Premiado com livro sobre surfe, autor pensou que n�o seria levado a s�rio
A escritora sul-africana Deborah Levy e o jornalista norte-americano William Finnegan encerraram o terceiro dia da Festa Liter�ria Internacional de Paraty na mesa "Por Que Escrevo".
Os dois tiveram uma longa conversa sobre a experi�ncia liter�ria e o prazer surgido da busca pelo belo —na arte ou no esporte.
O t�tulo da conversa foi emprestado do famoso ensaio autobiogr�fico de George Orwell de 1946, que inspirou o livro "Coisas que N�o Quero Saber" (Ed. Aut�ntica), de Levy, autora j� indicada duas vezes para o pr�mio Man Booker Prize.
No texto, Orwell aponta quatro motiva��es para escrever –impulso hist�rico, entusiasmo est�tico, prop�sito pol�tico e puro ego�smo–, algumas das quais a autora sul-africana diz terem guiado tamb�m sua escrita.
"Meu livro come�a com uma narradora de meia-idade. Volta a sua inf�ncia e ent�o a acompanha at� seus 15 anos. E eu tinha puro ego�smo quando nesta idade."
Martin Bureau/AFP | ||
O escritor William Finnegan em sess�o de fotos em Paris, em junho |
Levy e sua fam�lia abandonaram a �frica do Sul e imigraram para a Inglaterra depois que seu pai fora preso por seu ativismo pelos direitos humanos. "Ele ensinava crian�as negras e pobres a ler e a escrever e isso era proibido pelo regime do apartheid. E meu pai foi preso. Eu tinha cinco anos e passei a falar muito pouco na escola", conta ela.
Coisas Que N�o Quero Saber |
Deborah Levy |
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"Um dia, o professor sugeriu que, j� que eu n�o falava, escrevesse meus pensamentos. Fiz isso, e percebi que aquelas palavras que eu escrevia gritavam. E gostei."
A autora cita uma frase de Virginia Woolf em que ela sugere que mulheres n�o devem escrever motivadas pela raiva porque isso tornaria sua escrita estridente demais, sem nuances ou complexidade. "Mas eu acredito na raiva como um motor da literatura porque � poderoso e voc� sempre pode retomar o texto para lapid�-lo."
Finnegan conta que, quando presenciou a viol�ncia do apartheid durante uma temporada na �frica do Sul ele abandonou a pr�pria subjetividade, expressa na escrita de poesia, e desenvolveu um grande interesse pelo mundo que o levou ao jornalismo.
Ainda que o autor tivesse uma vasta trajet�ria como correspondente de guerras e conflitos na �frica e na Am�rica Central desde os anos 1980 –boa parte dela publicada na revista "The New Yorker", onde trabalha–, foi com seu livro sobre o surfe e a busca de ondas m�ticas que Finnegan, "Dias B�rbaros" (Ed. Intr�nseca), ganhou o pr�mio Pulitzer em 2016.
Ele explicou que foi muito dif�cil para ele sair do arm�rio como surfista porque o estere�tipo ligado � pr�tica n�o combinava com livros e com a escrita informada sobre pol�tica internacional que ele fazia.
"Eu queria escrever sobre essa coisa in�til e irrespons�vel que eu fazia quando n�o estava trabalhando como jornalista, mas isso me fazia pensar que n�o seria mais levado a s�rio como comentarista pol�tico. Mas n�o foi nada disso o que aconteceu."
Finnegan contou que, quando estava cobrindo a guerra civil em El Salvador, ficou bastante impactado e decidiu surfar. "A praia estava vazia. Havia uma guerra ali. E eu tinha o mar todo para mim. Chorava na praia, chorava na �gua, mas seguia surfando e tudo aquilo no que eu conseguia pensar era que surfar era o que eu precisava fazer mais e mais."
Depois de uma quest�o do mediador, Finnegan disse ver sua aventura com a escrita –e com o surfe– como uma busca por ficar "encharcado" de beleza. N�o � toa, ele compara sua experi�ncia com o mar �quela de ler um livro incr�vel.
"Muita gente descreve o prazer de surfar com met�foras sexuais, do tipo, � como fazer amor com o oceano e bobagens do tipo. Para mim, surfar � como ler algo muito bom. S�o sensa��es muito parecidas."
Deborah tamb�m descreveu sua experi�ncia de forma semelhante. "Escrever � a grande aventura da minha vida. �s vezes, eu me afogo", disse ela.
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