• 21/08/2017
  • Por Paula Jacob | Foto Christian Maldonado; Jorge Bispo; Juliana Hilal; e Divulgação
Atualizado em
“As pessoas precisam entender a união como potência de desenvolvimento”, diz Tais Araújo (Foto: Christian Maldonado)

Tais Araújo recebeu Casa Vogue em seu lar no Rio de Janeiro (Foto: Christian Maldonado)

Difícil pensar em Tais Araújo e defini-la com uma só palavra. São os cabelos cacheados, os olhos cheios de energia e o sorriso de ponta a ponta do rosto. Mas também são os trabalhos, as personagens, a mãe, a mulher, a ativista. Tudo isso transforma a pessoa Tais Araújo no ser humano cheio de vontade de mudar o mundo, da forma que lhe convém. Duas horas de um dia ensolarado para entrevistá-la em sua casa no Rio de Janeiro não foram o suficiente, garanto.

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Tais se tornou defensora dos Direitos das Mulheres Negras pela ONU Brasil em julho deste ano (Foto: Divulgação)

Tais se tornou defensora dos Direitos das Mulheres Negras pela ONU Brasil em julho deste ano (Foto: Divulgação)

Tais se tornou defensora dos Direitos das Mulheres Negras pela ONU Brasil em julho deste ano (Foto: Divulgação)

Rosto de uma geração de mulheres que veio para fazer ou, ao menos, instigar uma mudança social, Tais faz um trabalho diário para gerar discussões importantes em suas redes sociais. Não é de se espantar, portanto, ter sido nomeada defensora dos Direitos das Mulheres Negras pela ONU Brasil. “O objetivo é proporcionar uma vida igualitária entre os gêneros até 2030”, comenta sobre o projeto com a organização. Os incentivos começam do básico: entre as próprias mulheres, principalmente as negras dentro do perímetro urbano, causa mais urgente. Contudo, a união é a única saída possível para que haja uma real evolução. “Sejam brancas ou negras, a ideia é estreitar o abismo existente entre as mulheres e mostrar que ajudando o outro, a pessoa ajuda a sociedade a evoluir”, reflete.

“As pessoas precisam entender a união como potência de desenvolvimento”, diz Tais Araújo (Foto: Divulgação)

O canal de comunicação começou por meio do Instagram, com mais de 4 milhões de seguidores. “No começo foi difícil, não enxergava o potencial das redes sociais”, diz. A primeira reunião com a agência de comunicação foi cômica. “Não queria postar look do dia e achava que não era possível trazer outro conteúdo.” Não só consegue, como gera argumentos importantes entre os seguidores sobre igualdade, respeito e feminismo. Quando digo a ela que é uma das poucas, diga-se de passagem, em sua posição a dar algum conteúdo real aos seus seguidores, sendo um dos rostos de uma geração engajada, ela ri e agradece. Quando na verdade, quem deveria dizer obrigada, somos nós.

“As pessoas precisam entender a união como potência de desenvolvimento”, diz Tais Araújo (Foto: Divulgação)

Hoje, as postagens de looks e fotos antigas aparecem de maneira natural na timeline. “É tudo uma questão de equilíbrio.” Para não se prender a uma rede social específica, Tais desenvolveu um site, a ser lançado em breve, para todos conhecerem melhor o seu projeto com a ONU Mulheres, assim como conceitos básicos de feminismo, direitos humanos, entre tantos outros conteúdos. “É para convidar todos a participar, estimular a capacitação e entender a união como potência de desenvolvimento”, completa.

Tais e Lázaro Ramos em 'Mister Brau' (Foto: Divulgação)
Tais e Lázaro Ramos em 'Mister Brau' (Foto: Divulgação)

O discurso agregador transborda, claro, para a profissão. Em Mister Brau - com a quarta temporada confirmada para o próximo ano -, ela atua ao lado de seu marido, Lázaro Ramos, para falar de relacionamentos, preconceitos e casualidades da vida, de maneira descontraída. A dupla excelente, não há como negar, se repete nos palcos em O Topo da Montanha. Sucesso de público no final do ano passado, a peça remonta o último dia de Martin Luther King, um dos nomes mais fortes no ativismo político e social da história. Felizmente, a segunda temporada irá retornar no começo de 2018, para os que assistiram ou não terem a chance de se encantar mais uma vez com o belo enredo e performance de tirar o fôlego.

Tais e Lázaro Ramos na peça 'O Topo da Montanha' (Foto: Jorge Bispo/Divulgação)

Tais e Lázaro Ramos na peça 'O Topo da Montanha'; (Foto: Jorge Bispo/Divulgação)

Tais e Seu Jorge nos bastidores das gravações de "Pixinguinha, um homem carinhoso", ainda sem estreia confirmada (Foto: Divulgação)

Tais e Seu Jorge nos bastidores das gravações de "Pixinguinha, um homem carinhoso", ainda sem estreia confirmada (Foto: Divulgação)

Se tudo isso já parece muito, Tais Araújo ainda protagoniza ao lado de Seu Jorge o filme sobre a vida de Pixinguinha. Com direção de Denise Saraceni e Allan Fiterman, a história abrange todas as facetas da vida do músico negro que teve oportunidade de estudo rara para a época e se tornou um ícone. “Se em 1920 ele estudou e se tornou o Pixinguinha, o que não somos capazes de fazer hoje em dia?”, reflete.

Tais e Lázaro Ramos na peça 'O Topo da Montanha' (Foto: Juliana Hilal/Divulgação)

O papel no longa é de Beti, esposa do músico, interpretado por Seu Jorge. “Foi um prazer fazer esse filme. Nos divertimos muito durante as gravações”, diz ela. O trabalho de pesquisa, porém, foi o mais encantador de todo o processo. Livros, acervos e conversa com outros músicos fez a equipe mergulhar de cabeça na ambientação da história. A estreia só não está confirmada oficialmente por trâmites burocráticos da parte da produção.

Tais e Lázaro Ramos na peça 'O Topo da Montanha' (Foto: Juliana Hilal/Divulgação)

No âmbito pessoal, Tais é discreta. Não compartilha fotos dos filhos e muito menos de momentos em família. A privacidade é a garantia de sua “vida como ela é”. Assim como a sua e a minha. Contudo, não esconde o sorriso no olhar ao falar dos pequenos e do marido. “Esta casa foi pensada para que todos pudessem curtir cada cantinho”, comenta. A segunda reforma deu espaço para a sala externa (primeira foto desta reportagem), com mesa de jantar e vista para o Cristo. Por ali, além de refeições descontraídas, Tais adora pintar com os pequenos e estimular o lado lúdico de cada um.

“As pessoas precisam entender a união como potência de desenvolvimento”, diz Tais Araújo (Foto: Divulgação)


*Esta reportagem é um desdobramento da matéria "Cine Mulher", publicada em Casa Vogue #384 (assinantes têm acesso à edição digital da revista)