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A chamada de Lula

Presidente deve dissipar dúvidas da Esplanada e do país sobre rumos do governo

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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante cerimônia no Palácio do Planalto, em Brasília - Evaristo Sá/AFP

Inícios de governo não raro elevam a frequência de declarações divergentes, anúncios atabalhoados e medidas nebulosas por parte das novas autoridades. Tratando-se do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e de seu afã em demarcar contrastes com o predecessor, o risco parece mais claro.

Assim o indica o agendamento de uma reunião ministerial para esta sexta-feira (6), antes mesmo de completada uma semana desde a posse do presidente. Dos 37 nomes do primeiro escalão, aliás, 16 só foram confirmados no apagar das luzes do ano passado.

Nesse grupo está a titular do Turismo, Daniela Carneiro, que responde pelo primeiro mal-estar político da administração. A Folha revelou que a deputada eleita e o marido, ambos da União Brasil fluminense, contaram em campanhas com o apoio de um ex-PM condenado e preso sob acusação de chefiar uma milícia no estado.

O Planalto descartou afastar a ministra, com o argumento razoável de que nada de mais grave pesa contra sua atuação. De todo modo é obviamente embaraçoso o elo, que inclui ainda outro encarcerado, com figuras de atividade criminosa associada ao bolsonarismo.

A maior presepada da equipe de Lula, no entanto, partiu de Carlos Lupi (PDT), outro da última leva de escolhidos e instalado na Previdência Social, recém-separada da pasta do Trabalho. De moto próprio, o pedetista aventurou-se a negar o déficit do INSS e a anunciar uma comissão destinada a reexaminar a reforma das aposentadorias.

Essa modalidade de negacionismo já deveria estar superada no debate nacional, mas a tese de Lupi mantém seu apelo à esquerda.

Já se torturaram números e se reviraram contabilidades, em especial nas administrações petistas do passado, para embelezar o balanço previdenciário. O que nenhum malabarismo aritmético pode esconder é que as despesas com benefícios, exorbitantes para os padrões emergentes, cresciam em ritmo insustentável até a reforma.

Menos mau que o ministro da Casa Civil, Rui Costa (PT), tenha de certa forma desautorizado o colega, ao dizer que nenhuma proposta de revisão das regras está em elaboração no momento —o que não chega a ser uma negativa peremptória de tal intenção.

É provável que boa parte da Esplanada, assim como da sociedade brasileira, ainda não tenha clareza sobre os rumos do novo governo para além dos revogaços materiais e simbólicos desta primeira semana. Lula fará bem se começar a dissipar as dúvidas em sua primeira reunião com o gabinete.

editoriais@grupofolha.com

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