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Alívio de curto prazo

Inflação de junho reduz temores sobre juros, mas não basta para melhorar cenário

Movimento de produtos hortifrúti na Central de Abastecimento do Rio Grande do Sul, em Gravataí - Carlos Macedo/Folhapress

Divulgado nesta quarta-feira (10), o IPCA de junho mostrou inflação ao consumidor de 0,21%, abaixo das expectativas gerais. Ao menos por ora, o resultado contribui para reduzir tensões em torno da política de juros do Banco Central.

O detalhamento da taxa do mês passado mostra boas notícias relevantes. A inflação de alimentos, que tem impacto direto no bem-estar da maioria da população, mostrou sensível recuo —de 1,38% em janeiro para 0,44%, menor cifra do ano— e também surpreendeu positivamente os analistas.

Parece ter ficado para trás o pior do efeito da tragédia climática no Rio Grande do Sul, que havia afetado preços agrícolas em maio. O IPCA de Porto Alegre (o índice é pesquisado em 16 capitais e regiões metropolitanas) registrou queda de 0,14% em junho, ante alta de 0,87% no mês anterior.

Por fim, o índice de difusão da inflação, que aponta quantos dos bens e serviços pesquisados pelo IBGE ficaram mais caros no mês, foi de 52% —o menor apurado neste 2024, iniciado com 65%.

Num primeiro momento, os números de junho foram bem recebidos nos mercados, com queda da cotação do dólar e alta da Bolsa de Valores. Tendem a perder força, em tese, apostas numa alta dos juros do BC —ainda mais porque Luiz Inácio Lula da Silva (PT) dá uma trégua nos ataques ao órgão.

Não é o bastante, porém, para uma melhora sólida das expectativas e do ambiente econômico. O IPCA acumulado em 12 meses está em 4,23%, o que não permite descartar o risco de estouro do teto de 4,5% a ser respeitado pelo BC (meta de 3% mais tolerância de 1,5 ponto percentual).

A inflação dos serviços, a mais resistente, caiu para apenas 0,04% em junho, mas graças a uma queda aguda e circunstancial dos preços das passagens aéreas. Em 12 meses, ainda marca 4,47%.

Esse cenário não permite antever uma retomada dos cortes de juros. Para tal objetivo, o governo petista precisa contribuir com medidas palpáveis de controle de despesas, uma boa indicação para o comando do BC e, se não for pedir demais, declarações menos insensatas do presidente da República.

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