Site coleta doações para Exército da Ucrânia vendendo mensagens em mísseis

Soldados fazem marcações em peças de artilharia e tanques e enviam fotos e vídeos para compradores

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Emma Bubola
The New York Times

Fazia um ano que o ucraniano Artem Poliukhovitch, 32, pensava em como pedir sua namorada em casamento. Ele imaginou se ajoelhar numa praia ou fazer a proposta num passeio de balão. Afinal, decidiu que o pedido seria escrito num projétil de artilharia da era soviética disparado contra militares russos.

"Pode ser considerada uma proposta agressiva, de certa forma", diz. Ela disse sim. Seu entusiasmo se equipara ao de outras pessoas —várias centenas, que pagaram milhares de dólares para ter suas mensagens escritas em cartuchos usados pelo exército ucraniano.

A guerra é com frequência impregnada de humor negro, e os soldados há muito tempo rabiscam grafites em munições destinadas ao inimigo. Vender essas mensagens marca uma virada criativa, embora macabra, nesse costume. Mais uma maneira encontrada pelos ucranianos de arrecadar fundos para resistirem à invasão pela Rússia.

Peça de artilharia ucraniana com mensagem comprada pelo site SignMyRocket - Reprodução

Um dos projéteis trazia a frase "Esta é uma bomba gay". Outro dizia: "Combater o fascismo é um trabalho em tempo integral". E outro foi assinado: "Do Vale do Silício, com amor".

Estas últimas etiquetas, por assim dizer, foram encomendadas pela signmyrocket.com, a mais proeminente de várias iniciativas de arrecadação de fundos no florescente setor de bombas personalizadas da Ucrânia.

A captação de fundos, que se autodenomina "correio de artilharia", foi criada por Anton Sokolenko, 21, estudante de tecnologia da informação, para compensar a queda nas doações ao Centro de Assistência ao Exército, Veteranos e Suas Famílias, instituição beneficente na qual ele se tornou voluntário em março.

Ele começou a atividade em um canal do Telegram e depois mudou para um site, para permitir que clientes internacionais tivessem acesso. Agora os pedidos vêm de todo o mundo, disse ele, com mais de 95% dos textos em inglês. O site diz que levantou mais de US$ 200 mil em doações para a entidade em menos de três meses.

Os compradores recebem fotos de sua mensagem no projétil. Por um preço mais alto, a instituição também fornece vídeos quando ele é disparado —"para mostrar aos amigos ou postar nas redes sociais", explicou Sokolenko.

No site, os usuários podem escolher uma arma, digitar a mensagem e depois fazer o pagamento. Os preços variam de US$ 150 (R$ 760) por uma frase num obus a US$ 3.000 (R$ 15,2 mil) por uma escrita na lateral da torre de um tanque.

O site diz que a entidade entregou mais de 200 marcadores permanentes aos soldados, que se ofereceram para escrever nas armas e fotografar o resultado em troca de carros, drones ou equipamentos ópticos que a instituição comprou em toda a Europa com os lucros. Sokolenko diz que a organização tinha muitos contatos nas Forças Armadas e que ele havia contatado os soldados por boca a boca.

Um porta-voz do Ministério da Defesa da Ucrânia não respondeu a pedidos de comentário.

Para algumas pessoas, comprar uma mensagem é uma forma de ajudar o Exército ucraniano e se sentir diretamente envolvidas no esforço de guerra. Para outras, é uma oportunidade de expressar sua raiva contra a Rússia.

Sokolenko descreve o processo como uma maneira informal de os pelotões militares se sustentarem.
"Não é muito oficial e não muito autorizado", diz. "Mas eles precisam fazer isso, porque podemos lhes dar coisas que nosso governo não pode dar agora."

Cristina Repetti, 32, que mora em Chicago, conta que ficou chocada com a ação do presidente russo, Vladimir Putin, e encomendou várias mensagens em projéteis para amigos e familiares. Ela expressa certo desconforto com a ideia de que as armas sejam usadas para matar soldados que podiam estar na guerra contra sua vontade, mas seu desejo de ajudar a Ucrânia foi maior. "Não posso simplesmente ficar sentada sem fazer nada."

Em um cartucho, ela encomendou a mensagem "Eu te amo Vinny", na esperança de recuperar o namorado. "Ele gosta de coisas românticas sombrias. E pensei que colocar nosso amor em um projétil que atingiria um tanque russo realmente causaria uma boa impressão."

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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