Descrição de chapéu Bolívia

Entenda cenário político na Bolívia que levou a tentativa de golpe militar

Evo Morales denuncia movimentação das Forças Armadas, segundo sismo político em cinco anos no país

Boa Vista

Militares das Forças Armadas da Bolívia tentaram dar um golpe de Estado no país nesta quarta-feira (26) e chegaram a tomar a praça em La Paz onde fica o palácio presidencial, com soldados adentrando o prédio liderados por um general que havia sido destituído do cargo na terça-feira (25).

O presidente boliviano, Luis Arce, ordenou que o general Juan José Zúñiga desmobilizasse as tropas imediatamente e em seguida demitiu os três chefes das Forças Armadas e nomeou seus substitutos. O novo comandante do Exército, José Wilson Sánchez, repetiu a ordem para que as tropas se retirassem.

Depois de horas de tensão, os soldados obedeceram e deixaram a Praça Murillo, incluindo Zúñiga. A polícia assumiu o controle do local. O general, por sua vez, foi preso pelas autoridades bolivianas, mas disse que a ação foi incentivada pelo próprio Arce, que teria arquitetado um autogolpe para aumentar sua popularidade. Ele não apresentou, contudo, evidências que comprovem sua acusação.

Exército lança gás lacrimogêneo em pessoas na praça Murrilo, em La Paz
Exército lança gás lacrimogêneo em pessoas na Praça Murrilo, em La Paz - Aizar Raldez - 26.jun.2024/AFP

A política boliviana passa por sobressaltos nos últimos anos. Em 2019, alegações de fraude na eleição daquele ano e protestos massivos forçaram Evo, então reeleito para um polêmico quarto mandato, a renunciar e buscar asilo no México.

Ele retornou ao país em 2020, com a vitória do apadrinhado Luis Arce, do mesmo partido de Evo, o MAS (Movimento ao Socialismo). Nos últimos meses, no entanto, os dois têm evidenciado desentendimentos que provocaram um racha no partido.

Veja datas importantes da política boliviana desde a primeira eleição de Evo

Eleição de 2005
Evo Morales é eleito presidente, tornando-se o primeiro presidente indígena da Bolívia. Seu governo faz reformas, incluindo a nacionalização de recursos naturais. Assume em janeiro de 2006.

Referendo para mudança constitucional em 2009
Evo promove nova Constituição, aprovada por referendo, que amplia os direitos indígenas e permite reeleição presidencial para dois mandatos consecutivos.

Reeleição de Evo em 2009
Evo é reeleito com ampla margem de votos, consolidando poder e continuando políticas sociais e de nacionalização.

Eleição para terceiro mandato de Evo, em 2014
O presidente é reeleito para um terceiro mandato, após a Corte Constitucional permitir sua candidatura, argumentando que seu primeiro mandato não contava sob a nova Constituição, ou seja, não entrava na soma de dois mandatos consecutivos permitidos pelo novo texto.

Referendo de 2016
Em referendo para permitir nova reeleição, Evo é derrotado. Ele decide, porém, ser candidato novamente após a Corte Constitucional declarar que a limitação de mandatos violava seus direitos humanos.

Pleito de 2019
com a candidatura contestada pela oposição e em meio a acusações de fraude na contagem de votos, protestos massivos contra e a favor de Evo que, pressionado a renunciar, busca asilo no México.

Renúncia e asilo em 2019
Evo renuncia após perder o apoio das Forças Armadas e enfrenta crescente pressão popular e internacional. Jeanine Áñez assume como presidente interina.

Exílio e retorno de Evo
Evo vive no exílio por um ano, primeiro no México e depois na Argentina, antes de retornar à Bolívia após a vitória de Luis Arce, do MAS, nas eleições de 2020.

Eleições de 2020
Luis Arce, aliado de Evo, vence as eleições presidenciais, permitindo a continuidade das políticas do MAS e o retorno de Evo à Bolívia.

Prisão de Áñez, em 2021
Jeanine Áñez é presa acusada de conspiração, sedição e terrorismo nos dias que se seguiram à renúncia de Evo. Ela é condenada em 2022 a 10 anos de prisão.

Racha no MAS e rusgas com Arce
Em 2023, Evo e Arce entraram em rota de colisão. O presidente chegou a ser expulso do MAS em congresso do partido tomado por apoiadores de Evo e boicotado por Arce e seus apoiadores.

Ameaça de Zúñiga a Evo
O general Zúñiga diz que Forças Armadas são o "braço armado do povo e da pátria" e que deteria Evo se fosse o caso para que a Constituição fosse respeitada. Frase vista como ameaça derrubou o general nesta terça-feira.

Tentativa fracassada de golpe
Militares tomam a Praça Murillo, que inclui a sede da Presidência boliviana; Arce demite chefes das Forças Armadas, e novo comandante do Exército desmobiliza as tropas. Zúñiga é preso, mas acusa presidente de ter preparado autogolpe

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