• 16/11/2017
  • Por Paula Jacob
Atualizado em
Após denúncias de assédio, a indústria cinematográfica precisa rever seus conceitos (urgente) (Foto: For All Womenkind)

Finalmente chegou o momento no qual as mulheres de Hollywood falaram sobre os diversos assédios que já sofreram ao longo de suas carreiras. Porém, mais do que deixar isso público, elas se uniram e denunciaram o ex-todo poderoso Harvey Weinstein. Porque, sim, em 2017, as mulheres precisam de mais de duas ou três vozes para derrubar um homem sem escrúpulos de seu cargo, já que muitas vezes somos silenciadas, por nossos amigos, colegas e pelo próprio assediador - “conte isso para alguém e ninguém vai acreditar em você, EU tenho o poder”.

E MAIS: Com “Mulher Maravilha” e Sofia Coppola, o cinema finalmente dá um passo para a igualdade de gênero

Após denúncias de assédio, a indústria cinematográfica precisa rever seus conceitos (urgente) (Foto: Getty Images)
Após denúncias de assédio, a indústria cinematográfica precisa rever seus conceitos (urgente) (Foto: Getty Images)

Na carta de Léa Seydoux, ela descreve em detalhes um encontro forjado por Weinstein, com a desculpa de colocá-la em um próximo filme. “Você não pode falar não para ele”, escreveu a atriz francesa. Após o jantar com ele e a sua assistente, ele as convidou para tomar um drink no quarto do hotel no qual estava hospedado. A assistente foi embora, deixando os dois a sós. Aproveitando da situação, o produtor tentou beijá-la a força, “tive que me defender, ele é um homem grande”. Além disso, Léa ainda teve que escutar durante o jantar sobre as inúmeras mulheres com quem Weinstein se gabava de ter dormido e a sugestão do machista de que ela perdesse peso para ganhar mais papéis fora do cinema europeu. Ela termina o relato, parte do #MeToo, falando o quando a indústria cinematográfica é misógina.

Após denúncias de assédio, a indústria cinematográfica precisa rever seus conceitos (urgente) (Foto: Getty Images)
Após denúncias de assédio, a indústria cinematográfica precisa rever seus conceitos (urgente) (Foto: Getty Images)

Se isso é surreal, some mais incontáveis casos exatamente iguais, uns com finais mais trágicos que outros. Angelina Jolie tinha 21 anos quando ele tentou assediá-la em um quarto de hotel enquanto negociava seu papel em Corações Apaixonados (1998). Com 22 anos, Gwyneth Paltrow teve o mesmo infortúnio e ao contar ao namorado na época, Brad Pitt, ele tentou tirar satisfação com Weinstein, que por sua vez ameaçou destruir a carreira do casal, caso o ocorrido fosse divulgado. Em 2004, a aspirante a atriz Lucia Stoller foi obrigada a fazer sexo oral no produtor. A divulgação dos escândalos pelo The New Yorker afetou a imagem de Harvey Weinstein (ainda bem), que na primeira resposta às denúncias afirmou nunca ter feito nada. Porém, sem apoio de produtoras como a NBC Studios, que se recusou a depor a favor dele, Weinstein foi demitido de sua própria empresa, a The Weinstein Company, e pede por uma “segunda chance”. Aí, você se pergunta: “Mas como todas essas mulheres nunca falaram nada nunca?”. As atrizes Mira Sorvino e Rosanna Arquette resumem bem: “Não falamos nada antes com medo do poder e influência que Harvey tinha na indústria. Suas empresas somavam 80 oscars”.

Após denúncias de assédio, a indústria cinematográfica precisa rever seus conceitos (urgente) (Foto: Getty Images)

No começo desta semana, inspiradas pelo #MeToo, 600 atrizes suecas assinaram uma carta comunitária, publicada pelo jornal diário do país Svenska Dagbladet, denunciando o abuso de atores, diretores, produtores e outros funcionários do cinema, teatro e televisão. Alicia Vikander, vencedora do Oscar por A Garota Dinamarquesa, está na lista. “Diretores, vocês falharam. Produtores, vocês falharam. Empresas de produção, vocês falharam. Gerentes de teatro, vocês falharam. Políticos, vocês falharam. É responsabilidade de todos vocês garantir que ninguém seja abusado sexualmente no local de trabalho", defendem as mulheres assediadas. Entre os relatos, tentativas de estupro, assédio moral e sexual em camarins, elevadores, festas, etc., são os mais comuns.

Após denúncias de assédio, a indústria cinematográfica precisa rever seus conceitos (urgente) (Foto: Reprodução Instagram)

Não precisamos ir tão longe. Aqui no Brasil, as atrizes da Globo fizeram o protesto contra José Mayer, acusado de assédio sexual pela figurinista Su Tonani. Os toques sem consentimento aconteceram dentro do próprio camarim nas gravações da novela, ou seja, em local de trabalho. Colegas testemunharam algumas vezes, mas se recusaram a depor contra o ator. Até quando as vozes abusadas serão silenciadas?

Igualdade de gênero é algo necessário, em toda e qualquer profissão, refletindo na igualdade salarial, na qualidade de trabalho, saúde mental, física e psicológica de todas as pessoas. Não é porque são famosos com prêmios internacionais que estão isentos desse tipo de situação que, na verdade, parece só piorar quanto mais dinheiro e fama as pessoas têm. Na reportagem investigativa de Ronan Farrow (filho de Mia Farrow e Woody Allen) para o The New Yorker, ele entrevistou vários funcionários da The Weinstein Company e todos confirmaram saber sobre os assédios, sendo que muitos ainda presenciaram os atos. “Muitas vezes ele chamava uma mulher para estar presente, acalmando a vítima de assédio, antes que ele cometesse a infração”, revelaram os funcionários.

Após denúncias de assédio, a indústria cinematográfica precisa rever seus conceitos (urgente) (Foto: Reprodução Instagram)

Recentemente, uma foto foi postada no Instagram (eu ri, não sei se de nervoso ou de alívio), com a Meryl Streep sozinha na cerimônia do oscar, com a legenda “após as denúncias de assédio em Hollywood, este será o Oscar 2018”. Se isso é o necessário para que homens parem de usar sua influência, poder e dinheiro para abusar de mulheres ou outros homens (lembrando do caso Kevin Spacey), é isso que deve ser feito - que o cinema feito por mulheres sejam muito bem-vindo. Além, claro, de produtoras como a Netflix se prontificarem de eliminar rostos abusadores de suas criações e não fingir que nada está acontecendo, dando mais espaço para o ator/diretor/produtor/o que for continuar a carreira, enquanto a mulher está lá lutando por uma ponta em uma série B da ABC ou tentando denunciar o caso para as autoridades sem ninguém acreditar em sua história.

Não silencie! Caso você presenciar ou estiver em uma situação de perigo, disque 180 para denunciar a violência contra a mulher

Após denúncias de assédio, a indústria cinematográfica precisa rever seus conceitos (urgente) (Foto: For All Womenkind)

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