• 20/10/2015
  • Por Carol Scolforo
Atualizado em
 (Foto: Filippo Bamberghi (retrato))

Aos 87 anos, ganhador de prêmios mundiais como o Pritzker, em 2006, e criador de extensa obra reconhecida internacionalmente, o arquiteto Paulo Mendes da Rocha é um profissional que evita rótulos, por mais que eles o coloquem no patamar mais nobre da arquitetura nacional. Ao que parece, ele vive em constante recriação e não pensa em se aposentar tão cedo – se for para fazer isso, Vitória, no ES, terá de volta um cidadão ilustre (Paulo nasceu lá). “A ideia de parar fica como um problema para os outros. Se eu parar, não vou perceber mais nada.” 

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Cais das Artes (Foto: Divulgação/ Metro Arquitetos)

Cais das Artes, em Vitória, Espírito Santo

É por essa visão peculiar, que se faz notar até hoje em seus projetos, no Brasil e fora dele, que Paulo é presença confirmada em um talk sobre arquitetura, na programação do Casa Vogue Experience. (Leia sobre o evento aqui“Criar um projeto nunca foi fácil como alguns querem fazer parecer. Pode-se elaborar o projeto na hora que te propõem. Mas o fato é que aquilo tem sido difícil nos últimos anos. Não se faz nada, a não ser com aquilo que se sabe e com o que faz parte do seu inconsciente. Isso quer dizer que quando você viu uma coisa e gravou, houve o interesse, a intriga. No momento oportuno, esse fato aparece como contribuição ao seu saber fazer”. Veja abaixo outros conceitos do mestre que mostram como esse olhar crítico (e detalhista) habita as entrelinhas de seus projetos.

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Museu dos Coches (Foto: Reprodução/ Fernando Guerra)

Museu dos Coches, em Portugal

Sobre o fazer diário 
“Temos códigos muito exíguos: 25 letras, 7 notas musicais, dez números. Guimarães Rosa e Shakespeare usaram as mesmas letras, e a forma com que usaram é a diferença entre eles. O negócio é prestar atenção. Por isso, mais uma vez viva os 40 anos da Casa Vogue. É uma forma de fazer periodicamente do jornalismo o elogio dessa maravilha que é a vida cotidiana.”

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Sua melhor obra
“Preferia eu fazer essa pergunta a alguém. É inútil e sem graça eu falar delas, mas gostaria que elas falassem por si. O vaidoso diria: ‘As melhores ainda não fiz’”.

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Arquitetura atual
“Vejo a arquitetura bastante deslocada do que, na minha opinião, é seu interesse fundamental: ser a construção do habitat humano no planeta. Fazer uma cidade não é repetir o que está aí. É preciso aliviar a população, aumentar o tempo livre, e não ser mais um produto para mercado.”

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Paulo Mendes da Rocha (Foto: Adriana Yin, Luca Caiafa e Nelso)

Casa no Butantã, projeto de Paulo Mendes da Rocha

Modernismo
“De forma geral, não sou muito favorável a momentos que se chamam X ou Y. Prefiro imaginar que sempre precisamos ser modernos. Portanto, o que mais atrai é a ideia de liberdade. De não se prender a um dogma, diante de uma vida que não cessa, do conhecimento que se amplia. Principalmente hoje, com a velocidade da comunicação, pode-se sempre inovar. Não é à toa que a dimensão artística da atitude humana seja tão difícil de analisar, dizer exatamente o que é. É algo indizível.” 

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Um projeto residencial bem feito 
“A única virtude incontestável de uma casa é o endereço. Quando está próximo de tudo, eis aí uma residência invejável. Se eu te disser o que tem na minha casa, isso não a torna invejável. Se eu digo que está no bairro de Ipanema, você vai dizer ‘que desgraçado’ (risos). Dentro da casa, é só folhear a Casa Vogue, e você vai ver estilos diferentes. O que faz a casa são os hábitos do morador. O arquiteto só pode construir a cidade.” 

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Trabalho 
“Somos muito atrasados. Como seres humanos, as contradições que vivemos hoje provam que a educação está atrás disso. Nossas crianças, do mundo todo, estão atrasadíssimas. Se você não usa tudo o que sabe, está atrasado. E é muito difícil ser apenas “um pouco atrasado”. Se você está atrasado, está incomensuravelmente atrasado. É como um náufrago que não sabe nadar: se jogarem a bóia, ele vai conseguir um jeito de ir até lá. Ou seja, se podemos fazer mais e não fazemos, é preguiça. Ninguém faz parte de uma sinfônica porque se dedica nas horas vagas. O que temos que aprender é a não distinguir prazer de trabalho. O trabalho deve ser a máxima perspectiva erótica de sua vida.”

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Paulo Mendes da Rocha (Foto: Cristiano Mascaro)

Capela de São Pedro, Campos de Jordão, São Paulo, 1987, projetada por Paulo Mendes da Rocha

O sonho a realizar 
“Não fazer nada. Como bom brasileiro, meu sonho é viver de pé descalço, à beira-mar. O melhor lugar talvez sejam as praias da minha Vitória (ES).”
 

O que vem por aí
“Nosso trabalho de construção é lento e demorado. Esse museu que fiz em Portugal (o Museu dos Coches, em Lisboa), foi inaugurado, mas agora é que serão resolvidas algumas questões como o estacionamento. Em Vitória, o Cais das Artes ainda está em construção. Aqui em São Paulo, estou fazendo um grande projeto do SESC 24 de maio, no Centro.”

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Sua marca nos projetos
“Penso em geomorfologia, endereço, acesso e outros elementos, com foco sempre na cidade. Já que não posso projetar a cidade como quero, posso pensar em como o projeto contribui para a construção dela. Em arquitetura não existe uma coisa mais importante que a outra – é arte, ciência e técnica.”

Agradecimentos especiais aos patrocinadores:
Audi, Brastemp, Conceito.com, Dell Anno e D2F Engenharia.
E aos apoiadores:
Artefacto, Atrium, Caesarstone, Cebrace, Deca, Etel, Líder Interiores, Maison & Objet, MMartan, Minotti, Natura, Sherwin Willians e Amarula