��o a editoras independentes

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    O QUE FOI MAL NA FLIP

    • A forma��o de duplas de escritores com perfis muito diferentes, dificultando o di�logo
    • Pautas ativistas dominaram o evento, sem que houvesse aprofundamento
    • Media��es fracas em algumas das mesas mais esperadas
    • A ac�stica ruim e a ilumina��o chapada da igreja
    • Debate liter�rio ficou em segundo plano diante do protagonismo de discuss�es sociol�gicas
    • Um dos escritores mais aguardados, o americano Paul Beatty fez apresenta��o apagada e desconexa
    • A trucul�ncia da Guarda Municipal no epis�dio do confisco de mercadoria dos ambulantes

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