Em nova escalada de tensões na Guerra Fria 2.0, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, instou Pequim a cessar o que chamou de "comportamento provocativo" no mar do Sul da China. A declaração foi feita nesta terça (12), quando se completaram seis anos de uma decisão de Haia que apontou que os chineses não têm base legal para reivindicar "direitos históricos" sobre a maior parte da região.
Blinken aproveitou a data para reforçar a presença americana na Ásia. Ele reiterou que Washington defenderá as Filipinas se o país for atacado por forças chinesas —em maio, o governo de Manila acusou Pequim de bloquear a operação de dois navios de patrulha de sua guarda costeira e prometeu uma resposta ao aumento da presença militar chinesa na região, que é considerada estratégica.
"Reafirmamos que um ataque armado às Forças Armadas filipinas invocaria os compromissos de defesa mútua dos EUA", escreveu Blinken em comunicado, referindo-se a um tratado firmado entre os países em 1951. "Pedimos novamente à República Popular da China que cumpra suas obrigações sob o direito internacional e cesse seu comportamento provocativo."
Na véspera, o ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, afirmou que os países devem evitar serem usados como "peças de xadrez" por potências globais em uma região que, segundo ele, corre o risco de ser remodelada por fatores geopolíticos. Em discurso ao secretariado da Asean (Associação das Nações do Sudeste Asiático) na Indonésia, o chanceler disse que nações asiáticas estão sob pressão para tomar partido. "O futuro da nossa região deve estar em nossas mãos."
Washington, em contrapartida, tenta coibir a influência chinesa. A vice-presidente Kamala Harris deve anunciar o estabelecimento de embaixadas dos EUA em Kiribati e Tonga, além da nomeação do primeiro enviado americano ao Fórum das Ilhas do Pacífico na história. O evento reunirá líderes de dez países nas ilhas Fiji com o objetivo de discutir acordos comerciais e de segurança oferecidos pela China.
O posicionamento firme de Pequim vem na esteira do aumento de exercícios militares nos últimos meses no mar do Sul da China, região estratégica para o comércio mundial e formada por mais de 250 ilhotas, recifes e pequenas massas de terra. Por ela, passam 80% do petróleo e do gás para a China.
As ações soaram como um desafio de Pequim a Washington, em um conflito que ganhou nova dimensão no mês passado, quando os chineses lançaram ao mar o Fujian, primeiro superporta-aviões. Estrategicamente, a prioridade do regime é dominar todo o entorno imediato, o que inclui também o estreito de Taiwan.
O aumento da tensão nos últimos dias destoa do tom mais sereno do encontro de cinco horas entre Blinken e Wang à margem da reunião do G20 em Bali. Ambos haviam afirmado que a primeira conversa presencial dos dois desde outubro foi sincera.
O chinês afirmou ter dito ao americano que ambos os lados deveriam discutir o estabelecimento de regras para interações positivas e defender o regionalismo na Ásia-Pacífico. "Os elementos centrais são [...] respeitar os direitos e interesses legítimos de cada um, em vez de tentar antagonizar ou conter o outro lado", disse Wang após o encontro.
Blinken afirmou ter usado a reunião para externar preocupação com o alinhamento da China com a Rússia, em meio à Guerra da Ucrânia.
Pequim reivindica o mar do Sul da China como seu território com base no que diz serem mapas históricos. Outros países da Asean refutam as reivindicações, que seriam inconsistentes com a lei internacional. Logo após a decisão do tribunal internacional em 2016, a China comunicou que não reconheceria a legitimidade da sentença. À época, os americanos temiam uma escalada da expansão chinesa na região.
Comentários
Os comentários não representam a opinião do jornal; a responsabilidade é do autor da mensagem.