Saída de GSI de Lula ocorre após 3 meses e 19 dias; relembre quedas em governos anteriores

Sob Temer, primeira baixa ocorreu com 12 dias de gestão e, sob Bolsonaro, depois de 49 dias

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São Paulo

A exoneração do general Gonçalves Dias do comando do GSI (Gabinete de Segurança Institucional) marcou a primeira queda de ministro no terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), após três meses e 19 dias de mandato.

O general passou por intenso desgaste após crise envolvendo as imagens da segurança do Planalto e a atuação dos militares da pasta nos ataques golpistas de 8 de janeiro, quando integrantes do gabinete foram filmados distribuindo água e sendo cumprimentados pelos vândalos que depredavam o palácio.

Em governos anteriores, membros do primeiro escalão chegaram a cair após 12 dias do novo governo, como Romero Jucá, na gestão Michel Temer (MDB), caso mais rápido desde a redemocratização.

Além dele, Fernando Collor demitiu Joaquim Roriz após 14 dias da posse, Dilma Rousseff (PT) exonerou Marcelo Neri após 35 dias do início do segundo mandato, e Jair Bolsonaro (PL) removeu Gustavo Bebbiano (PSL) do cargo 49 dias após empossado.

Vista aérea da Esplanada dos Ministérios em Brasília, capital do país
Vista aérea da Esplanada dos Ministérios em Brasília, capital do país - Ana Volpe - 22.jul.15/Agência Senado

Veja quais foram as primeiras quedas de ministros em governos no Brasil, desde a redemocratização:

Lula (terceiro mandato)

  • Três meses e 19 dias de governo

Na terceira gestão de Lula, o general Gonçalves Dias, do GSI (Gabinete de Segurança Institucional), foi o primeiro dos integrantes do primeiro escalão a sair do governo, após revelação de imagens no circuito interno da segurança do Planalto mostrando a atuação de militares da pasta durante os ataques golpistas de 8 de janeiro.

As câmeras mostram os vândalos recebendo água dos militares e cumprimentando agentes do gabinete durante os ataques. O ministro aparece nas imagens circulando pelo terceiro andar do palácio, na antessala do gabinete do presidente da República, enquanto os atos ocorriam no andar debaixo.

O episódio gerou desgaste a Gonçalves Dias, que já passava por pressão após desconfiança do próprio presidente —o petista demitiu oficiais do GSI após os ataques, e mostrou desconfiança com os agentes que atuaram naquele dia. Com isso, o general pediu exoneração do cargo.

Jair Bolsonaro

  • 49 dias de governo

A primeira crise de Jair Bolsonaro (PL) no Planalto levou à demissão de Gustavo Bebianno, à época titular da Secretaria-Geral de Governo e presidente do PSL. Ele foi exonerado após reportagem da Folha revelar a existência de um esquema de candidaturas laranjas do PSL para desviar verba pública eleitoral.

Homem forte da candidatura do então deputado federal à Presidência, Bebbiano era o responsável formal pela liberação de verba pública para todos os candidatos do partido, enviando expressivos recursos do fundo eleitoral para postulantes que não fizeram campanha efetivamente.

Michel Temer

  • 12 dias de governo

O mandato de Michel Temer (MDB), iniciado em meio à turbulência do impeachment de Dilma Rousseff (PT), foi posto à prova em seus primeiros dias, com a divulgação de conversa do então ministro do Planejamento, Romero Jucá (MDB-RR), falando em "estancar a sangria" causada pela Lava Jato.

Semanas antes da votação na Câmara que desencadeou a cassação de Dilma, Jucá ligou para o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado e afirmou que uma mudança no Executivo resultaria em um pacto para "estancar a sangria" representada pela operação da PF, que investigava ambos.

Com a repercussão do diálogo vazado, o próprio titular da pasta pediu licença do governo e foi, portanto, exonerado do cargo.

Dilma Rousseff

  • Cinco meses no primeiro mandato; 35 dias no segundo

A primeira mulher presidente do país teve Antonio Palocci, então ministro-chefe da Casa Civil, como o primeiro a sair do governo em seus quatro anos iniciais no Planalto. Palocci pediu demissão após não explicar o crescimento de 20 vezes de seu patrimônio entre 2006 e 2010, revelado pela Folha.

A reportagem mostrou que o valor das propriedades do petista aumentou de R$ 375 mil para R$ 7,5 milhões em quatro anos. O ex-ministro alegou atividades como consultor como justificativa para o enriquecimento.

Já no segundo mandato, Marcelo Neri, ministro-chefe da Secretaria de Assuntos Estratégicos, foi o primeiro a deixar o mandato com apenas 35 dias de governo. Ele foi substituído por Mangabeira Unger, que havia passado pelo órgão entre 2007 e 2009.

Luiz Inácio Lula da Silva

  • Um ano e 21 dias no primeiro mandato; dois meses e nove dias no segundo

No primeiro mandato de Lula, Roberto Amaral, então titular da Ciência e Tecnologia, pediu demissão pouco antes de o então presidente fazer uma reforma ministerial, dizendo buscar uma "saída honrosa" do cargo.

Indicado pelo PSB, seu partido, o ministro queixava-se de um "jogo de empurra" entre a sigla o Planalto sobre a sua permanência no governo, além de não ter padrinhos políticos e ter seu desempenho criticado pela comunidade científica

Após vencer as eleições de 2006 e ser empossado ao novo mandato, Lula recebeu, em março de 2007 o pedido de demissão de Álvaro Augusto Ribeiro Costa, advogado-geral da União, órgão que possui posição de ministério. Foi substituído por Dias Toffoli, hoje ministro do STF (Supremo Tribunal Federal).

Fernando Henrique Cardoso

  • Três meses e um dia no primeiro mandato; três meses no segundo

Nos primeiros quatro anos do tucano, Roberto Muylaert, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, pediu demissão em abril de 1995, criticado pela sua atuação na condução da política de comunicação do governo e por setores que trabalharam na campanha de Fernando Henrique.

Já no segundo mandato, FHC exonerou Paulo de Tarso Almeida Paiva, então titular do Ministério do Orçamento e Gestão em 31 de março de 1999, substituído interinamente por Pedro Parente, que ficou na pasta até a reforma ministerial, realizada por Fernando Henrique em 18 de julho.

Itamar Franco

  • Dois meses e 15 dias de governo

Gustavo Krause, então ministro da Fazenda, foi o primeiro demitido por Itamar Franco (PMDB), que assumiu a Presidência após o impeachment de Collor, e em meio a uma crise política e econômica, a alta inflacionária, a estagnação do crescimento e o confisco da poupança.

Com as sucessivas falhas em medidas para deter o aumento generalizado dos preços e a necessidade de obter apoio no Congresso, Krause foi exonerado, e posteriormente, outros titulares da área econômica deixaram seus postos, como seus sucessores Eliseu Resende e Paulo Haddad.

Fernando Collor

  • 14 dias de governo

Joaquim Roriz, que já tinha sido vereador, deputado estadual e vice-governador de Goiás, foi escolhido por Fernando Collor de Mello para chefiar o Ministério da Agricultura e Reforma Agrária, mas deixou o cargo duas semanas após sua posse, para disputar o Governo do Distrito Federal, vencendo em primeiro turno.

José Sarney

  • Dois meses e 15 dias de governo

Francisco Dornelles, ministro da Fazenda escolhido por Tancredo Neves e mantido no gabinete de José Sarney (MDB), foi o primeiro a pedir exoneração para o então presidente, que inaugurava uma nova era civil e democrática após 21 anos de ditadura militar.

Apesar de afirmar ter bom diálogo com o presidente, Dornelles saiu do primeiro escalão do Executivo por não conseguir dar respostas rápidas à crise inflacionária e em meio a várias críticas de setores do PMDB que o interpretavam como um tecnocrata, de perfil parecido ao dos ministros do regime militar.

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