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    Consistentes, Paul Beatty e Marlon James debatem apropria��o cultural

    MAUR�CIO MEIRELES
    PATR�CIA CAMPOS MELLO
    ENVIADOS ESPECIAIS A PARATY

    30/07/2017 00h01

    Bruno Santos/Folhapress
    Paul Beatty e Marlon James encerram programa��o deste s�bado na Flip
    Marlon James e Paul Beatty encerram programa��o deste s�bado (29) na Flip

    Cumpriu as expectativas de qualidade o debate entre os escritores Marlon James e Paul Beatty, realizado neste s�bado (29), em Paraty, na Igreja da Matriz. Entrosados, porque s�o amigos, os dois discorreram sobre diversas quest�es tratadas na literatura contempor�nea.

    O jamaicano James foi mais desenvolto do que o americano Beatty, que respondia a quase todas as perguntas com "eu n�o sei" –antes de evoluir para uma resposta com o racioc�nio err�tico.

    Um dos pontos discutidos foi o conceito de apropria��o cultural, que sempre volta � baila como pol�mica.

    "O direito de escrever tudo o que voc� quer est� dado. J� o privil�gio de n�o ter suas bobagens contestadas, n�o. [Antes] os autores podiam escrever besteira e n�o serem questionados. Question�-los n�o � censura", disse Marlon James, citando um discurso pol�mico da escritora Lionel Shriver de 2016.

    A autora foi criticada ap�s repudiar, em um festival liter�rio, a afirma��o de que os brancos cometem apropria��o quando assumem o ponto de vista de personagens de outras culturas.

    Para James, quem reclama do conceito est� mesmo � com medo de receber uma resenha ruim, por ter escrito mal.

    Outro ponto interessante da discuss�o foi quando a dupla foi questionada sobre o significado de "grande romance americano", conceito para obras definitivas e representantes das grandes quest�es da identidade dos EUA.

    "Acho a no��o de que pode existir um livro definitivo reflete a grande neurose americana e toda a ideia de que os Estados Unidos s�o um pa�s �nico. Isso est� ligado ao grande complexo de inferioridade americano. Cara, aceita o tamanho do seu p�nis!", disse James.

    Eles tamb�m foram questionados pelo mediador sobre se sentirem pressionados a cumprir expectativas de como deve produzir um escritor negro.

    "Dizem que meu livro � sobre ra�a. � como se dissessem que a literatura branca n�o � sobre ra�a", afirmou Paul Beatty.

    Quando o mediador perguntou se algu�m branco poderia ter escrito "O Vendido" (Todavia).

    "Sou o �nico que poderia ter escrito essa droga de livro!", respondeu.

    Nesse tema das expectativas, James disse que, quando ganhou o Man Booker Prize, em 2015, um jornal jamaicano o parabenizou, mas acrescentou que o livro manchava a imagem do pa�s.

    "H� uma Jamaica que me interessa. Escrevi livros sobre diferentes Jamaicas. Eu n�o trabalho para a ind�stria tur�stica", afirmou.

    Os dois ainda enveredaram pela pol�tica americana, em especial sobre o presidente Donald Trump.

    "� imposs�vel se divorciar do tempo em que se vive", disse Paul Beatty. "� bom que exista um movimento de luta contra algo, mas �s vezes isso cria a no��o de que n�o temos mais tempo para a arte e para o humor."

    Marlon James acrescentou sempre ter desconfiado de escritores com uma miss�o. "Eles sempre s�o p�ssimos artistas. Eles t�m essa no��o de que o que fazem � necess�rio. Sim, � necess�rio. Mas tamb�m � uma merda", disse.

    O jamaicano acrescentou que n�o quer viver o tempo inteiro no mundo de Trump. Ele deseja ter tempo para escrever sobre as fadas, afirma.

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