O governo de Vladimir Putin anunciou nesta quinta-feira (3) a proibição dos trabalhos da rede de comunicação pública alemã Deutsche Welle na Rússia. As credenciais de jornalistas foram retiradas, e a sucursal, baseada em Moscou, será fechada. O Kremlin pretende, ainda, classificar a empresa como "agente estrangeiro".
A medida vem como retaliação após Berlim bloquear o canal da emissora estatal russa RT, devido a questões ligadas a licenças de transmissão. O Ministério das Relações Exteriores da Rússia descreveu a ação como hostil e disse que também impediria a entrada no país de autoridades alemãs que participaram da decisão.
Em resposta, a chancelaria alemã disse que a medida russa é infundada e fragiliza as relações entre os países. "Se essas medidas forem realmente implementadas, limitaria as reportagens independentes na Rússia, o que é importante em tempos politicamente tensos", disse um porta-voz da pasta.
Claudia Roth, ministra alemã da Cultura e da Mídia, classificou a ação contra a DW de inaceitável e pediu que Moscou não "abuse dos problemas de licenciamento da RT como uma reação política".
A tensão envolvendo o veículo público de radiodifusão se dá em meio à escalada da crise no entorno da Ucrânia, onde estão posicionadas tropas russas. A Alemanha tem assumido papel secundário nas negociações diplomáticas, uma vez que está atrelada à Rússia devido ao gasoduto submarino Nord Stream 2, que liga os dois países. O Kremlin informou, também nesta quinta, que uma viagem do premiê alemão, Olaf Scholz, a Moscou está prevista, mas sem data confirmada.
A Deutsche Welle disse que se manifestou formalmente contra o fechamento da sucursal. O diretor-geral da empresa, Peter Limbourg, afirmou que as medidas adotadas pelos russos são absurdas e se assemelham ao que a mídia profissional enfrenta em autocracias.
"Até que sejamos oficialmente notificados das medidas, continuaremos a informar de nossa sucursal em Moscou. Mesmo que eventualmente tenhamos que fechá-la, isso não afetará nossa cobertura sobre a Rússia —pelo contrário, nesse caso a fortaleceríamos significativamente."
A DW goza de licenças oficiais para transmitir dois canais de TV na Rússia desde 2005, um em inglês e outro em alemão, segundo informações da própria emissora. As licenças atuais expirariam em 2025 para o canal em inglês e em 2027 para o em alemão. Este segundo ainda transmite de duas a quatro horas de programação diária em russo, como exigem as condições para a concessão da licença.
Hendrik Wuest, governador da Renânia do Norte-Vestfália, estado alemão onde a DW está sediada, caracterizou a ação russa como um ataque à liberdade de imprensa e disse condená-la veementemente. A Associação Alemã de Jornalistas (DJV, na sigla em alemão) pediu que Putin retire imediatamente a proibição da DW. "Não há justificativa para essa medida drástica de censura", disse, em comunicado.
O anúncio de bloqueio das atividades da DW é a primeira medida do tipo contra um grande veículo de comunicação ocidental desde a dissolução da União Soviética, segundo a agência de notícias AFP.
Durante três décadas, Moscou não havia atacado jornais estrangeiros, ainda que Putin, no poder há 20 anos, tenha tomado progressivamente o controle do setor de comunicação do país. No ano passado, porém, um jornalista da rede britânica BBC e um repórter holandês foram expulsos da Rússia.
O prêmio Nobel da Paz de 2021 foi entregue a um jornalista russo, Dmitri Muratov, ao lado da filipina Maria Ressa. Muratov é cofundador e editor-chefe do Novaia Gazeta, um dos principais jornais de oposição ao governo de Putin. O comitê norueguês do Nobel descreveu o veículo como o mais independente da Rússia atualmente, e laurear o jornalista foi uma forma de acenar em defesa da liberdade de imprensa no país.
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