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Por trás da Bolsa

Temores do mercado estão ligados a cenário externo, mas contas do governo pesam

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Tela com gráfico das cotações de ações na Bolsa de Valores de São Paulo - Amanda Perobelli/Reuters

Houve melhora recente, sem dúvida, das expectativas acerca da economia brasileira, em parte por decisões até aqui responsáveis, em geral, do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) —e que felizmente não deram consequência à retórica imprudente do mandatário.

Mesmo assim, as últimas semanas revelaram que o quadro ainda é delicado, como evidenciado pela sequência inaudita de quedas da Bolsa de Valores, além de nova escalada das cotações do dólar.

Nunca é seguro embasar qualquer prognóstico em oscilações do mercado financeiro, para o bem ou para o mal. Deve-se apontar, também, que parte expressiva da recente onda negativa vem do exterior.
Renovados temores de que os juros nos EUA poderão ter que subir ainda mais contribuíram para a valorização da moeda americana.

A crescente evidência de que a China passa por persistente desaceleração e riscos recessivos, além disso, sugere potencial contágio para economias emergentes que se ancoraram no dinamismo chinês nas últimas décadas.

Tais fatores são um lembrete de que não há espaço para complacência ou descuido do governo na política econômica.

A divulgação da nova regra de controle das contas públicas, em vias de aprovação final na Câmara dos Deputados, e a permanência da meta de inflação em 3% para 2026 contribuíram para que o Banco Central iniciasse um ciclo de cortes de juros, que deve se estender até o próximo ano.

A atividade produtiva também surpreendeu positivamente até agora. Ainda que muito do resultado esteja ancorado na safra recorde, que expandiu o PIB do setor em 20% no primeiro trimestre, por ora há desempenho razoável dos serviços e do comércio.

A contínua robustez do mercado de trabalho, com bom incremento da renda e menor desemprego, é outro ponto positivo.

Entretanto os sinais preocupantes não advêm apenas do exterior. Em particular, vai ficando claro que o governo terá grande dificuldade em cumprir a meta de zerar o déficit fiscal em 2024.

A arrecadação de impostos e a economia dão sinais de desaceleração. Diante da alta continuada das despesas, as projeções para o crescimento da dívida pública devem voltar a piorar.

O problema é que a estratégia da equipe econômica depende de uma exorbitante elevação da carga tributária, que por sua vez se ancora em projetos de difícil tramitação no Congresso. Ruídos políticos em torno dessa agenda já aparecem.

Será fundamental a aprovação já tardia da regra fiscal e a elaboração de um projeto crível de Orçamento para 2024, que precisa ser enviado ao Congresso neste mês.

editoriais@grupofolha.com.br

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