Bolsonaro repete ameaças golpistas e diz esperar nova conversa com Moraes

Presidente confirma encontro e diz que ministro do STF falou 'certas coisas que não procediam'

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Brasília

O presidente Jair Bolsonaro (PL) confirmou neste domingo (26) que teve uma conversa com o ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes na última semana e disse que pretende ter um novo encontro com o magistrado.

O mandatário também repetiu ameaças golpistas e ataques às urnas, se queixou de "interferências" do Supremo no Executivo e disse que "vai chegar um ponto final".

"Uma hora vai acontecer uma tragédia que a gente não quer. Não estamos dando recado, aviso, todo mundo sabe o que está acontecendo", disse ao programa 4 por 4, feito por simpatizantes do presidente.

Presidente Jair Bolsonaro (PL)
Presidente Jair Bolsonaro (PL) no Palácio do Planalto - Ueslei Marcelino/Reuters

Sobre a conversa com Moraes, Bolsonaro disse que o ministro "falou 90% do tempo" e ele, 10%. "Mais ou menos cinco minutos de conversa. Falei para ele: vamos conversar na próxima semana com mais tempo. E pode ser em qualquer lugar", afirmou.

O objetivo, segundo o chefe do Executivo, é que cheguem a um "entendimento".

"Ver se consigo entendê-lo e ele me entender também, porque, pelo que ele falou ali, não me entende. Falou certas coisas que não procediam, não vou revelar o que é. Eu fiquei mais quieto, ouvindo ele falar. E pretendo conversar com ele sim, pretendo e ver o que está acontecendo, porque no fundo eu quero diálogo e respeito à Constituição", disse.

O encontro dos dois ocorreu na residência oficial da Presidência da Câmara em evento realizado pelo presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), em homenagem aos 20 anos do ministro Gilmar Mendes no STF.

Bolsonaro faz frequentemente insinuações golpistas e ataca as urnas eletrônicas, muitas vezes com base em mentiras. Ele já disse que, caso o pleito deste ano não seja "limpo", não haverá eleições.

Em outra frente, mais uma vez sem apresentar provas ou indícios para isso, Bolsonaro sistematicamente questiona a segurança do sistema eletrônico de votação e acusa a cúpula do TSE de ser parcial e de trabalhar pela vitória de seu adversário, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

A estratégia de Bolsonaro, dizem especialistas, mina a confiança no processo eleitoral e cria o risco de que o presidente não reconheça o resultado caso saia derrotado. Bolsonaro aparece em segundo lugar nas pesquisas, distante do líder, o ex-presidente Lula.

Na mesma entrevista deste domingo, o presidente também voltou a fazer críticas aos ministros Luís Roberto Barroso e Edson Fachin, do STF.

O mandatário mais uma vez sem provas levantou suspeitas contra o sistema eletrônico de votação. Ele disse que irá apresentar provas de que venceu as eleições de 2018 no primeiro turno e que o resultado foi fraudado para prejudicá-lo.

Bolsonaro disse que os indícios apontam que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) irá realizar o pleito apenas para "cumprir tabela".

"É o que deixam transparecer. Em vez de ajudarem a dissipar a nuvem de suspeição que existe na cabeça de muita gente, muito pelo contrário, tornam concreta essa possibilidade da maneira como agem" afirmou.

Segundo pesquisa Datafolha do mês passado, as declarações de Bolsonaro com ataques a ministros do STF e do TSE e as ameaças sobre as eleições devem ser levadas a sério pelas instituições segundo a avaliação de 56% da população.

Uma parcela de 36%, entretanto, acha que as afirmações do mandatário não terão consequências, e 8% não sabem opinar.

O fato de a maioria dos brasileiros considerar importante uma reação às falas de tom golpista do chefe do Executivo contribui para elevar a pressão sobre os Poderes a menos de 100 dias das eleições. Um levantamento da Folha neste mês mostrou que autoridades têm se calado diante das atitudes de Bolsonaro.

A percepção majoritária é a de que os gestos de Bolsonaro que flertam com deslegitimação do sistema de votação, contestação do resultado das eleições e ruptura democrática não podem ser ignorados.

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