Descrição de chapéu Eleições EUA

Kamala ganha força como substituta de Biden em eleição contra Trump

Vice seria sucessora natural, mas atual presidente segue reiterando que não deve desistir da disputa pela Casa Branca

Nandita Bose Jeff Mason Bianca Flowers
Washington | Reuters

Ela preocupa doadores republicanos, tem nome reconhecido, e pesos pesados do Partido Democrata estão começando a apoiá-la. A vice-presidente Kamala Harris seria a sucessora natural do presidente Joe Biden se ele cedesse à pressão crescente e desistisse de ser o candidato democrata na eleição de 2024.

Agora doadores do partido, ativistas e autoridades estão se perguntando: Kamala tem uma melhor chance do que Biden de vencer Donald Trump?

O presidente dos EUA, Joe Biden, aperta a mão de sua vice, Kamala Harris, na Casa Branca - Brendam Smialowski/AFP

Kamala, 59, ex-senadora dos EUA e ex-procuradora-geral da Califórnia, seria a primeira mulher a ser presidente dos Estados Unidos se ela se tornasse a indicada do partido e vencesse a eleição de 5 de novembro. Ela é a primeira mulher afro-americana e primeira pessoa de ascendência asiática a ser vice-presidente.

Seu mandato na Casa Branca teve um começo sem brilho. Até o ano passado, parte da Casa Branca e da equipe de campanha de Biden temia que a vice fosse um fator negativo para a campanha. A situação mudou à medida que ela se destacou em questões de direitos ao aborto e conquistou eleitores jovens.

Kamala "está orgulhosa de ser companheira de chapa [de Biden] e espera servir ao seu lado por mais quatro anos", disse a campanha à agência de notícias Reuters.

PESQUISAS FAVORÁVEIS A KAMALA

Pesquisas recentes sugerem que Kamala poderia se sair melhor do que Biden contra Trump. Levantamento da CNN divulgado em 2 de julho mostrou Trump à frente de Biden em seis pontos percentuais (49% a 43%), embora empatados tecnicamente dentro da margem de erro de 3,5 pontos percentuais. Kamala também ficou atrás de Trump (47% a 45%) —e também com empate técnico.

Entre eleitores independentes, a vice tem vantagem numérica sobre Trump (43% a 40%), e eleitores moderados de ambos os partidos também a preferem (51% a 39%).

Democratas influentes, incluindo o líder democrata na Câmara, Hakeem Jeffries, o deputado Jim Clyburn, que foi fundamental para a vitória de Biden em 2020; o deputado Gregory Meeks, um congressista de Nova York e membro sênior da bancada negra do Congresso; e Summer Lee, uma deputada democrata da Pensilvânia, sinalizaram que Kamala seria a melhor opção para liderar a chapa se Biden optar por desistir —Jeffries não o fez publicamente, contudo.

Kamala é levada tão a sério que dois doadores republicanos disseram à Reuters que prefeririam que Trump enfrentasse Biden do que ela. E alguns em Wall Street, um importante centro de arrecadação de fundos democratas, estão começando a indicar uma preferência.

"Biden já está atrás de Trump, e é improvável que consiga superar essa diferença dada a situação atual de sua campanha. Ter Kamala provavelmente melhora as chances dos democratas de conquistar a Casa Branca", disse Sonu Varghese, estrategista da Carson Group, uma empresa de serviços financeiros, após o debate. "Há potencialmente mais vantagens para as chances dela do que para as de Biden neste momento."

A maioria dos americanos vê Kamala de forma negativa, assim como os dois homens que concorrem à Presidência .O agregador de pesquisas Five Thirty Eight aponta que 37,1% dos eleitores dizem aprovar Kamala, contra 49,6% que dizem reprová-la. Respectivamente, esses números são 36,9% e 57,1% para Biden, e 38,6% e 53,6% para Trump.

Desde que a Suprema Corte revogou o direito constitucional das mulheres ao aborto em 2022, Kamala se tornou a principal voz da administração Biden sobre direitos reprodutivos, uma questão na qual os democratas estão apostando para ajudá-los a vencer a eleição de 2024.

Alguns democratas acreditam que ela poderia energizar grupos inclinados aos democratas cujo entusiasmo por Biden diminuiu, incluindo eleitores negros, jovens eleitores e aqueles que não aprovam a maneira como Biden lidou com a guerra Israel-Hamas.

Se Biden decidisse se afastar, poderia haver uma competição entre outros democratas para se tornar o indicado. Se o partido então escolhesse outro candidato em vez de Kamala, alguns democratas dizem que ele poderia perder o apoio de muitos eleitores negros que foram fundamentais para a vitória de Biden em 2020.

"Não há alternativa além de Kamala Harris", disse Adrianne Shropshire, diretora executiva do grupo de alcance de eleitores negros BlackPAC. "Se o Partido Democrata acha que tem problemas agora com sua base confusa, pular a mulher negra ...eu não acho que o Partido Democrata realmente se recupere."

No entanto, Kamala pode ter dificuldade em atrair democratas moderados e eleitores independentes que gostam das políticas centristas de Biden, disseram alguns doadores democratas. Ambos os partidos buscam os independentes para ajudá-los a cruzar a linha de chegada nas eleições presidenciais.

"Sua maior fraqueza é que sua imagem pública tem sido associada à ala mais à esquerda do Partido Democrata, que não pode vencer uma eleição nacional", disse Dmitri Mehlhorn, arrecadador de fundos e conselheiro do cofundador do LinkedIn e megadoador democrata Reid Hoffman. "Esse é o desafio que ela terá que superar se for a indicada."

Kamala herdaria o dinheiro arrecadado pela campanha de Biden e a infraestrutura da campanha, uma vantagem crítica com apenas quatro meses antes do dia da eleição em 5 de novembro.

Mas qualquer campanha democrata ainda precisa arrecadar centenas de milhões de dólares a mais antes de novembro para ser bem-sucedida, dizem os estrategistas. E aí Kamala poderia ser um problema. .

Os ataques republicanos à vice-presidente estão aumentando à medida que ela é cogitada como possível substituta de Biden. Comentaristas conservadores estão recirculando críticas feitas a Kamala durante a corrida de 2020, incluindo de alguns democratas, de que ela ri demais, que é inexperiente e não qualificada.

Kelly Dittmar, professora de ciência política na Universidade Rutgers, disse que os ataques fazem parte de um processo histórico de objetificação de mulheres negras na política. "Infelizmente, a dependência de ataques e tropos racistas e sexistas contra mulheres que concorrem a cargos políticos é historicamente comum e persiste até hoje", disse.

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