Descrição de chapéu Eleições 2024 São Paulo

Tarcísio anuncia ex-Rota na vice de Nunes, que nega imposição e fala em construção com partidos

Prefeito diz que insatisfação foi contornada após aliados conhecerem Mello Araújo; Bolsonaro não abriu mão de indicação

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São Paulo

O prefeito Ricardo Nunes (MDB) e o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) confirmaram na tarde desta sexta-feira (21) que o coronel da reserva Ricardo Mello Araújo (PL) ocupará a vice na chapa do emedebista em busca da reeleição na cidade de São Paulo. O anúncio coube ao governador.

O ex-Rota foi indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), que se manteve irredutível a respeito da escolha, apesar da insatisfação no entorno do prefeito. Tarcísio, que antes defendia a autonomia de Nunes, passou a endossar o padrinho político e tomar as rédeas da definição.

O prefeito negou ter havido imposição da indicação de Mello Araújo, disse que inicialmente muitos não tinham simpatia pelo nome, mas que a convergência foi construída à medida que os aliados o conheceram.

Falou ainda em exemplo de atitude democrática com as negociações para a escolha do posto. "Todo mundo fala: ‘Você tem que falar que você que escolheu, que você é o bambambam’. Eu discuti conjuntamente e recebo de forma muito positiva uma construção de 11 partidos."

A imagem mostra um grupo de pessoas, incluindo políticos e jornalistas, em uma coletiva de imprensa ao ar livre. Os políticos estão no centro da imagem, cercados por jornalistas que seguram microfones e câmeras. A maioria das pessoas está vestindo roupas formais, como camisas sociais. Há uma grande concentração de pessoas ao redor, indicando que o evento é de grande interesse.
O governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) e o prefeito Ricardo Nunes (MDB) em evento de assinatura de extensão da Linha 5-Lilás do Metrô; no evento, ambos anunciaram o coronel Mello Araújo (PL) como vice de Nunes - Marcelo S. Camargo/Divulgação/Governo do estado de São Paulo

Nunes sinalizou discordância com a análise de que ele terceirizou a escolha para a vaga. "Nesse processo chegou até a aparecer algum nome que eu falei: ‘Esse eu não topo’."

Ele disse que todas as opções têm prós e contras e afirmou que Mello Araújo é "corajoso e determinado" e "não aceita questões de corrupção e crime organizado". O prefeito afirmou que eles começarão a trabalhar juntos e que convidará o vice para colaborar no plano de governo.

Questionado sobre preocupações a respeito da imagem de radicalidade que o ex-Rota pode levar para a chapa, ele respondeu: "Se for para ser radical contra quem faz exploração sexual infantil, para combater corrupção, contra o crime organizado, é o cara que eu quero".

Já Tarcísio elogiou a gestão de Mello Araújo à frente da Ceagesp (Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo) e disse que o coronel da reserva agrega valor à chapa. "A gente está muito confortável com isso, tenho certeza que é uma grande aquisição. É uma pessoa que tem identidade com um tema muito caro para a cidade de São Paulo hoje, que é o tema da segurança pública."

Antecipado nesta quinta pela coluna Mônica Bergamo, da Folha, o anúncio do vice ocorreu em evento na zona sul de São Paulo para assinatura de aditivo que prevê a extensão da linha 5 do metrô. O presidente da Câmara Municipal, Milton Leite (União Brasil), também esteve presente. Entre as maiores legendas da coligação de Nunes, a União Brasil foi a que mais demorou a aceitar Mello Araújo.

A direção municipal do PL divulgou nota afirmando que o partido e a União fecharam um acordo. Segundo o texto, o PL municipal apoiará a União na eleição para a mesa diretora da Câmara Municipal em 2025.

Leite afirmou nesta sexta que a campanha será um tempo de maturação para Mello Araújo. "Acho que precisa ter um convívio nesse período de campanha. Conhecer a cidade efetivamente, as demandas da sociedade. Vai ter essa oportunidade agora."

O presidente municipal da União negou que as negociações para endossar o nome do ex-Rota tenham passado por promessa de apoio de partidos da coligação de Nunes para a eleição do deputado Elmar Nascimento (União Brasil-BA) para a presidência da Câmara dos Deputados no ano que vem.

Da esq. para a dir., o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) e o coronel Mello Araújo (PL) após almoço na capital paulista
Da esq. para a dir., o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB) e o coronel Mello Araújo (PL) após almoço na capital paulista - Rafaela Araújo/Folhapress

O anúncio do vice acontece dois dias após jantar organizado por Tarcísio no Palácio dos Bandeirantes com dirigentes nacionais dos partidos que compõem a coligação de Nunes.

Nunes afirmou que ficou acordado no jantar que o governador seria o responsável por indicar o nome. O prefeito disse que quer falar sobre inaugurações, e não sobre a vice, e que Tarcísio sugeriu fazer logo o anúncio para virar a página.

O governador viaja para Nova York (EUA) e para a Europa neste fim de semana, onde apresentará o leilão da Sabesp a investidores, e volta apenas no dia 3 de julho.

O nome de Mello Araújo foi levado a Nunes no início do ano por Valdemar Costa Neto, presidente do PL, mas ganhou força apenas após a entrada do coach Pablo Marçal (PRTB) na disputa pela Prefeitura de São Paulo. Até então, o prefeito se mantinha como o único candidato associado ao campo da direita.

Com Marçal alinhado a valores ideológicos defendidos pelo bolsonarismo e bem posicionado nas pesquisas (ele marcou entre 9% e 7% em cenários testados pelo Datafolha ao fim de maio), o apoio de Bolsonaro a Nunes ficou mais caro.

A entrada do empresário na corrida eleitoral surpreendeu a pré-campanha do prefeito, que tinha a expectativa de definir o nome do vice apenas no período das convenções partidárias, ao fim de julho.

Nunes avalia que Mello Araújo é um nome radical, que pode afastar os eleitores moderados –o presidente Lula (PT) obteve 53% dos votos na capital no segundo turno de 2022.

Para não perder o endosso do PL, cujos deputados mostraram animação com o coach, o prefeito precisou oferecer o posto ao partido. Bolsonaro não quis falar em outra indicação

Com o surgimento de Marçal, Tarcísio, que é o principal cabo eleitoral do prefeito e tem interesse em sua reeleição, disse que era preciso estancar a ascensão do empresário. O governador, que antes dizia que a decisão caberia a Nunes, passou a defender publicamente o nome de Mello Araújo e cobrou agilidade na escolha.

Tarcísio está engajado em evitar a vitória de Guilherme Boulos (PSOL), principal adversário de Nunes. Seu entorno diz que a eleição do deputado federal atrapalharia ações em conjunto com a prefeitura.

Nesta semana, o clima no entorno do prefeito era de velório diante da indicação de Mello Araújo, visto como alguém que trará mais ônus do que bônus à campanha pela reeleição.

Aliados se preocupam não apenas com a radicalidade que Mello Araújo pode imprimir à chapa. Outro receio é que a escolha leve o eleitor a associar a pauta da segurança pública a uma responsabilidade do prefeito, e não do governador. Como mostrou o Datafolha, para 23% dos paulistanos, o maior problema da cidade é a segurança.

Nesta sexta-feira, ao anunciar o vice, Nunes disse que a segurança não é papel exclusivo da prefeitura, mas que, pelo seu tamanho, tem ações específicas voltadas para o tema. "Não vai ser o vice-prefeito que vai atuar em questão de segurança, mas pode colaborar comigo em vários quesitos."

Integrantes de partidos da coligação também citam um grande receio sobre o impacto da presença do coronel da reserva na periferia. Aliados se preocupam, inclusive, se o crime organizado permitirá que Mello Araújo faça campanha em certos locais dominados pelo tráfico.

Para criticar a chapa, a oposição usará uma declaração de Mello Araújo na qual defendeu a diferença de tratamento em abordagens policiais nos Jardins (área nobre de São Paulo) e na periferia.

"É uma outra realidade. São pessoas diferentes que transitam por lá. A forma dele abordar tem que ser diferente. Se ele [policial] for abordar uma pessoa [na periferia], da mesma forma que ele for abordar uma pessoa aqui nos Jardins [região nobre de São Paulo], ele vai ter dificuldade. Ele não vai ser respeitado", disse o ex-Rota ao UOL em 2017.

As campanhas de Boulos e Tabata Amaral (PSB) comemoraram a escolha de Mello Araújo. Eles avaliam que a indicação amarra Nunes a Bolsonaro e ameaça os votos do prefeito entre os eleitores moderados.

"Se o prefeito Ricardo Nunes resistiu ao nome do Ricardo Mello Araújo, é porque não o queria como seu vice. Se foi forçado a aceitá-lo é porque quem manda na sua candidatura é o Bolsonaro. Assim ele escancara sua fraqueza e deixa São Paulo de joelhos para outros interesses, não os da cidade", afirmou Tabata.

Já a pré-campanha do prefeito tentará explorar o apelo da gestão do coronel da reserva à frente da Ceagesp, defendendo que ele lançou mão de ações de combate à corrupção crônica no local. Não deve ser mencionada sua atuação como chefe da Rota, batalhão de elite da PM conhecido pela alta letalidade em suas ações.

Os capítulos da definição do vice de Nunes

Valdemar X Tarcísio

Em 29 de janeiro, Valdemar Costa Neto, presidente do PL, indica lista com sugestão de nomes para vice, que inclui o coronel da reserva Mello Araújo, a escolha de Jair Bolsonaro. No mesmo dia, Tarcísio de Freitas reage ao afirmar que o vice é uma escolha pessoal do prefeito e que não cabe a ele ou a ninguém indicar o cargo

Fator Marçal

Em 29 de maio, Datafolha mostra Pablo Marçal entre 7% e 9%, a depender do cenário pesquisado, em um bloco intermediário da disputa. A competitividade do nome dele gera ameaça de atração de bolsonaristas

Marçal com Bolsonaro

Em 4 de junho, Marçal se encontra com Bolsonaro. Depois, afirma ao jornal O Estado de S. Paulo que não havia chances de Bolsonaro apoiar Nunes e que a candidatura do prefeito estava desidratando. No dia seguinte, Bolsonaro diz ter compromisso com Nunes, por meio da indicação de Mello Araújo para a vice

Tarcísio cobra indicação rápida

Em 10 de junho, Tarcísio afirma que, pela mudança de cenário, seria importante que Nunes fizesse o acerto da vice o mais rápido possível

Almoço e jantar

Em 14 de junho, Nunes almoça com Tarcísio, Bolsonaro e Mello Araújo na prefeitura. Ali, diz que falta aparar as arestas com partidos para a indicação do policial. É marcado um jantar para 19 de junho, organizado por Tarcísio, com Nunes e membros dos partidos, para selar o nome do oficial no posto. No entanto, confirma-se apenas que o PL indicará a vaga

Anúncio de Tarcísio

Em 21 de junho, ao lado de Nunes, Tarcísio confirma à imprensa a indicação de Mello Araújo para a chapa. O prefeito nega imposição, diz que está satisfeito e fala em construção democrática com partidos da coligação

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