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O que a Folha pensa Governo Lula

Desaforos de Milei

Sem atenção à diplomacia, argentino ataca Lula e outros líderes por ideologia

Javier Milei, presidente da Argentina, discursa em evento de ultradireita em Madri (Espanha) - Oscar del Pozo - 19.mai.24/AFP

No que diz respeito às relações internacionais, o argentino Javier Milei age mais como um animador de auditório do que como um presidente da República.

Milei parece mais interessado em arrancar os aplausos de seu público cativo do que em cimentar boas relações com outras nações, que levem a acordos e negócios benéficos à tão combalida economia de seu país. E ele parece ter desenvolvido um método próprio de indispor-se com nações cujos líderes vê como adversários ideológicos.

O primeiro alvo foi a Espanha do premiê Pedro Sánchez. Em maio, Milei viajou ao país europeu para participar de uma convenção de partidos de ultradireita e chamou de corrupta a mulher de Sánchez, na época investigada por uma denúncia de tráfico de influência. Como represália, o espanhol retirou sua embaixadora de Buenos Aires.

Algo semelhante pode acontecer agora com o Brasil. O mandatário argentino vem intensificando seus ataques a Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —o mais recente foi chamá-lo de "dinossauro idiota"— e deverá estar no Brasil no fim de semana para participar de um encontro conservador capitaneado pelos Bolsonaros.

Milei não procurou nenhuma autoridade do governo brasileiro e nem sequer informou o Itamaraty de sua viagem, o que viola as práticas diplomáticas. Ademais, cancelou sua participação na cúpula do Mercosul, que terá lugar no Paraguai no início da próxima semana.

Ele também já disparou contra o presidente colombiano Gustavo Petro ("comunista assassino") e acusou seu homólogo boliviano, Luis Arce, de ter encenado uma tentativa de golpe militar. Nem o papa, um conterrâneo, foi poupado de termos como "imbecil", "comunista" e "representante do maligno".

As relações entre países deveriam estar acima das pessoas que eventualmente os comandam. Não se pode responsabilizar Lula pelo comportamento inadequado do vizinho, mas o brasileiro faria bem se, no futuro, não se envolvesse tão diretamente nos processos eleitorais de outras nações, como fez em relação à Argentina.

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