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Linamara Rizzo Battistella

Desumanização: afinal, o que isso tem a ver com a universidade?

Deve-se priorizar o crescimento pessoal de alunos e a valorização de docentes

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Linamara Rizzo Battistella

Professora titular de fisiatria da Faculdade de Medicina da USP

As universidades há muito são consideradas instituições que promovem o crescimento intelectual, o pensamento crítico e o desenvolvimento pessoal. No entanto, abaixo da superfície, existe uma questão preocupante de desumanização que pode ter um impacto profundo no bem-estar desse ecossistema que reúne docentes, alunos e o imenso e necessário universo da administração.

A desumanização refere-se ao processo pelo qual os indivíduos são tratados como objetos ou despojados das suas qualidades humanas, levando a uma sensação de alienação e desconexão. Explorar as diversas manifestações de desumanização nas universidades e lançar luz sobre suas consequências para a sociedade não é uma temática nova.

O tema da humanização, com destaque para as práticas assistenciais, é uma discussão que permeia grupos de estudos e normas do ensino, sobretudo na área da saúde. Faz eco nessa direção possíveis estratégias para mitigar a desumanização e promover um ambiente acadêmico mais inclusivo e solidário.

Uma das principais fontes de desumanização nas universidades é a prevalência de ambientes de aprendizagem impessoal. Turmas grandes, interações impessoais com professores e foco nas notas, na contramão da valorização do crescimento individual, podem criar uma sensação de anonimato e distanciamento. Os alunos podem sentir-se como meros números num sistema, em vez de indivíduos com aspirações e necessidades únicas.

As universidades têm frequentemente estruturas administrativas complexas que podem exacerbar sentimentos de desumanização. Processos burocráticos demorados, falta de transparência e comunicação impessoal podem deixar os docentes e até os alunos frustrados e impotentes. A necessidade constante de navegar pela burocracia administrativa pode impedir a capacidade de se concentrar na oferta de educação como estratégia para o desenvolvimento pessoal.

Além disso, muitas universidades promovem uma cultura hipercompetitiva que prioriza o sucesso individual em detrimento de comunidades colaborativas. A pressão para o destaque acadêmico se mistura com as tratativas administrativas e pode levar à perda de empatia e espírito colaborativo entre pares, com reflexos dramáticos entre os estudantes.

Existem formas de combater essa tragédia silenciosa e tão contemporânea, trabalhando com foco na interdisciplinaridade, incentivando projetos e iniciativas extracurriculares que promovam um sentimento de pertencimento.

A desumanização nas universidades é uma questão premente que requer atenção e ação. Ao reconhecer as várias manifestações de desumanização e implementar estratégias para mitigar o seu impacto, as universidades podem criar um ambiente mais humano e de apoio aos estudantes e docentes. É essencial que as instituições priorizem o bem-estar e o crescimento pessoal dos alunos e a valorização dos docentes, garantindo que estes não sejam reduzidos a meras estatísticas, mas sejam valorizados como indivíduos com forças e aspirações únicas.

Respeito à integridade e dignidade humana parece trivial, ocorre que não depende de discurso. Ele só se materializa pelas atitudes e comportamentos.

TENDÊNCIAS / DEBATES
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