John Lee, o novo chefe do Executivo de Hong Kong, oficializou sua posse nesta sexta-feira (1º), dia que marca os 25 anos do retorno da ilha, uma ex-colônia britânica, para a China, com um discurso que dá o tom de sua embrionária administração. "Não vamos decepcionar o presidente Xi [Jinping]."
O líder do regime chinês, por sua vez, reiterou em sua fala o que já é visto na prática. "Manter o poder político nas mãos de patriotas é uma regra política comumente praticada no mundo", afirmou.
No ano passado, os honcongueses tiveram um exemplo claro do que Pequim estabelece como um filtro patriótico. A eleição legislativa foi marcada por baixa participação e ausência de nomes pró-democracia, resultado de uma reforma para que só os considerados patriotas pela China pudessem se candidatar.
"Nenhum povo permitirá que o poder caia nas mãos de forças ou indivíduos que não amam e que traem seu próprio país", reforçou Xi. Lee, responsável por comandar a ampla repressão contra os atos pró-democracia em 2019, quando chefiava a segurança local, assume o cargo na esteira da maior presença de Pequim em Hong Kong. Candidato único, foi eleito por comitê de partidários do regime comunista.
Ainda durante o discurso no Centro de Convenções e Exposições, comprometeu-se a seguir à risca a cartilha de tarefas enviada por Xi. A lista inclui o fortalecimento da governança e do desenvolvimento local, mas tem como ponto mais sensível a "manutenção da harmonia e da estabilidade".
O próprio Xi mencionou a eclosão dos atos que geraram centenas de prisões e exílios de ativistas. "Seja a crise financeira global, a Covid ou convulsões sociais internas, nada impediu o avanço de Hong Kong."
Como fez na véspera, o líder chinês concentrou seu discurso na defesa do modelo "um país, dois sistemas", acordado quando a ilha foi devolvida a Pequim e, em tese, responsável por garantir certa autonomia na região. O esquema, no entanto, foi desmantelado na prática devido ao avanço do controle chinês, das regras para as eleições às políticas de segurança pública.
Os discursos de Xi e Lee foram criticados por Taiwan —ilha autônoma, mas sem reconhecimento internacional e reivindicada por Pequim como província rebelde. O premiê Su Tseng-chang disse que a liberdade em Hong Kong desapareceu e que a China falhou em cumprir promessas acordadas há 25 anos.
"O chamado 'um país, dois sistemas' da China simplesmente não resistiu ao teste", afirmou ele. "Sabemos que devemos nos apegar à soberania, à liberdade e à democracia de Taiwan."
Críticas também ecoaram do Reino Unido, com o primeiro-ministro Boris Johnson afirmando que fará o possível para pressionar Pequim pelo cumprimento da promessa de que respeitaria o modo de vida dos honcongueses, com liberdade de expressão e imprensa, até 2047.
"Simplesmente não podemos evitar o fato de que, já há algum tempo, Pequim vem descumprindo suas obrigações", afirmou Boris em um vídeo. "É um cenário que ameaça os direitos e as liberdades dos habitantes de Hong Kong, mas também o progresso de Pequim."
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