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México vê desaparecimento de 43 estudantes como 'crime de Estado' e prende ex-procurador

AMLO pede punição e divulgação do nome dos envolvidos em caso ocorrido há 8 anos, na gestão Peña Nieto

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Cidade do México | AFP e Reuters

O ex-procurador-geral do México Jesus Murillo foi preso, nesta sexta-feira (19), acusado de atrapalhar as investigações sobre o desaparecimento de 43 estudantes em 2014. Murillo, mais alto ex-funcionário público detido no caso, era quem supervisionava o inquérito, criticado por especialistas e pelo atual governo.

O ex-procurador atuou de 2012 a 2015, quando Enrique Peña Nieto liderava o país em um governo de centro-direita. Quando questionado sobre as investigações em torno de suas funções, Murillo se disse aberto a ser interrogado. Além de obstrução de justiça, ele responderá por tortura e desaparecimento forçado.

Murillo chegou a ser um nome de peso do Partido Revolucionário Institucional (PRI), que governou o México durante 71 anos ininterruptos, até 2000. A sigla disse, nesta sexta, que a prisão "responde mais a um assunto político do que judicial".

Então procurador-geral do México, Jesus Murillo, em entrevista coletiva na sede do órgão, na Cidade do México
Então procurador-geral do México, Jesus Murillo, em entrevista coletiva na sede do órgão, na Cidade do México - Yuri Cortez - 22.out.22 / AFP

O caso apura o desaparecimento de estudantes da escola Normal Rural de Ayotzinapa, a maioria dos quais adolescentes. Entre a noite de 26 de setembro e a manhã de 27 de setembro, o grupo seguia em direção à cidade de Iguala, no sudoeste do país, para embarcar em ônibus que os levaria a manifestações na capital do país.

De acordo com a versão do governo Peña Nieto, os alunos desapareceram em uma ação do cartel Guerreros Unidos, que teria os confundido com membros de um grupo rival. A organização criminosa, em seguida, teria incinerado os corpos em um lixão. Especialistas internacionais, porém, apontaram erros e abusos no inquérito.

Na quinta (18), o principal funcionário de direitos humanos do México, Alejandro Encinas, acusou o governo de encobrir o desaparecimento. Ele citou a relação de autoridades locais, estaduais e federais no episódio e classificou o episódio como um crime de Estado. Segundo ele, a gestão anterior "escondeu a verdade dos fatos, alterou cenas do crime e encobriu as ligações das autoridades com um grupo criminoso".

Desde eleito, o atual presidente, Andrés Manuel López Obrador, promete apurar a versão do antecessor e, se necessário, revelar o que teria de fato acontecido com os estudantes. Sob seu governo, autoridades emitiram dezenas de mandados de prisão, inclusive para militares e policiais. Elas também solicitaram a extradição de um ex-funcionário acusado de manipular a investigação, que está em Israel.

A prisão de Murillo ocorreu horas depois de AMLO pedir a divulgação dos nomes responsáveis pelo desaparecimento dos estudantes. "Revelar essa situação atroz, desumana e, ao mesmo tempo castigar os responsáveis, ajuda a não repeti-la. Que nunca mais ocorram esses eventos lamentáveis em nosso país."

Um dos jovens desaparecidos era informante dos militares, o que, segundo as autoridades, exigiria um protocolo específico para o inquérito —o procedimento, porém, não foi cumprido. Se tivessem feito isso, apontam, "o desaparecimento e o assassinato dos estudantes teriam sido evitados".

Apesar de buscas intensas, apenas três estudantes tiveram seus restos mortais identificados. Desde o desaparecimento, as famílias dos jovens demonstram esperança de que eles tenham sobrevivido. Na quinta, Encinas descartou a hipótese. "Os testemunhos e as evidências provam que eles foram assassinados e desapareceram astuciosamente", disse. "É uma triste realidade."

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